Comportamento

Brasil está de olho em outro futebol; entenda

A poderosa National Football League (NFL), liga de futebol americano dos EUA, desembarca no país para realizar eventos, fidelizar cerca de 35 milhões torcedores existentes e solidificar o esporte como nova paixão nacional

Crédito: Victor Francisco

Atletas da seleção brasileira de futebol americano treinam para disputa da Copa Sul-Americana de FA (Crédito: Victor Francisco)

Por Alan Rodrigues

Entre os dias 27 de novembro e 4 de dezembro, o Brasil sediará a Copa Sul-Americana de futebol americano. O evento, que acontecerá em Brasília, reunirá as equipes nacionais de Brasil, Chile e Colômbia. O momento da disputa é ótimo para os fãs, os cartolas, os empresários e atletas do FA. “É uma competição que vai preparar os nossos atletas para a fase classificatória do mundial de 2025, que acontecerá na Alemanha”, explica Cristiane Kajiwara, presidente da Confederação Brasileira de Futebol Americano (CBFA). “Quero fazer a competição entrar para a história do esporte na América do Sul”, diz.

Os jogos com a bola oval têm mexido com os brasileiros. O sonho de Cristiane do torneio servir de exemplo para o Brasil sediar algo maior é o desejo de dez em cada dez dirigentes do esporte no país. A aspiração dela não é devaneio.

“Somos o terceiro maior público consumidor da National Football League (NFL) no mundo”, diz ela. De acordo com a pesquisa Sponsorlink, o número de brasileiros que acompanham FA cresceu 117% nos últimos cinco anos. “Ocupamos a terceira colocação na lista de maiores consumidores da liga, segundo pesquisa do Global Web Index – atrás somente do México e, é claro, dos Estados Unidos, mas à frente de Inglaterra e Alemanha, que já recebem partidas oficiais da NFL”, diz Cristiane.

Escrete feminino do Brasil, que teve a liderança de Geovanna Milena (81), vence as americanas (Crédito:Grasiela Gonzaga)

Segundo o IBOPE Recupom, o Brasil tem 35,4 milhões de fãs – há 10 anos, esse número era de 3 milhões. “Considerando esportes coletivos em primeira divisão, o futebol americano, com a Liga BFA, é o único esporte com representantes de todas as regiões do país”, afirma o empresário e comunicador Victor Romualdo Francisco, proprietário da maior plataforma de mídias destinada ao FA no Brasil, Salão Oval.

Ex-jogador do Corinthians Steamrollers e muito fã do esporte, Victor acredita que a Copa Sul-americana é mais uma importante jogada da CBFA para aproximar o público do esporte. “Apesar do FA ser amador no Brasil, ele se compara a um nível médio europeu”, explica o empresário do Salão Oval.

A fim de popularizar o esporte, a entidade maior do FA no país recebeu no início do mês a visita de representantes da liga norte americana NFL para conhecerem os estádios dos três principais clubes de São Paulo – o Morumbi, a Neo Química Arena e o Allianz Parque – e bolarem uma possível adaptação dos espaços para uma partida oficial da NFL.

A ideia é trazer um jogo da temporada regular do Miami Dolphins contra outro time. “O Dolphins foi o time designado para explorar o marketing com o esporte no Brasil”, afirma Victor. Além da capital paulista, a cidade do Rio de Janeiro também tem interesse em realizar evento do mesmo porte.

“Apesar do FA ser amador no Brasil, ele se compara a um nível médio europeu.”
Victor Francisco, empresário do Salão Oval

Victor Francisco, empresário do Salão Oval (Crédito:Divulgação)

Indefinições à parte, o certo é que o esporte está sendo praticado a todo vapor no Brasil, com campeonatos estaduais e até mesmo duas competições nacionais (Liga BFA e Brasileirão CBFA). São mais de 18 mil jogadores registrados na CBFA e dezenas de atletas de outros países, como norte-americanos, estão na disputa.

O que não dá garantia de superioridade. Para se ter uma ideia da evolução do FA no país, na última semana de outubro, na partida entre Recife Mariners e João Pessoa Espectros – o maior clássico FA do Brasil –, o Mariners, com um quarterback brasileiro, ganhou do Espectros, capitaneado por um quarterback norte-americano.

“Isso comprova que o nível dos brasileiros está melhorando bastante. Não é qualquer americano mais que chega aqui e faz a festa”, diz Victor.

Outra grande surpresa no esporte, e que mostra a evolução dos atletas, foi a vitória gigante das “Onças” – nome da seleção brasileira (algo como seleção canarinha) – sobre as jogadoras norte- americanas que atuam na American Football Events (AFE).

O amistoso terminou com o triunfo das Onças, de virada, por 10 a 6. “Derrotar a  americanas no esporte que elas inventaram e vivem a cultura, no primeiro confronto da história, não tem preço”, comemora Geovanna Milena da Silva. Estudante de psicologia em Curitiba, ela é jogadora da seleção brasileira desde 2017 como defensive end. “No começo, eu assistia aos jogos e nem sabia para que lado a bola tinha que ir”, diz, entre gargalhadas.