Comportamento

Vacina contra dengue custa até R$ 800; só deve chegar ao SUS em 18 meses

Começa a ser comercializado no Brasil o primeiro imunizante contra dengue e chikungunya, doenças causadas pela picada do mosquito Aedes aegypti e que vitimam milhares

Crédito: Cristine Rochol/pmpa

Doenças causadas pelo inseto atingem 6 em cada 10 cidades brasileiras (Crédito: Cristine Rochol/pmpa)

Por Alan Rodrigues

No dialeto Maconde, uma das línguas faladas na Tanzânia, chikungunya remete a “contorcer-se” ou “dobrar-se”, em referência direta aos fortes incômodos que afetam as articulações e músculos dos pacientes infectados pela picada do mosquito Aedes aegypti. Eles sofrem tanto que ficam encolhidos e prostrados. Foi naquele pedaço de terra, em 1953, onde surgiu a primeira epidemia do vírus da infecção, que só chegou oficialmente ao Brasil em 2013 e causou o primeiro surto em meados de 2015. Diante do quadro ainda ameaçador, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) aprovou recentemente a comercialização da vacina Qdenga, desenvolvida pela empresa Takeda Pharma Ltda, destinada à imunização contra dengue e chikungunya. Essa aprovação marca um avanço significativo na prevenção dessas enfermidades transmitidas por mosquitos. O problema é que poucos brasileiros podem se imunizar, já que nas farmácias custa de R$300,00 a R$800,00.

“O chikungunya foi introduzido no Brasil apenas um ano antes do zika, vírus que provocou aquela emergência por causa das doenças congênitas que causa em crianças pequenas”, lembra o virologista brasileiro William M. de Souza, pesquisador do Centro Mundial de Referência de Vírus Emergentes e Arbovírus da University of Texas Medical Branch, nos Estados Unidos.

Proliferação

Passadas sete décadas desde seu surgimento no mundo e vinte anos no Brasil, o vírus só avança por aqui. Para se ter uma ideia do crescimento, o patógeno se alastrou por 6 em cada 10 cidades brasileiras.

Para Souza, o impacto do chikungunya na saúde pública do país ficou um tanto difuso, em meio às crises de dengue e zika, e a população e governos acabaram minimizando os surtos.

O grave nessa história é que os casos vão se multiplexando ano após ano numa velocidade grande.

Em 2022, o Brasil registrou 174.517 casos prováveis de chikungunya, com uma taxa de incidência de 81,8 casos a cada 100 mil habitantes. Em 1995 apenas 31,4% dos municípios brasileiros estavam infestados pelo mosquito e em 2021, a proliferação atingia 89,9% das cidades.

A situação se agrava. Só este ano já foram registrados mais de 1,3 milhão de casos prováveis de dengue no País, com 596 mortes confirmadas e 428 em investigação – 400% a mais das registradas em todo o ano de 2021.

A verdade é que números não sentem tremores nem se contorcem como os enfermos e a presença de vacina contra as infecção do mosquito nos programas de vacinação do Sistema Único de Saúde (SUS) está longe de tornar realidade para a população. O Ministério da Saúde estima que a vacina esteja disponível no SUS em um ano e meio.

Segundo a pasta, a decisão envolve análise dos cuidados, incluindo custo, logística e prioridades de saúde pública.

É possível que a inclusão da Qdenga nos programas de vacinação do SUS seja reconsiderada, garantindo uma abordagem abrangente e eficaz na proteção da população contra essas doenças. “Por conta dos trâmites de importação de um lote inicial, mas também em trazer essa tecnologia para Bio-manguinhos e a Fiocruz poderem produzir no Brasil”, detalha Daniel Ramos, coordenador da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde.