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Mistério de Mona Lisa revelado: Gioconda nasceu sobre chumbo

Especialistas franceses revelam que a fascinação pela icônica Gioconda não reside em seu enigmático sorriso, mas nos segredos por trás dos materiais utilizados por Leonardo Da Vinci

Crédito: Xose Bouzas/Hans Lucas/AFP

As cores de Gioconda, obra-prima de Leonardo Da Vinci, revelam insights sobre etapas até então desconhecidas do processo dos artistas da época. (Crédito: Xose Bouzas/Hans Lucas/AFP)

Por Mirela Luiz

Dizem que o renomado pintor renascentista, conhecido pelas experimentações químicas em suas criações, possivelmente empregou uma mistura de óleo e óxido de chumbo na primeira camada da sua obra mais famosa, “Mona Lisa”. Afinal, não apenas sua técnica de composição, mas também os materiais empregados são objetos de exploração meticulosa por parte dos estudiosos de Leonardo da Vinci.

A investigação publicada pelo Journal of the American Chemical Society lança nova luz sobre a apaixonante paleta artística do italiano, acrescentando novas informações ao entendimento de seu processo criativo.

O estudo revela o caráter inovador e experimental de Da Vinci, que não apenas dominava técnicas de composição, mas também explorava minuciosamente materiais e suas propriedades. Uma aura de mistério cercou as tintas e pigmentos do estúdio dele, levando os cientistas a vasculharem seus escritos e demais criações em busca de pistas.

Muitas obras do início dos anos 1500, incluindo a “Mona Lisa” (1503), foram pintadas em painéis de madeira que exigiam a aplicação de uma espessa camada de base de tinta antes da adição da arte final.

Os cientistas descobriram que, enquanto outros normalmente usavam gesso, Da Vinci fez experiências aplicando espessas camadas de pigmento branco de chumbo infundindo seu óleo com óxido do mesmo material químico. Técnica semelhante à que usou na parede abaixo da “Última Ceia”, outra de suas criações icônicas.

“É plenamente possível que Leonardo tenha realizado experimentações dessa forma, uma vez que ele é um bom exemplo de artista-cientista. Sabemos que era muito criativo e inovador, explorando áreas como química, física e estética”, explica a professora Regina Lara Silveira Mello, do programa de pós-graduação em Educação, Arte e História da Cultura do Mackenzie.

(Divulgação)

Pequena mancha de tinta retirada da Mona Lisa sugere a utilização de óxido de chumbo (Crédito:Divulgação)

Apesar da toxicidade do material de chumbo, ele era amplamente utilizado como aglutinante para óxidos metálicos e minerais, especialmente pelo seu tom inicialmente branco, que ao longo do tempo assumia coloração cinza-chumbo.

Isso era comum no período. “Durante o Renascentismo, certamente era utilizado, pois sua cor é branca, mas ao longo do tempo, tende a escurecer”, afirma Mello.

A importância dessa descoberta vai além do aspecto artístico, uma vez que contribui para o campo da restauração de obras de arte. Ao conhecer os materiais utilizados e como eles reagem ao longo do tempo, os responsáveis podem realizar um trabalho mais preciso e preservar a integridade das pinturas.

Estudos detalhados, como análises microscópicas e uso de raio-X, são fundamentais para identificar os recursos utilizados e contribuir para a restauração não apenas das obras de Leonardo, mas também de outras pinturas da época.