Crônica de um futuro possível

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Lia Calder e Thais Françoso: "Como bem disse Eduardo Galeano: 'Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar.'" (Crédito: Divulgação)

Por Lia Calder e Thais Françoso

Amigas celebram no tradicional encontro de fim de ano. Elas comemoram conquistas, lembram lutas e vitórias que, no mundo de hoje, são distantes, mas que, neste futuro utópico, já são realidade.

— Um brinde à aposentadoria das mães que realizam o trabalho doméstico! — anuncia Lucia, deputada em um Congresso em que 51% dos assentos são ocupados por mulheres. Ela se refere a uma recente mudança legislativa que garantiu o direito das mães à aposentadoria, mesmo que com reduzida contribuição, um avanço importante para a justiça social e o reconhecimento do trabalho invisível.

— E à economia também! — complementou Kim, presidente do conselho de uma das maiores instituições financeiras do Brasil. — A implementação de políticas públicas para remunerar o trabalho doméstico, somada à aposentadoria para mães, aumentou o PIB do Brasil em 6,5%.

Sarah, brinca: Tinha certeza que você traria um dado econômico no meio de uma comemoração feminista!
Gaby entra na conversa:

— E quem diria que a licença paternidade de cinco dias viraria licença parental universal?

Agora, 62% das empresas de capital aberto oferecem essa política, beneficiando pais e mães de forma igualitária. Monique, gestora pública de saúde, reflete sobre as mudanças culturais:

— O que refletiu diretamente na participação dos homens na criação dos filhos! Isso não apenas beneficia a infância, mas também impacta a saúde pública, com reduções no tabagismo precoce, obesidade infantil e até gravidez na adolescência.

Mariana, sempre atenta às questões de direitos das mulheres, suspira:

— Lembro do momento em que quase retrocedemos com aquele PL que buscava retirar o direito ao aborto nas situações já previstas por lei (estupro, por exemplo). Que alívio!

Isabella, ainda dividida, disse:

— Eu mesma demorei para entender, mas percebi que essa discussão envolvia saúde pública e o bem coletivo.
Sarah, provoca:

— Ah, mas aí você faz o que você quiser com a sua vida, né, amiga?!

O coletivo não tem nada a ver com a sua decisão.

Algumas risadas quando Isabella lembrou: ­— E quando eu tive aquele reajuste, por conta do relatório de transparência salarial? Aliás, nada como uma diretoria equilibrada em termos de gênero! — lembrando que a presença de mulheres nas decisões corporativas ajudou muito na contratação e permanência de mulheres na empresa na qual trabalha.

A conversa segue animada, e o garçom traz mais uma rodada de drinks. Elas brindam, não apenas a um futuro possível, mas a um futuro que, aos poucos, se torna realidade.

Esta conversa ainda não acontece, mas imaginá-la nos permite vislumbrar um caminho.

Como bem disse Eduardo Galeano: “Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar.”