Comportamento

Carro elétrico: entenda por que você ainda vai ter um

As vendas de veículos eletrificados no Brasil e pelo mundo têm crescido devido à queda de custos, à melhoria da tecnologia e ao apoio governamental. Outros fatores que justificam o crescimento são benefícios fiscais, subsídios e regulamentações favoráveis, além do alto preço dos combustíveis derivados do petróleo

Crédito: Silvia Zamboni

O empresário Fernando Mancuso já está no seu terceiro modelo elétrico e não pretende trocar (Crédito: Silvia Zamboni)

Por Mirela Luiz

RESUMO

• A Agência Internacional de Energia (IEA) diz que mais de 10 milhões de elétricos foram vendidos em 2022 – 14% de participação e crescimento significativo sobre os 9% em 2021 e os 5% em 2020.

• Dificuldade no Brasil são postos de recarregamento, mas já há empresas do setor privado trabalhando na ampliação da rede

• No Brasil, ainda não há uma meta de eletrificação da frota, como em outros países, mas há objetivo de redução de 50% nas emissões de carbono até 2030, o que deve favorecer a frota de VEs ou eletrificados

No Brasil uma revolução silenciosa está prestes a tomar conta das ruas. Os carros elétricos, símbolos da mobilidade sustentável e eficiente, estão ganhando cada vez mais espaço no mercado automotivo do País. Em setembro, um recorde de 1.830 carros elétricos foram vendidos, de acordo com a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE). Esse número representa um aumento de 56,8% em relação a agosto e também marca a venda mais alta em um único mês. De janeiro a setembro deste ano, foram emplacados 7.725 veículos elétricos (VEs) no País. No entanto, as aquisições poderiam ser ainda maiores se não fossem os obstáculos financeiros. Os custos e taxas de importação ainda representam entraves consideráveis para a expansão do mercado de VEs no território nacional.

Um elemento que dificulta o avanço dos modelos é a infraestrutura de recarga e esse é o ponto mais sensível da eletrificação no Brasil, muito por conta da dimensão territorial. “Hoje ainda encontramos muita dificuldade com a quantidade de pontos de recargas. Alguns estados são bem difíceis de encontrar, o Rio de Janeiro é um deles”, conta o empresário Fernando Mancuso, que possui um Volvo XC40.

Dado Magnelli, proprietário de um Renault Zoe, vê evolução no número de postos, mas também acha que é preciso melhorar a infraestrutura dos mesmos. “Os pontos de recargas públicos aumentaram muito, mas viajar ainda requer planejamento. É necessário em alguns casos ligar para cada posto de carregamento para saber se está funcionando”, diz.

Rafael Levy encantou-se com a performance dos modelos eletrificados (Crédito:João Castellano)

Desafios

No entanto, apesar dos avanços, implantar postos de carga ainda apresenta dificuldades significativas. O custo é alto, o que requer ações governamentais para acelerar sua expansão. “Em todos os locais, seja no campo, nas estradas ou nos centros urbanos, o desafio será o elevado custo de implantação. Do carregador aos painéis”, explica Clemente Gauer, diretor suplente da pasta de infraestrutura da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE).

Já existem empresas nacionais que investem para ampliar os pontos de recarga e minimizar a insatisfação do motorista. A Tupinambá Energia é um exemplo – oferece seu próprio aplicativo de gestão de eletropostos e está presente nos smartphones da maioria dos motoristas de veículos no Brasil, Argentina e Paraguai.

“Observamos grande crescimento hoje e todos os estados já contam com estações de recarga, mesmo que ainda em fase de teste”, explica Davi Bertoncello, CEO da Tupinambá Energia, empresa que desenvolve e administra postos.

Nos países que favorecem a descarbonização existe um importante protagonismo de seus governos com intuito de acelerar a infraestrutura de recarga. “Europa e China estabeleceram programas de incentivos e metas claras para que se removessem as barreiras de adoção da eletromobilidade”, afirma Bertoncello.

De acordo com dados da Agência Internacional de Energia (IEA), mais de 10 milhões de elétricos foram vendidos em 2022, representando um total de 14% de participação no mercado automotivo. Um aumento significativo, se compararmos aos 9% de participação em 2021 e aos 5% em 2020.

Globalmente, 10% dos veículos de passageiros vendidos em 2022 no mundo, eram totalmente do tipo, segundo análise de dados da Agência Internacional de Energia. Isso é 10 vezes mais do que cinco anos antes.

Mesmo com os entraves, as perspectivas para o mercado de veículos da linha são positivas, tanto no cenário global quanto no nacional. Os elétricos estão se tornando cada vez mais acessíveis e atraentes, proporcionando uma condução única e sustentável.

Rafael Levy, que trabalha com tecnologia, optou pelo modelo por conta da mobilidade e inovação. “Depois que adquiri, vi os benefícios e praticidade no dia a dia”, diz Levy, que mora em um edifício onde pode carregar o carro na própria vaga de garagem. “No meu condomínio, pela forma como a infraestrutura foi feita, podemos ter ligação do carregador na vaga própria direto com o quadro de energia do meu apartamento que fica no subsolo”, completa.

