Polarização estimulada
Por Cristiano Noronha
“A partir de 1o de janeiro de 2023, vou governar para 215 milhões de brasileiros e não apenas para aqueles que votaram em mim. Não existem dois Brasis. Somo um único País, um único povo, uma grande nação.” Eis um trecho do primeiro pronunciamento do presidente Lula em 2022, logo após o segundo turno das eleições. Há alguns dias, porém, ele declarou que não precisa “prestar contas a nenhum ricaço” e a “nenhum banqueiro” no Brasil, acrescentando que seu dever, nesse sentido, é com “o povo pobre”.
Um dos pontos fundamentais da democracia é que todos são iguais. Um cidadão, um voto. Ninguém vale mais que outro quando escolhe seu representante. Da mesma forma, os representantes do povo também devem prestar contas a todo o Brasil, sem distinção de cor, credo, raça, religião ou situação econômica. No mesmo discurso citado acima, Lula também afirmou que “a ninguém interessa viver num País dividido”.
Lula, contrariando as próprias palavras, mantém o clima de Fla X Flu. A polarização política é um fenômeno em expansão em várias democracias ao redor do mundo, incluindo países como o Brasil e os Estados Unidos. O fenômeno se refere à crescente divisão e hostilidade entre diferentes grupos políticos dentro de uma sociedade, o que resulta em um ambiente político mais fragmentado e conflituoso.
As consequências da polarização são ruins. Primeiro, ela dificulta a cooperação entre grupos políticos diversos, tornando o processo legislativo mais moroso e emperrando a implementação de políticas públicas. Segundo, diminui a confiança da população nas instituições democráticas, como o Judiciário, a mídia e os órgãos governamentais. Por fim, a polarização pode levar a conflitos sociais violentos, protestos e até tentativas de golpe.
Entre as alternativas para ajudar a reduzir a divisão estão o incentivo ao diálogo entre grupos antagônicos e a promoção de políticas de compromisso — o oposto do que o presidente tem feito. Em seu primeiro mandato, sob críticas, é verdade, Lula criou o Conselho de Desenvolvimento Social e Econômico. Funcionou como um colegiado entre setores distintos da sociedade. Hoje, devido ao clima de divisão e à baixa prioridade dada ao grupo, ele tem contribuído pouco para diminuir a temperatura do Brasil.
O ex-presidente Michel Temer, em várias oportunidades, tem falado da necessidade de se pacificar a Nação. Em recente entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, afirmou que há uma distância entre a palavra e a ação de Lula nessa direção. Na avaliação de Temer, Lula não tem conseguido governar para todos os brasileiros.
A polarização é um desafio significativo para as democracias modernas, pois ameaça a coesão social e a eficiência governamental. Iniciativas que estimulem o diálogo e a cooperação são essenciais para a saúde das democracias no século XXI. Como líder máximo da Nação, cabe ao presidente essa tarefa.