Comportamento

Vírus adormecidos por séculos – conheça a ameaça que vem do gelo

Cientista francês desperta vírus adormecidos em camadas de gelo há 50 mil anos, sem manipulação genética, e mostra que microrganismos podem voltar a infectar seres vivos

Crédito: Divulgação

Cientistas franceses perfuram a permafrost na Sibéria à procura de microrganismos milenares (Crédito: Divulgação)

Por Alan Rodrigues

Você, provavelmente, já ouviu falar sobre a Era do Gelo (Era Glacial ou Glaciação), nome dado ao período em que camadas espessas e duras cobriram grandes áreas da Terra – permafrost. Hoje, 10% da superfície do planeta é formado por áreas permanentemente geladas. Evidentemente, também acompanha as notícias sobre o aquecimento global. Bom, o que poucos sabem é que no subsolo das camadas glaciais existem vírus e bactérias adormecidos há dezenas de séculos e que agora estão renascendo por conta do degelo da Terra. Ou seja, os microrganismos de passado distante podem trazer de volta doenças que não conhecemos, por conta da crise climática.

Quem faz o alerta é o virologista francês Jean-Michel Claverie. Conhecido como o “caçador de vírus zumbis”, o cientista, aos 73 anos, passou mais de uma década estudando patógenos “gigantes”, incluindo aqueles com quase 50 mil anos adormecidos, encontrados nas profundezas das camadas do permafrost da Sibéria.

Naquela região gélida e insólita, onde as temperaturas podem cair a até -40ºC no inverno, o pesquisador francês e sua equipe têm demonstrado que microrganismos milenares podem sobreviver nas camadas mais geladas, mantendo ativo o poder de infectar outras células.

“São vírus naturalmente presentes no meio ambiente que reviveram sem nenhuma manipulação genética”, explica Claverie. “Trabalhamos apenas com espécies capazes de infectar amebas. Mas sabemos que vários outros estão presentes no mesmo solo, incluindo alguns com poder de até mesmo infectar animais”, afirmou ele ao jornal The Japan Times, na semana que passou.

Virologista Claveriere e sua esposa, Chantal Abergel, bióloga, trabalhando na França (Crédito:Divulgação)

“A elevação da temperatura tem resultado no derretimento superficial, principalmente do Ártico, e também do permafrost”, diz Jefferson Cardia Simões, um dos maiores pesquisadores do gelo (glaciologista) do Brasil. Vice-Presidente do Comitê Internacional de Pesquisa Antártica (SCAR), Simões diz que o desafio dos cientistas agora é compreender e antever quais podem ser as consequências da reativação desses microrganismos para as dinâmicas do planeta e para a humanidade.

Ao certo, no ritmo em que avança o derretimento do Ártico, a previsão é que quantidades grandes de microrganismos sejam reveladas nas próximas décadas, ainda mais com a liberação do gás metano na atmosfera. “As geleiras são os melhores arquivos naturais da história do ambiente”, conclui Simões.