Vice-presidente Geraldo Alckmin participa do ato simbólico da instalação da pedra fundamental da fábrica da BYD em Camaçari, na Bahia (Crédito:Divulgação/Vice-Presidência)

Políticas de incentivo

Os fomentos governamentais e as políticas públicas são fundamentais para estimular o desenvolvimento e a difusão dos veículos elétricos. A Europa estabeleceu a meta de zero emissão de CO2 para carros novos até 2035. Estados Unidos tem como objetivo eletrificar 50% dos carros novos até 2030 e instalar 500 mil eletropostos.

No Brasil, ainda não há uma meta de eletrificação da frota, mas como há objetivo de redução de 50% nas emissões de carbono até 2030, a frota de VEs ou eletrificados tende a crescer significativamente nos próximos anos.

Globalmente, os elétricos precisam crescer para 75% a 95% das vendas de veículos utilitários até 2030 para serem consistentes com os objetivos climáticos internacionais que limitam o aquecimento global a 1,5°C e evitar impactos nocivos das alterações climáticas, de acordo com estudo do Climate Action Tracker.

A meta está ao alcance dado ao recente crescimento exponencial nas vendas de VEs. A taxa média de crescimento anual foi de 65% nos últimos cinco anos; nos próximos oito anos, o mundo necessitará de uma taxa média de crescimento anual de 31%.

A IEA estima que o número de VEs em circulação no mundo possa chegar a 145 milhões até 2030. Isso, claro, desde que as políticas e metas anunciadas pelos governos para estimular a eletrificação dos transportes sejam devidamente implementadas. No Brasil, o potencial de venda de veículos é de 150 mil unidades ao ano. Mas nem tudo são más notícias.

“Pela movimentação do mercado, negócios ligados à eletrificação tendem a avançar.”
Gonzalo Ibarzábal, presidente da Nissan

Na última segunda-feira, a chinesa BYD, gigante do setor de veículos elétricos, lançou a pedra fundamental de sua fábrica em Camaçari, na Bahia. Com planos ousados, ela promete disponibilizar carros do tipo com preços abaixo de R$ 100 mil já no próximo ano.

“Hoje estamos investindo no Brasil com uma nova e moderna concepção, que oferece a melhor e mais avançada tecnologia em eletrificação em todo mundo”, diz Alexandre Baldy, conselheiro especial da BYD. Ele ainda acrescenta que “os estudos para o desenvolvimento de um motor híbrido flex à base de etanol, que possibilite o uso da energia que vem da cana-de-açúcar, já estão em desenvolvimento. Será uma solução verde. Uma solução brasileira”.

A BYD não está sozinha nessa empreitada. A também chinesa GWM (Great Wall Motors) planeja inaugurar sua produção de carros com essas características em breve, desta vez em São Paulo. Com a chegada dessas montadoras, a diversidade de modelos e opções no mercado tende a aumentar significativamente.

“A eletrificação veio para ficar. A experiência de conduzir um veículo elétrico é muito gratificante.”
Clemente Gauer, diretor suplente da pasta de infraestrutura da ABVE

 

Correndo atrás

As montadoras locais estão se movimentando para entrar no jogo da eletrificação. A Volkswagen, por exemplo, transformou o Brasil em seu centro de produção global de veículos híbridos à base de etanol e planeja aumentar sua produção nos próximos anos. “Agora que comemoramos 70 anos de atuação no Brasil, demos um passo importante na estratégia lançando dois modelos 100% elétricos: ID.4 e ID.Buzz”, aponta a montadora em comunicado.

Já a Nissan, uma das pioneiras no processo de eletrificação global e aqui no Brasil com o modelo Leaf, comercializou mais de 1.100 unidades desde seu lançamento, em 2019. “Naturalmente, pela movimentação do mercado, negócios ligados à linha tendem a avançar”, avalia Gonzalo Ibarzábal presidente da Nissan.

A Audi tem como meta lançar 30 veículos do tipo até 2025. “Acreditamos que mobilidade elétrica não é apenas sobre produto, mas também infraestrutura e ESG. Já entregamos cerca de 200 estações de recarga elétrica em locais públicos e também em nossa rede de 42 concessionárias no Brasil”, diz Diego Borghi, diretor de vendas da Audi do Brasil.

Já a BMW trouxe para o País seis modelos 100% eletrificados. “Todos os nossos carros mais recentes e modernos são lançados no Brasil em curtíssimo espaço de tempo em comparação aos outros países e temos a certeza de que esse segmento continuará crescendo nos próximos anos”, diz Henrique Miranda, Head de eletrificação na BMW do Brasil. Com isso, a oferta de opções de carros do tipo nacionais deve crescer ainda mais.

Atualmente, a Volvo Car possui quatro modelos elétricos em seu portfólio. No Brasil, já comercializa três, com oito versões disponíveis. “A chegada e o sucesso de novas opções no mercado provam que o consumidor brasileiro já aceitou essa tecnologia”, informa a montadora.