Economia

Faturamento de peso

O mercado plus size tem apresentado um crescimento bilionário nos últimos anos e continua a se expandir. A estimativa da OMS é que, até 2025, 700 milhões de pessoas no mundo terão necessidade de utilizar manequins cada vez maiores

Crédito: Riachuelo/divulgação

EXPANSÃO Unidade fabril em Natal-RN da Riachuelo produz roupas para as duas linhas especializadas em tamanhos grandes (Crédito: Riachuelo/divulgação)

A moda plus size está em evidência e se apresenta como um segmento promissor no mundo todo. No Brasil, a perspectiva de crescimento é de 10% este ano. Nos EUA, o mercado está mais avançado, com algumas marcas já consolidadas, e atualmente é uma indústria que movimenta US$ 29 bilhões anuais. “É importante ressaltar que o mercado plus size vai além da simples oferta de roupas. Busca promover inclusão, autoestima e aceitação corporal, aumentando a demanda e a procura por marcas que os atendam”, explicou o especialista em gestão de negócios varejistas, Cléber Brandão. De acordo com a Associação Brasil Plus Size (ABPS), que acompanha o consumo desse tipo de produto, o setor prevê uma movimentação financeira de R$ 15 bilhões em faturamento até 2027. Segundo Marcela Elizabeth, presidente da entidade, esse é um mercado que está em ascensão, em primeiro lugar devido à crescente população que ‘está usuária’ de vestuário plus size, com maior representatividade na internet e televisão.“Todos esses fatores ajudam as pessoas a se afirmarem em relação ao seu corpo, o que forçou as empresas a aumentarem a grade para numeração maior, ou mesmo a criação de marcas exclusivas de moda plus size”, acrescentou.

Durante a pandemia, o setor ganhou força, chegando a movimentar R$ 9,6 bilhões em 2021. O motivo dessa alavancagem se deu por conta das mudanças na percepção e comportamento dos consumidores, que aproveitaram o tempo livre para consumir conteúdos de empoderamento, exigindo maior diversidade de peças que atendem aos usuários. Parte desse movimento já pode ser visto nas grandes lojas varejistas de vestuário, que expandiram seus negócios para atender à crescente demanda reprimida que as pequenas lojas online já haviam identificado. Algumas dessas companhias, como Lojas Marisa, Renner e Riachuelo, criaram suas marcas específicas e a C&A ampliou o portfólio que, atuando em nichos do mercado, facilitou o acesso a consumidores que antes precisavam peregrinar para encontrar algo satisfatório. “Atualmente, todas as nossas lojas atendem ao público plus size. Essa revolução no mercado aconteceu de forma gradual, ano após ano, desde o início da implementação da nossa linha de roupas com tamanhos maiores em 2016, registrando um crescimento de 253% até 2020”, informou Cláudia Albuquerque, diretora de Compras e Estilo da Riachuelo.

29 bilhões de doláres foi o faturamento do mercado nos EUA em 2021

Outro fator importante para o crescimento do mercado se dá pela alimentação da população, que não dispõe de tempo suficiente para o preparo de refeições mais saudáveis e recorre à fast foods e preparos mais rápidos, o que geralmente são mais engordativos. Isso se intensificou durante a pandemia, principalmente com o crescimento das opções de entregas por delivery e redução da prática de esportes devido ao confinamento. De acordo com o Ministério da Saúde, no Brasil são mais de 6,7 milhões de obesos.

Essa condição impulsiona o mercado e, ainda de acordo com a ABPS, o crescimento nos últimos 10 anos foi de 75,4%, com previsão de aumento de 10% ao ano. Atualmente, cerca de 25% do volume movimentado pelo varejo de vestuário já dispõe de tamanhos plus size e há muito espaço para crescer. Criada em 2018, a Tjama, empresa de Tiago Abravanel e suas irmãs Ligia e Vivian, também nasceu da necessidade de ampliar as opções de roupas e ter uma marca inclusiva para todos os tamanhos e modelagens. “Foi perceptível o crescimento do mercado plus size e a chegada ao mercado dos adeptos à moda. Nós gostamos de produzir as nossas coleções, sempre pensando em todos os públicos. Vimos a importância nesse segmento porque sempre sentimos a necessidade de peças que se adequassem aos nossos corpos”, afirma a sócia proprietária da Tjama, Lígia Abravanel.

10% é a taxa anual de crescimento do mercado interno brasileiro

Negócio próprio

Mesmo com o avanço do segmento dentro dos grandes lojas de varejo de moda, segundo especialistas, o volume de pessoas que continua sem encontrar peças com tamanho adequado ainda é grande. E foi por conta de muitos pedidos de seus clientes que a Art Rock, confecção de Campinas que existe há 30 anos, ampliou a numeração de seus produtos. “Temos uma linha de camisetas dirigida ao universo do rock e sempre éramos cobrados para que ampliássemos as opções de numeração. Então, por volta de 2017, passamos a fabricá-las e o crescimento tem sido gradativo”, conta Antonio Donizete Carvalho, diretor da marca.

CONFORTO E DIVERSIDADE Costureiras e estilistas fazem os últimos acabamentos da linha contemporânea de pijamas da marca Tijamas (Crédito:André Lessa)

9,6 bilhões de reais de faturamento do mercado brasileiro em 2021

O último levantamento da ABPS também aponta que 97% do setor ainda é composto em razão da ascensão de empreendedores que decidiram montar o próprio negócio, a partir da sua própria dificuldade em encontrar peças que tivessem um bom caimento para o seu corpo. “Sou gordinho e minha vontade nasceu pela minha necessidade e por ver que naquela época, há dez anos, quase não havia opções. Meti a cara e deu certo. Faço roupas sob medida. Conquistei uma clientela fiel e famosa. Nesses últimos dois anos meu faturamento aumentou 70%”, orgulha-se Bruno Back.