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Congresso aumenta o preço: ficou mais caro governar e você vai pagar a conta

Chegamos a um ponto perigoso: governo e população tornaram-se reféns de um grupo de parlamentares muito bem organizado que consegue manter o controle da pauta

Crédito: Luis Macedo/Câmara dos Deputados

Arthur Lira: o Brasil na cabeça do presidente da Câmara é um semipresidencialismo, com ele como primeiro-ministro (Crédito: Luis Macedo/Câmara dos Deputados)

Por Felipe Machado

A aprovação do tão falado arcabouço fiscal pela Câmara, na última terça-feira, foi alardeada como uma grande vitória do governo. E foi mesmo: 372 votos a 108, quando eram necessários apenas 257. Políticos de todas as vertentes – menos bolsonaristas, obviamente – elogiaram a desenvoltura política do ministro da Fazenda Fernando Haddad, assim como o envolvimento do governo para aprovar a matéria.

Isso tudo é bobagem.

O que aconteceu foi que o governo abriu o bolso – e é assim que o Congresso brasileiro funciona. Não há esquerda ou direita, nem Centrão, nem bancada evangélica, do agro ou da bala. Há, claro, meia dúzia de gatos pingados que votam de acordo com suas convicções, sejam ela a defesa dos pobres ou a crença na Terraplana. Mas o que move o congresso, mesmo, é um bando de deputados ávidos para colocar as garras no orçamento e indicar afilhados políticos que lhe renderão apoios locais. Deu dinheiro e cargos? Voto a favor. Não deu? “Vou seguir o que é melhor para o Brasil”, mentem, em um eufemismo grotesco para mascarar o fato de que cobraram caro demais.

O Brasil sempre foi assim. Quase todos os países têm parlamentos que funcionam na base da pressão ou na troca de interesses. Mas chegamos a um ponto perigoso, porque o governo – e a população que o escolheu – tornaram-se reféns de um grupo de parlamentares, que, muito bem organizados, consegue manter o controle da pauta. E o congresso, com número expressivo de políticos da extrema-direita, nunca foi tão ruim.

Essa é mais uma herança nefasta de Jair Bolsonaro. Para se manter no cargo a qualquer custo, cedeu o País a Arthur Lira, que é quem realmente manda no orçamento. O presidente da Câmara tem dito que o governo precisa entender que a “relação de forças entre os poderes mudou”. Tradução: o preço para governar aumentou. E quem paga a conta desses nobres deputados não é o Executivo, ao contrário do que pode parecer: sou eu e você, leitor. O engraçado é que Arthur Lira decidiu que o Brasil tem um semipresidencialismo – onde ele é o primeiro-ministro, claro – sem combinar com ninguém. Passou por cima da Constituição como se fosse um trator em uma obra da Codevasf. Esse, sim, tem “desenvoltura política”.