Economia

Bancos apostam em gestão de grandes fortunas

Os bancos tradicionais do Brasil estão ampliando suas operações para atender exclusivamente as famílias de alta renda – os chamados super-ricos –, proporcionando atendimento e serviços personalizados

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Grandes instituições financeiras buscam diversificar sua carteira de investidores de olho nos endinheirados (Crédito: Istockphoto)

Por Mirela Luiz

O mercado de gerenciamento de grandes fortunas tem se mostrado cada vez mais atraente. Bancos tradicionais, como Bradesco, Itaú e Santander têm se aventurado nesse segmento, evidenciando o potencial desse tipo de atendimento. E, olhando para movimentos globais, o Goldman Sachs, um dos maiores nomes do mercado financeiro, também vem redirecionando suas estratégias para concentrar atenção nos milionários.

“É bastante compreensível esse movimento, pois, ao abrir mão da gestão de investimentos pessoais de varejo, o Goldman Sachs passa a ser capaz de obter uma margem de lucro maior. Aí está uma das razões da atratividade desse mercado. Outra razão é ter a capacidade de prover um atendimento mais personalizado para cada cliente”, avalia Luiz Felipe Baggio, consultor jurídico, especialista em Planejamento Sucessório, Proteção Patrimonial e Family Office, e co-fundador da Evoinc.

Gestoras de fortunas têm se multiplicado no Brasil, impulsionando o crescimento de fusões e aquisições no setor. De acordo com a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), o Brasil possui atualmente 141 empresas independentes que administram um total de R$ 460,4 bilhões em fortunas.

Além disso, no primeiro semestre deste ano, trinta novas gestoras de patrimônio foram abertas no País. “O principal objetivo da gestão de grandes fortunas é garantir a preservação não só do patrimônio, mas também do poder de compra desse grande volume de dinheiro”, explica Marcus Cardone, diretor de alocação de ativos e fundos da Improve Wealth Services.

Bradesco e Santander ampliam seus serviços visando atendimento personalizado para a elite brasileira (Crédito:Divulgação)
(Divulgação)

Em meio à crescente competição pelo mercado de clientes endinheirados, o Itaú Unibanco intensifica seu investimento em private banking global e amplia seu quadro de especialistas para atender um publico seleto e exigente.

Esta expansão está alinhada com a ambição do Itaú de estender seu alcance internacional, tendo como meta alcançar a marca de R$ 1 trilhão em private banking nos próximos anos. Os novos contratados se juntam à equipe para atender clientes que possuem ao menos R$ 15 milhões investidos e aqueles com fortunas a partir de R$ 80 milhões aplicados, conhecidos como “high net equity” e “ultra high net worth” no jargão de mercado, respectivamente.

O Bradesco também não fica atrás e acaba de criar uma gestora para atender exclusivamente as famílias afortunadas no Brasil, cuidando até mesmo dos gastos com jatinhos dos ultrarricos.

Este segmento era a última lacuna que o banco precisava preencher para se reposicionar em segmentos de alta renda. A meta do Bradesco é que a participação no mercado de private banking cresça dos atuais 22% para 30% até 2026.

Alisson Ramos, da Improve Wealth Services (Crédito:Divulgação)

“Os bancos estão reforçando essa oferta para os clientes super-ricos, uma vez que os profissionais independentes vêm ganhando muito mercado e as grandes instituições perdendo contas importantes.”
Alisson Ramos, diretor de serviços patrimoniais da Improve Wealth Services

Diferente do Itaú, a aposta do Bradesco é em uma gestora, não em uma consultoria. Como gestora, o banco tem mais liberdade para gerenciar os recursos e também oferecer produtos mais sofisticados, que apenas investidores institucionais têm acesso.

“Na verdade, as grandes instituições brasileiras sempre ofereceram serviços de gestão de patrimônio dentro do seguimento como Private e UHNW. Atualmente estão reforçando essa oferta para os clientes, uma vez que os profissionais independentes vêm ganhando muito mercado e essas grandes instituições perdendo contas ou parte de contas importantes”, afirma Alisson Ramos, diretor de serviços patrimoniais da Improve Wealth Services.

Esta corrida para atender o segmento mais rico do mercado financeiro mostra um novo direcionamento dos grandes bancos, que buscam equilibrar ativos dentro de uma estratégia de estabilidade e crescimento. O private banking e o family office são segmentos resilientes a crises e garantem uma base sólida para os bancos em tempos de incertezas econômicas. “Como esse é um mercado de multisoluções e multiprodutos é muito rentável para o banco, principalmente porque acaba oferecendo soluções próprias, onde sua margem pode ser ainda maior”, analisa Alisson.