A Semana

Cedo demais para esquecer

Crédito: Ivan Tarlton / AFP

Christopher Luxon: ele se diz de centro, mas tem os dois pés na direita (Crédito: Ivan Tarlton / AFP)

Por Antonio Carlos Prado

Em três anos, a Nova Zelândia transitou politicamente de um governo de esquerda e progressista para um novo comando conservador, que tende ir-se acomodando à direita. O Partido Nacional, liderado por Christopher Luxon, venceu as eleições no último final de semana e retoma o poder após seis anos de oposição. A legenda obteve 39,1% dos votos, bem mais que a percentagem de 26,8% dada ao atual primeiro-ministro Chris Hipkins, do Partido Trabalhista. O triunfo dos conservadores significa acentuada guinada na Nova Zelândia, que durante a pandemia esteve nas mãos da premiê Jacinda Ardern. Ela conduziu exemplarmente a nação, conquistou prestígio internacional e foi citada pela mídia como “melhor governante na luta contra a doença”. Em janeiro de 2023, no entanto, renunciou alegando esgotamento físico — e abriu as portas à ascensão de Chris Hipkins. O sucesso econômico do país também se esgotou. Cinco milhões de neozelandeses, cedo demais, dela se esqueceram e não deram a Hipkins a segunda chance que ele pediu. Infelizmente, preferiram entregar à direita o terceiro melhor IDH do planeta.

Jacinda Ardern: os neozelandeses se esqueceram dos tempos de pandemia (Crédito:Divulgação)

Direitos humanos
O muro. De novo, o muro

Em meio à guerra em Israel e na Ucrânia, portanto em um momento totalmente inadequado, o presidente dos EUA, Joe Biden, retomou nos últimos dias um assunto que somente arranhara havia dois meses. À época, o mundo pensou que se tratava de palavreado desprovido de real desejo. Mas agora ele insistiu: pretende prosseguir na construção de um muro na fronteira do México, obra iniciada por seu antecessor, o direitista e golpista Donald Trump, para barrar a entrada de imigrantes ilegais. Dessa vez, absurdamente, a fala de Biden teve um tom de política de governo — que não se torne política de Estado. Ele anunciou a revogação de 26 leis federais no Texas para erguer mais trinta e dois quilômetros do muro no Condado de Starr. Biden, que vê despencar a sua popularidade, talvez pense que assim poderá em parte recuperá-la. Tolice: o muro, que ele criticou quando em campanha, é símbolo maior do desprezo de Trump pelos seres humanos. Biden pensa em ganhar pontos junto a esses radicais? Se sim, é prova de senilidade. Biden acabará se apequenando ainda mais entre os próprios democratas? Se não, então é porque os EUA deixaram de ser a grande democracia global.


Obra de Trump: tem de mandar demoli-la, não continuá-la (Crédito:Christian Torres)

América latina
Equador elege presidente jovem e bilionário

Luisa González, da esquerda correísta, foi ultrapassada na reta final das eleições (Crédito:AP Photo/Ariel Ochoa)

Pelo menos dois fatores se mostraram determinantes na vitória de Daniel Noboa à Presidência do Equador: a violência que explode no país, ligada ao narcotráfico, e a participação ponderada no último debate antes da eleição no domingo, 15. O empresário bilionário é herdeiro de negócios com bananas — o pai, “Alvarito” Noboa, é o homem mais rico do país — e completará o mandato presidencial de Guillermo Lasso, que invocou a chamada “muerte cruzada” ao dissolver a Assembleia Nacional e antecipar eleições. Noboa toma posse em 25 de novembro, a cinco dias de completar 36 anos, para governar por 17 meses, até as eleições de maio de 2025. Suas proposições são de direita, mesmo apresentando-se nas redes sociais como político de centro-esquerda para os jovens, os maiores responsáveis por sua virada na reta final. Para isso, também contou com o apoio da mulher, a modelo e influencer Lavínia Valbonesi, de 25, que é mãe de Álvaro, de dois anos, e está grávida do segundo filho (Noboa ainda tem a filha Luisa, de casamento anterior). A campanha eleitoral no Equador foi marcada pelo assassinato do candidato Fernando Villavicencio, mas ainda assim o comparecimento às urnas passou de 80%. Daniel Gilchrist Noboa Azin, que foi deputado entre 2021 e 2022, somou 52,30% do total de votos sobre os 47,70% de Luisa González, da esquerda correísta (o ex-presidente Rafael Correa governou de 2007 a 2017, um período de prosperidade no país).

No dia da eleição, Daniel Noboa se apresentou com colete à prova de balas, em meio à violência no país (Crédito:REUTERS/Santiago Arcos)