Super-heroínas trazem renovação e desgaste ao mesmo tempo; entenda
Novo filme da Marvel reúne apenas super-heroínas, mas vai mal na bilheteria. Culpa delas? Nada disso. O mais provável é o desgaste provocado pelo excesso de produções do gênero

Iman Vellani, Brie Larson e Teyonah Parris: elas brilharam na estreia, mas não nas bilheterias (Crédito: Laura Radford. © 2023 MARVEL.)
Por Felipe Machado
A primeira super-heroína das histórias em quadrinhos surgiu no início dos anos 1940, embalada pelo sucesso do Super-Homem, personagem criado pela dupla Joe Shuster e Jerry Siegel em 1938. O contexto político da época era propício, uma vez que as mulheres vinham sendo atendidas em importantes reivindicações sociais, entre elas o direito ao voto e a permissão para trabalhar fora de casa sem autorização do marido. Esse protagonismo feminino, nos EUA, veio de uma necessidade pontual da sociedade: com toda uma geração de jovens lutando na Segunda Guerra, era necessário que as mulheres ocupassem atividades até então restritas aos homens.
Aproveitando o momento, o psicólogo e ativista dos direitos humanos William Moulton Marston criou a Mulher-Maravilha, espécie de versão feminina do Super-Homem. A amazona inspirada nas guerreiras da mitologia grega já nasceu como símbolo feminista. “Ela é uma propaganda psicológica para o novo tipo de mulher que deveria governar o planeta”, afirmou Marston, na apresentação do personagem. Apesar do sucesso, levaria mais vinte anos até Stan Lee apresentar outra super-heroína feminina: a telepata Jean Grey, uma das mutantes que formavam o grupo X-Men.
O número de super-heroínas cresceu. Além da Mulher-Maravilha, que apareceu repaginada em uma série de filmes estrelados pela atriz Gal Gadot, conquistaram o público as poderosas:
• Viúva Negra,
• Arlequina,
• Super-Girl,
• Vespa,
• Mulher Invisível,
• Tempestade;
A lista é longa. A maior aposta da Marvel nesse universo feminino acaba de estrear nos cinemas: The Marvels é um trio de super-heroínas formado pela Capitã Marvel (Brie Larson), Kamala Khan (Iman Vellani) e Monica Rambeau (Teyonah Parris). Atrás das câmeras, outra mulher: Nia DaCosta é a primeira negra a dirigir uma superprodução da Marvel.
Apesar do bom roteiro e do carisma da protagonista Brie Larson, a produção não foi bem em seu fim de semana de estreia. Faturou US$ 47 milhões nos cinemas dos EUA e Canadá, abaixo das previsões iniciais.
Isso faz de The Marvels a pior bilheteria do estúdio desde O Incrível Hulk, que faturou US$ 55 milhões em 2008.

A culpa seria do filme em si ou é consequência do desgaste que a Marvel vem enfrentando nos últimos tempos, após sobrecarregar o mercado com tantas produções de super-heróis? A segunda opção é a mais provável.
Basta lembrar que Capitã Marvel, de 2019, trazia a mesma Brie Larson no papel principal e estreou com uma bilheteria de US$ 153 milhões. A diferença é que, na época, o filme foi lançado entre dois grandes sucessos da franquia, Vingadores: Guerra Infinita e Vingadores: Ultimato.
O cansaço progressivo do público começou a ser sentido nos últimos lançamentos, Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania e Guardiões da Galáxia Vol. 3. Ambos faturaram cerca de US$ 100 milhões, mas nem eles, nem nenhum dos últimos cinco filmes da Marvel chegou à marca de US$ 1 bilhão de bilheteria, algo que na década passada seria inimaginável.
Qual o motivo desse desgaste? A Marvel não tem conseguido repetir o sucesso dos filmes do Homem de Ferro, Thor e Capitão América. Os protagonistas de suas novas produções são super-heróis menos conhecidos do público, personagens que parecem ter sido resgatados dos quadrinhos apenas para enriquecer o MCU, como é chamado o Universo Cinematográfico Marvel.
A discussão, claro, foi parar na internet. Machistas e feministas se digladiaram nas redes sociais, acusando uns aos outros de serem os culpados. Antes de pensar em novas produções, talvez seja a hora da Marvel criar um super-herói que pacifique o universo virtual.

Entrevista com Nia Dacosta, diretora em The Marvels
Como The Marvels se encaixa dentro do Universo Marvel?
Como é uma sequência das aventuras da Capitã Marvel, não precisei explicar sua origem. Pude me concentrar no seu crescimento emocional e nas relações familiares.
Quem foram suas influências?
Vi muitos filmes de Gina Prince-Bythewood e Kasi Lemmons, elas fazem parte da cultura negra.

Como se sentiu por ser a primeira negra a dirigir um filme da Marvel?
Cresci acreditando que podia ser diretora, nunca pensei o contrário. Acho que é porque tenho uma mãe maravilhosa. Conheço bem as limitações que temos, homens e mulheres negras, mas achava que seria uma questão de tempo.
O que achou de ter como protagonistas três supe-heroínas?
Só prestamos atenção nisso porque não existem tantas super-heroínas, a maior parte ainda são homens. Foi importante para mostrar o poder feminino de uma maneira diferente, expandindo nossa imaginação.