A tecnologia é um milagre

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Mentor Neto: "Um viva para todos que mantém a energia fluindo" (Crédito: Divulgação)

Por Mentor Neto

Sou de Humanas.

Entendo patavina de física, química e os conceitos mais rudimentares de matemática me causam reações cutâneas.

Apesar de ser um grande curioso e usuário de tecnologias modernas, me transformo num ser medieval quando tento entender as conquistas que tornam a vida moderna tão confortável

Por exemplo, sempre que passo por essas lojas de eletrônicos, com aquelas paredes repletas de TVs coloridas, finas como um cigarro, transmitindo a mesma imagem de um jogo de futebol acontecendo ao vivo na Europa, faço um discreto sinal da cruz, porque desconfio que só possa ser obra do capiroto.

Ou pegar uma caixinha no bolso, que não esta ligada a nenhuma tomada e realizar uma chamada de vídeo para um sujeito na Austrália? Magia. Certeza.

Mas não são apenas essas pequenas realizações cotidianas que tenho dificuldade de compreender.

Toda vez que vejo aviões, com suas fuselagens gigantes, pneus do tamanho de um hipopótamo, painéis de instrumentos repletos de reloginhos, mesmo sabendo que está tudo amplamente documentado na física mais básica, continuo maravilhado como se esse fosse um mistério inexplicável.

Um dos maiores feitos do homem.

E da mulher também, antes que me cancelem.

E ainda tem gente capaz de brigar com comissários de bordo porque acabou a opção de filé e agora só tem espaguete.

Ora, por favor, que gente infeliz.

A fragilidade de todo conforto que nos cerca

Levar você até Paris dentro de uma Kombi que voa entre as nuvens é uma conquista tão incrível, que desconfio – em silêncio para não assustar ninguém – que aviões caírem deveria ser a regra e não a excessão.

Um viva para todos que mantém esses trambolhos voando.

Tem mais.

Nesses tempos de chuva, raios e ventos, mais uma conquista do pessoal de Exatas deveria ser aplaudida, porque a engenharia elétrica também é outro mistério.

A sensação é de deslumbre quando vejo a profusão de cabos numa intrincada trança compondo a infraestrutura de distribuição de energia elétrica em nossas cidades.

Aí chove, venta e pimba!

Cai a luz como aconteceu recentemente.

Imediatamente vem a revolta contra empresas responsáveis pelo serviço.

Sério isso?

Será que estamos tão acostumados com a magia que esquecemos de como é complexo levar 110 ou 220 volts para cada tomada da sua casa, faça sol ou faça…

Enfim, você entendeu.

E o sujeito que reclamou do espaguete agora está bravo porque ficou sem poder usar sua máquina de pipoca, faça-me o favor.
Pior.

Quererem culpar os heróis que mantêm essa rede no ar diuturnamente, quando é evidente que esses problemas ocorrem por uma combinação de infinitos fatores e responsáveis.

Basta olhar para a fiação de qualquer cidade.

O caos impera de poste para poste.

Quem não viu aquelas fotos assustadoras de “gatos” com milhares de conexões ilegais?

Aliás, não tem coisa mais terceiro-mundo do que essa poluição visual de cabos flutuando sobre as nossas cabeças.

Da mesma forma que desastres de avião são o resultado de uma cadeia de erros sucessivos, a queda de luz também resulta da combinação de diversos problemas.

Uma tempestade perfeita. Ou imperfeita, no caso.

Começa que as redes elétricas das nossas cidades são tão velhas que por pouco não foram instaladas antes da invenção
da própria eletricidade.

E ainda tem as árvores que, por aqui, crescem num ritmo de floresta tropical e aparentemente são impossíveis de serem podadas, causando uma profusão de galhos enrolados aos cabos condutores.

Árvores que, com o vento, são arrancadas pela raiz, imagine só.

Faz a gente desconfiar de como é possível que isso tudo funcione.

Milagre, só pode.

Então, quando acaba a luz, fico quietinho meditando, esperando que o conforto volte.

Um viva para todos que mantém a energia fluindo.

Quando não chove, claro.