Economia

A crise de identidade do Airbnb

Empresa enfrenta desafios em meio a obstáculos e concorrência acirrada. O serviço está sendo criticado e limitado em diversas cidades no mundo, devido a preocupações com o mercado imobiliário e o turismo

Crédito: Patrick Batard

Nova York aperta o cerco ao Airbnb e impoe regras e multas duras para alugueis temporários na cidade (Crédito: Patrick Batard)

Por Mirela Luiz

O ano de 2023 tem sido extremamente desafiador para o gigante do compartilhamento de hospedagens, o Airbnb. Desde o início do ano, a plataforma tem enfrentado uma série de obstáculos que colocaram em xeque o seu domínio no mercado mundial. Em março, muitos dos anfitriões do Airbnb aproveitaram a plataforma X (antigo Twitter) para expressar suas preocupações e frustrações em relação à redução das margens de lucro imposta pela empresa.

A insatisfação era clara, e os anfitriões não hesitaram em fazer ouvir suas vozes. Além disso, o concorrente direto, o Vrbo, conseguiu obter uma vantagem significativa sobre o Airbnb ao lançar o tão aguardado programa de fidelidade. Essa iniciativa atraiu uma base fiel de clientes para a concorrente.

No entanto, o maior golpe para a startup veio no início de setembro, quando Nova York endureceu suas regras em relação aos aluguéis de curta duração. Essa mudança praticamente expulsou o Airbnb de um mercado que já foi responsável por cerca de 80% de seu lucro.

Os problemas com restrições não se limitam a Nova York. Outras cidades, como Lisboa e Paris, têm tentado conter a atividade desses sites, por causa do aumento do custo de moradia, problemas com a segurança e queixas do setor hoteleiro. Esse, sem dúvida, foi um duro golpe para a empresa, que agora precisa repensar sua estratégia.

“A plataforma é hoje como uma casa que precisaria de dez pilares para se sustentar, mas tem apenas quatro.”
Brian Chesky, CEO do Airbnb

Brian Chesky, CEO do Airbnb (Crédito:Christian Hartmann)

A plataforma está diante de um desafio sem precedentes. Para manter sua liderança no mercado e garantir seu crescimento contínuo, a empresa precisa urgentemente encontrar soluções inovadoras que atendam tanto às expectativas dos hóspedes, quanto as necessidades dos anfitriões.

O CEO do Airbnb, Brian Chesky, parece estar encurralado, equilibrando as demandas conflitantes de ambos os lados. Chesky fez recentemente uma afirmação impactante, ao declarar que o modelo da companhia está basicamente quebrado. “Acho que a declaração do CEO do Airbnb foi uma declaração forte, provocativa e com um olhar muito mais de reconstrução das premissas do negócio”, avalia Caio Carrato, CEO da Ape11, plataforma digital de compra e venda de imóveis.

O posicionamento de seu CEO levantou questões importantes sobre os desafios enfrentados pelo Airbnb em relação às prefeituras que gerenciam grandes cidades ao redor do mundo.

No Brasil, por exemplo, duas das suas principais metrópoles, São Paulo e Rio de Janeiro, já estudam a implantação de leis para maior controle deste tipo de locação.

São Paulo, por exemplo, estuda limitar esse tipo de negócio em algumas áreas da cidade, dentro do novo Plano Diretor que vai reestruturar os empreendimentos imobiliários da metrópole.

As cidades de Ubatuba (SP) e Caldas Novas (GO) já tomaram iniciativas quanto à legislação e estabeleceram que as locações por temporada devem ser autorizadas em convenção de condomínio e o proprietário do imóvel também deve informar ao fisco municipal o recolhimento da taxa anual de funcionamento e do imposto sobre o serviço de qualquer natureza.

“Os gestores das grandes cidades do mundo hoje veem o Airbnb como uma ameaça, como um produto que gera o hiato inflacionário, escassez de moradia para a locação e problemas para rede hoteleira. Muitos proprietários de imóveis optaram por alugar suas propriedades no site visando a obter lucros maiores, diminuindo a oferta de aluguéis tradicionais. Além disso, investidores migraram seus ativos de ouro, prata, ações e tesouros, para o mercado locatício da empresa”, explica o economista Glerton Rei Júnior.

Moradores de destinos turísticos europeus não querem mais aluguéis de curta permanência (Crédito:Pau Barrena)

Benefícios

Em nota, o Airbnb diz que está confortável com a sua posição em relação às cidades e jurisdições em todo o mundo e quer continuar a fazer parcerias com as comunidades. “A empresa trabalha em parceria com o setor público e com os investidores para resolver suas preocupações e continuar a contribuir com o desenvolvimento do turismo em todas as regiões do País. O Airbnb acredita que boas políticas devem criar oportunidades para proprietários de imóveis e para as comunidades locais”, explica a empresa.

No entanto, é importante reconhecer que o Airbnb também trouxe benefícios econômicos para algumas comunidades, impulsionando o turismo e proporcionando oportunidades de renda extra para os anfitriões. “Tenho dez imóveis na plataforma e gosto muito. A única coisa que acho que poderia ser melhorado é a segurança em relação aos locatários. Apesar de eles cobrirem eventuais danos, eles também nos causam diversos problemas”, explica Vanessa Rodrigues, diretora executiva de uma empresa de transporte, que participa dessa cadeia de investimentos em locações de imóveis.

As restrições
Eis as cidades no Brasil e no exterior que já impuseram limites para a atuação do Airbnb

No mundo, Paris, Londres, Barcelona, Lisboa, Amsterdã e São Francisco impuseram restrições para esse tipo de locação para evitar o aumento nos valores dos aluguéis de longa duração.

Nova York foi além e, desde cinco de setembro, a fiscalização sobre os aluguéis de curta temporada foi intensificada, com regras rígidas.

Um dos elementos que a legislação de Nova York buscou limitar foi a concentração de muitas habitações com os mesmos anunciantes.

No Brasil, São Paulo e Rio de Janeiro já estudam a implantação de leis para maior o controle deste tipo de aluguel.

As cidades de Ubatuba (SP) e Caldas Novas (GO) já tomaram iniciativa quanto à legislação e estabelecem que as locações por temporada devem ser autorizadas na convenção de condomínio e também o proprietário do imóvel deve informar ao fisco municipal o recolhimento da taxa anual de funcionamento e do imposto sobre o serviço de qualquer natureza, decorrentes da prestação remunerada de seus imóveis residenciais.