Lições olímpicas para os negócios
Por Lia Calder e Thais Françoso
Os jogos olímpicos de Paris se encerraram há duas semanas, mas muito ainda se pode falar sobre essa histórica edição, um marco simbólico da luta pela igualdade, que, desde a cerimônia de abertura, visibilizou grupos historicamente marginalizados.
Os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade cantados na La Marseillaise por Saint-Cirel, mezzo-soprano negra, foram lembrados ao longo de toda a cerimônia, como na homenagem à luta feminista por meio das estátuas às margens do Sena, a performance de atletas paralímpicos, o protagonismo queer em uma festa aberta, além da pira olímpica acesa conjuntamente por um homem e uma mulher.
As desigualdades de gênero sempre foram refletidas nas Olimpíadas ao longo da história. Paris, entretanto, mostrou que a lente de gênero foi incluída desde a concepção do evento, marcando o primeiro ano em que se atingiu a paridade na distribuição de vagas entre homens e mulheres. O planejamento do calendário das competições, por exemplo, foi elaborado de modo a dar visibilidade equivalente às modalidades femininas e masculinas, garantindo uma cobertura midiática equilibrada. Nas bancadas de comentaristas, a participação de mulheres praticamente dobrou em relação aos jogos de Tóquio.
Além da emoção que os jogos trazem, esta edição nos deixa algumas boas lições: a primeira é que incluir as lentes de gênero na estruturação de qualquer iniciativa é crucial para mitigar os impactos de uma sociedade desigual, patriarcal e misógina.
A segunda é que o aspecto discursivo precisa estar alinhado ao estrutural. Para ilustrar: cinegrafistas responsáveis pela captação de imagens foram orientados a registrar as cenas que valorizassem a prática esportiva e não a estereotipização dos corpos femininos.
O valor da representatividade é a terceira lição. Mulheres no podium inspiram e incentivam novas gerações de meninas.
Esses pontos são valiosos e aplicáveis nas empresas. Enquanto não introduzida uma perspectiva de gênero no desenho de programas e iniciativas e na avaliação do impacto que as decisões e as políticas têm na promoção da igualdade entre homens e mulheres nas organizações, não vamos atingir ambientes que possam, de fato, garantir a permanência e ascensão de mulheres.
Hoje a liderança de empresas não conta com mais do que 39% de mulheres. E quanto mais se sobe na pirâmide hierárquica, mais rarefeita é a presença delas, chegando a menos de 4% entre presidentes de empresas ou CEOs do Ibovespa. Portanto, pensar sob a perspectiva feminina, avaliando os impactos que determinadas ações têm para promover igualdade é o único caminho, foi o que Paris nos mostrou.