O Brasil na terceira idade

Crédito: Lalo de Almeida/Folhapress

Carlos José Marques: "A revolução da longevidade entrou na ordem do dia com os números do IBGE" (Crédito: Lalo de Almeida/Folhapress)

Por Carlos José Marques

Saltou das estatísticas do IBGE nos últimos dias um dado ao mesmo tempo inesperado e alarmante: o País está envelhecendo, rapidamente e sem preparo para essa nova realidade. Absolutamente desprovido de estrutura para a chamada era dos idosos, já soma mais de 10% a população acima dos 60 anos, um mar de gente que ninguém imaginava. Especialistas são unânimes em apontar que a chamada PEA, composta por aqueles que efetivamente estão em atividade, contribuindo para o fortalecimento do PIB, não dará conta e não será suficiente para cobrir as carências de renda familiar que tal cenário impõe. O País do futuro virou a praça da desigualdade social e ameaça se converter agora na terra da carência crônica. Basta andar pelas ruas para enxergar o tamanho do problema: inexiste o mínimo de aparato de segurança e atenção a esse público. Do transporte às dependências comerciais, as dificuldades estão por toda parte. Normalmente, as nações alcançam o estágio civilizatório de contingente significativo de anciões quando estão com uma média de poder aquisitivo per capita capaz de compor as necessidades desses tidos como inativos. O Brasil, não. Envelheceu antes de enriquecer e as estatísticas são inequívocas nesse sentido. Mais grave: a produtividade por aqui é baixíssima (e cai ano a ano), o financiamento da aposentadoria anda difícil. Atualmente já gastamos seis vezes mais com idosos do que com jovens, em uma pirâmide invertida e indevida de prioridades, numa toada que tende a piorar, comprometendo o potencial de população economicamente ativa logo adiante. Para completar, a idade de aposentadoria por essas bandas segue em um patamar muito baixo, inferior ao da maioria dos demais países. São ingredientes de uma crise social alarmante. Como fenômeno lamentável a engrossar o caldo, o etarismo entrou em vigor com força. Dificilmente, trabalhadores com 60 anos ou mais conseguem colocação. São incluídos, erroneamente, na categoria de descartáveis. A dinâmica das redes digitais e o aumento da tecnologia embarcada estimularam ainda mais o preconceito. No cômputo geral e para fazer frente ao desafio que se apresenta será necessário um profundo e detalhado replanejamento familiar. O tempo está passando em uma velocidade que exige respostas urgentes. O Brasil deve, pelos cálculos de autoridades em longevidade, envelhecer nos próximos 19 anos o que a França levou 145 anos para alcançar em termos estatísticos. Uma temeridade. A gerontologia bem como a formulação de políticas específicas para tal público mostram-se atrasadas. Por décadas prevaleceu nacionalmente, até de forma jocosa e como brincadeira que beirava o preconceito, o mantra do “é proibido envelhecer”. Não teve jeito. Aconteceu e não há como fugir. A discriminação precisa ser superada. Eventualmente, programas de incentivo à natalidade, a exemplo do que ocorre em lugares como o Japão, terão de ser traçados. Estima-se que a população brasileira comece a diminuir nos próximos anos. Muito comumente, o isolamento dos idosos do convívio social virou regra em diversas localidades, como forma, talvez, de deixar de lado as necessárias políticas públicas de governo e das organizações para atender a essa camada da população que, além de direitos, carrega enormes potencialidades. A transição demográfica em curso representa desafios gigantescos. A equação que comporta queda nas taxas de fecundidade e avanço da medicina que possibilitou o aumento da expectativa de vida resultou numa soma pró mudança do perfil etário nacional. Surpresa geral dos brasileiros, a travessia da fronteira de País jovem para País velho foi por décadas ignorada, sem a devida estruturação de meios que comportassem o processo. Na conta de dificuldades a superar, faltam médicos especializados em geriatria diante de tamanha demanda, há carências de opções de lazer, de trabalho, de amparo estrutural e de acessibilidade nas cidades para esse público, além, claro, da evidente falta de suporte familiar na maioria dos casos (cujos filhos abandonam seus idosos à própria sorte, até por falta de recursos para bancá-los). A revolução da longevidade entrou na ordem do dia com os números do IBGE. Não dá mais para esperar. O Brasil chegou a esse ponto antes do previsto e não há muito o que fazer, a não ser encontrar alternativas rápidas para dar esteio a agora considerável parcela dos que passaram dos 60. O Brasil está mais para lá do que para cá.