Brasil

O pragmatismo de Lula: na ida à COP28, sai em busca de petrodólares

Com a ambição de turbinar o Novo PAC, Lula aproveita viagem ao Oriente Médio rumo à COP28 para buscar parcerias comerciais com governos e empresas de países produtores de petróleo. Arábia Saudita estuda investir US$ 9 bilhões até 2030

Crédito: Ricardo Stuckert / PR

Lula e Mohammed bin Salman: príncipe saudita promete ajudar Brasil também em projetos sobre transição energética (Crédito: Ricardo Stuckert / PR)

Por Gabriela Rölke

No Oriente Médio para participar, em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, da COP28, a conferência do clima da ONU que começou na quinta-feira, 30, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) aproveitou a viagem para fazer uma espécie de peregrinação por países de economia petroleira da região em busca de parcerias para tentar atrair investimentos bilionários para o Brasil.

Na Arábia Saudita, maior produtor de petróleo do mundo, encontrou-se com o príncipe herdeiro e primeiro-ministro Mohammed bin Salman. O país saudita estuda investir US$ 9 bilhões (R$ 45 bilhões) até 2030 em projetos previstos no Novo PAC, em especial para obras de infraestrutura ligadas ao transporte, mas também em projetos sobre transição energética.

Juntamente com companhias sauditas, o governo daquele país assinou com a Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer) três memorandos de entendimento no setor aeroespacial, com foco em aviação civil, defesa e segurança.

Ao lançar o Novo PAC, o governo Lula anunciou que desejava garantir investimentos da ordem de R$ 1 trilhão em quatro anos. Mas para chegar a esse montante, o governo brasileiro depende de Parcerias Público-Privadas (PPPs), já que menos de um quarto desse valor sairá dos cofres da União. Daí o interesse nos petrodólares.

A Arábia Saudita é o maior parceiro comercial do Brasil no Oriente Médio: as importações e exportações entre os dois países movimentam US$ 5,6 bilhões por ano, e Brasília e Riad falam em duplicar, até o final da década, o comércio bilateral.

Para os investimentos no Novo PAC, os dois países estudam criar um fundo comum com recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e dos sauditas. O presidente brasileiro também esteve em Doha, no Catar, onde se reuniu com o emir Tamim bin Hamad al Thani.

Alexandre Silveira (à esq.), do Ministério das Minas e Energia, assina memorando de entendimento com sauditas para petróleo e gás (Crédito:Ricardo Stuckert / PR)

O presidente brasileiro espera contar com investimentos dos sauditas em especial para desenvolver novas tecnologias que possam fazer o País avançar na energia limpa (eólica, solar e hidrelétrica). Mas esse não é o único foco.

Também na comitiva presidencial, o ministro Alexandre Silveira, titular da pasta das Minas e Energia, assinou um memorando de entendimento com o Ministério de Energia da Arábia Saudita para cooperação em projetos de petróleo e gás, além de energia renovável.

Pode soar como contrassenso o fato de Lula aproveitar a viagem para a COP28, cujo principal ponto em debate é o destino dos combustíveis fósseis frente à emergência climática, e pedir dinheiro justamente a países produtores de petróleo para, entre outros pontos, ajudar o Brasil no seu compromisso com a transição para uma nova matriz energética limpa. A aparente contradição de contar com o dinheiro desses países para essa finalidade ficou ainda mais evidente na fala do presidente sobre o compromisso brasileiro de contribuir para “descarbonizar o planeta”. “Daqui a dez anos o mundo vai dizer que, se a Arábia Saudita é o país mais importante na produção de petróleo e gás, o Brasil será chamado de a Arábia Saudita da economia verde.”

“Se a Arábia Saudita é o país mais importante na produção de petróleo e gás, o Brasil será chamado de a Arábia Saudita da economia verde.”
Presidente Lula

O encontro de Lula com Mohammed bin Salman, que em 2021 presenteou a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) com um conjunto de joias avaliado em R$ 5,6 milhões, também gerou críticas porque o príncipe herdeiro conduz o país com mão de ferro e reprime dissidentes com extrema violência.

Em 2018, um ativista que criou um blog para contestar a monarquia foi condenado a dez anos de prisão e a mil chibatadas.

Naquele mesmo ano, um jornalista saudita crítico ao regime, que era colunista do “Washington Post”, foi assassinado e esquartejado depois de entrar no consulado da Arábia Saudita em Istambul, na Turquia.

Mas o Brasil recebe em 2025 a COP30, a ser realizada em Belém, no Pará, e Lula, que tem metas ambiciosas para o meio ambiente, vai precisar desse dinheiro se quiser atingir seu objetivo de fazer do País “o centro do mundo na produção de energia alternativa”. Mohammed Bin Salman foi convidado pessoalmente pelo brasileiro para, por ocasião da cúpula, conhecer a Amazônia.