Quer apostar?
Por Mentor Neto
Agora que estamos livres do monarca mais perigoso para a nossa democracia desde, D. João VI, acho que já podemos começar a falar mal do Lula, não?
Antes de qualquer coisa, que fique claro: não sou Bolsonarista, nem Lulista.
Há muitos anos venho tentando, na medida do meu limitado cérebro, prestar atenção no que está acontecendo no mundo para arriscar minha desimportante opinião.
E faço como todos em tempos de redes sociais: dou pitaco sobre tudo.
Sobre o que entendo, o que é coisa bem pouquinha, e sobre o que não entendo patavina, que é uma vastidão.
Aprendi que se você falar com certa segurança e se valer de um ou outro gesto que vi num vídeo de neurolinguística, você convence até liberal de aumentar imposto.
O problema das redes sociais é que o tempo passa e carrega com ele todas as suas bobagens. Carrega e espalha para todo mundo.
Em pouco tempo, num mundo normal, você – no caso eu – seria desmascarado, como um verdadeiro embuste.
Afinal está tudo lá. Registrado nos Facebooks da vida.
Minha sorte é que ninguém lê texto velho. Ninguém olha para o passado.
O que importa mesmo é o feed. O timeline. O último post dos seus amigos.
E muito me admira que alguém ainda fique surpreso com esse frisson, essa volatilidade, esse interesse pelo moderno
e atual.
Nunca foi diferente.
Nas cortes todos queriam ouvir a mais nova do Mozart.
Nos Estados Unidos, nos anos 1960, comprar o mais recente quadro de Andy Warhol era razão de inquestionável status.
E assim sempre foi.
O que há de novo em tudo isso, é que agora o novo acontece a cada segundo.
Ficamos nós lá, esfregando o dedinho na tela, distribuindo corações em fotos alheias para sermos amados, em troca.
Arrastando a tela para baixo para recarregar a carga de dopamina e serotonina que faz nossos dias mais suportáveis.
E por falar em Instagram, reside aqui um de meus mais desastrosos fracassos premonitórios.
A primeira vez que me mostraram o aplicativo de fotos, não precisei de mais do que alguns segundos para, conhecedor das sutilezas do mundo digital, profetizar categórico:
— Essa porcaria não vai pegar. Quer apostar? Hein? Hein? Em um ano ninguém lembra mais disso. Mais uma rede social que vai para o buraco. O Flickr não deu certo, porque isso daria?
Na política também dou meus furos.
Bolsonaro, por exemplo.
No início de 2018, ali por março cravei que o sujeito não teria chance. Que seria a piada daquela eleição.
— Um homem histriônico, com um discurso agressivo. Que tem até torturador como herói. Brasileiro não gosta de gente assim. Não tem chance, o coitado. Quer apostar? Hein? Hein?
Deu no que deu.
Sigo já há quase 60 anos nessa toada de bolas fora.
Tudo isso para dizer que agora chegou a hora da minha redenção. Passados praticamente cinco meses do novo governo Lula, afirmo peremptório: esse governo vai de mal a pior.
Uma das causas: Lula não sabe mais falar com o povo.
Pior.
Continua falando como falava antes. Não percebeu que o povo mudou.
Mas, honestamente? Achava que demoraria um pouco mais para vermos fiascos como essa bobagem sobre os Estados Unidos e a Europa serem culpados pela continuidade da guerra na Ucrânia.
Bobagem, no caso, é falar isso aos quatro ventos e não a afirmação propriamente dita, que daria horas de papo de bar.
Lula perdeu o timming.
E olha que Lula tem gente boa ao seu lado, ao contrário de Bolsonaro, que governou seus quatro anos cercado de paspalhos e paspalhas, salvo raríssimas exceções.
Gente boa e sem graça, é verdade. Marina Silva, por exemplo, dá certa preguiça, mas é do bem. Ou Simone Tebet, mais uma gafe que cometi já que, quando a vi pela primeira vez, tive a mesma reação que com o Instagram.
O fato é que passados cinco meses, acho que a coisa tá feia. Lula falando Dilmices pelo mundo, cercado de gente sem sal nem pimenta.
Sei não. Desconfio que teremos anos difíceis pela frente. Quer apostar? Hein? Hein?