Relação conflituosa

Estamos chegando ao sexto mês de governo e a atual gestão está trabalhando para reverter o quadro de insatisfação junto ao Congresso Nacional. Em geral, todo governo tem início em meio a uma espécie de período de graça com o Parlamento. É o chamado “período de lua de mel”. Mas não se pode falar sequer que esta administração viveu essa lua de mel, considerando-se a ausência de votações relevantes desde então. O ceticismo em relação ao governo não existe apenas no Parlamento, também é detectado no mercado financeiro. Pesquisa Genial/Quaest (10 de maio) apontou que 86% das pessoas nesse nicho fazem uma avaliação negativa do governo Lula. Somente 2% têm uma avaliação positiva, enquanto 12% dizem que a gestão Lula 3 é regular.

Em relação aos investidores estrangeiros, percebe-se também certa perda de ânimo em relação ao Brasil. O resultado é que outros países emergentes e nações asiáticas têm atraído mais investimento estrangeiro do que o Brasil. No Congresso, os parlamentares se ressentem com a falta de participação em discussões sobre políticas públicas relevantes. O Congresso não concorda com alterações em normas discutidas e aprovadas após anos de debates, caso do marco do saneamento e da privatização da Eletrobras. Lula venceu as eleições não porque a sociedade queria retomar tais debates, mas por conta da alta rejeição do seu principal adversário, o ex-presidente Jair Bolsonaro. E Lula tenta mudar à força decisões já estabelecidas, seja por decreto, seja pela via da judicialização.

No Parlamento não haverá acordo sobre alterações em normas já aprovadas como
a privatização da Eletrobras ou Marco do Saneamento, conforme deseja o governo

Quando o presidente esteve na Inglaterra, no lugar de discorrer sobre uma agenda positiva, ele aproveitou para criticar o Banco Central e a privatização da Eletrobras. Alguns investidores ponderaram que se ele deu destaque
a esses pontos, era porque não tinha nada mais positivo para falar.

Lula está governando com o olho no retrovisor. Mesmo quando reconhece a existência de problemas na coordenação política e tenta consertar o governo está deixando sequelas. A insatisfação permanece após a liberação de emendas e o destravamento de algumas nomeações. Isso porque, na visão de certos parlamentares, o governo passa a impressão de que o Congresso não quer discutir conteúdo, quer apenas fazer chantagens para obter vantagens. Lula continua falando somente para seus eleitores. Como não há convergência entre a pauta do Executivo e a do Legislativo, salvo em poucos pontos, como marco fiscal e reforma tributária (ainda assim com ressalvas importantes), essa relação tende a permanecer conflituosa por algum tempo, com altos e baixos.