Elas que lutem
Por Lia Calder e Thais Françoso
Em nossas vivências acadêmicas e profissionais é frequente participarmos de eventos e debates que discutem os direitos das mulheres, as desigualdades de gênero e as violências a que estão submetidas mulheres e meninas. Mais frequente ainda é a ausência de homens participando desses debates e discussões. Mulheres falam para mulheres, é a clássica do “elas que lutem”.
Chimamanda Ngozi Adichie, ao desconstruir a falácia de que o feminismo é um assunto de mulheres, em sua brilhante obra Sejamos Todos Feministas, define o conceito de feminista como “uma pessoa que acredita na igualdade social, política e econômica entre os sexos”, reconhecendo que “existe um problema de gênero e temos que resolvê-lo, temos que melhorar. Todos nós, mulheres e homens.”
Mas por que os homens não estão nos eventos para discutir igualdade de gênero? Por que não se manifestam por políticas públicas voltadas a fomentar a igualdade entre homens e mulheres? Por que não se manifestam quando se deparam com violências e abusos nos ambientes domésticos, sociais ou corporativos?
Mesmo homens que se reconhecem como defensores dos direitos humanos e da igualdade de gênero, ficam silentes, este é o padrão. Já falamos, em uma de nossas colunas, sobre o pacto de silêncio que se instaura em casos de assédio e violências dentro das organizações. Esse silêncio ou essa ausência se repete em todos os ambientes. Nos debates acadêmicos, nas empresas, na política ou em situações domésticas (com o famoso escudo do “em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher”). Esse é o cenário. Mas onde estão os aliados?
Uma pesquisa da Grand Thorton mostrou que dentro dos ambientes corporativos 77% dos homens se consideravam aliados das causas feministas, fazendo todo o possível para alcançar a paridade de gênero. Apenas 41% das mulheres concordaram que os colegas demonstravam tal postura. Ainda no mesmo estudo, 60% de todos os colaboradores que participaram da pesquisa disseram que é raro encontrar homens se manifestando contra a discriminação de gênero.
A pesquisa mostra que não basta ser. É preciso demonstrar. Tem que ter coragem para abrir portas e criar oportunidades, para nomear violências e apontar erros. É preciso vontade e valentia para mudar uma estrutura.
Aos leitores homens: isso começa pela tomada de consciência de que os privilégios de gênero são essenciais para a luta pelos direitos das mulheres. Por isso, não se omita e esteja aberto a conhecer e entender a vivência e opressão vividas pelas mulheres. Participe de discussões sobre o tema e aja junto a seus colegas homens. Ser aliado exige coragem, energia, tempo e conexões. A Luta pela igualdade de gênero é uma luta de toda a sociedade, lutemos juntos!