Coluna

Impulso renovado no jornalismo

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Rosane Borges: "De que maneira inserir na cadeia produtiva do jornalismo os terrivelmente outros do mundo (negros, pessoas trans, indígenas, quilombolas etc)? (Crédito: Divulgação)

Por Rosane Borges

Teve lugar em Recife (PE), de 21 a 23 de setembro, o Festival Fala!, uma bela iniciativa voltada para o diálogo entre jornalismo, cultura e arte. Durante três dias intensos, Recife experimentou linguagens e expressões artísticas e noticiosas — um grande laboratório voltado para a renovação das narrativas da imprensa, das mídias, da literatura e de outras modalidades. Palestras, rodas de conversas, oficinas, shows e performances foram mobilizados para o objetivo proposto.

Em sua 4a edição, o Festival traz ao público uma programação robusta com força inegável para reposicionar a atividade jornalística e indicar caminhos, entre diversos trajetos possíveis para novas lógicas de produção e recepção dos produtos noticiosos.

Tornou-se moeda corrente a afirmação segundo a qual o modelo de negócio que conferiu ao jornalismo status expressivo de importância pública ruiu, exigindo da imprensa substantivas correções de rota, com os arranjos técnicos no epicentro de um debate que não mostra sinais de esgotamento.

Mas, para além dessa rotação de perspectiva, é preciso que o jornalismo responda também a outra convocatória contemporânea: se faz mister que a atividade noticiosa seja diversa e plural, num momento em que a universalidade do sujeito ocidental é posta em questionamento.

Como captar os movimentos do mundo, recobrindo atores e atrizes durante muito tempo ignorados da praça de visibilidade pública? Como cobrir pautas atinentes a grupos historicamente discriminados, escapando das tradicionais estereotipias e enquadramentos reducionistas? De que maneira inserir na cadeia produtiva do jornalismo os terrivelmente outros do mundo (negros, pessoas trans, indígenas, quilombolas etc)? De que forma abordar assuntos até então considerados de interesse específico de uma comunidade, tomando-os como questões de interesse público e universal?

Tais questionamentos se desdobram em reconfigurações que vão além da técnica, pois atingem o coração daquilo que se entende por jornalismo e notícia.

O Festival Fala! vem assumindo essa tarefa de maneira corajosa. Pensa a miséria do jornalismo, apontando a sua grandeza que se dá na interface com as artes e as comunicações. Aposta na renovação da atividade jornalística, levando em conta o investimento de diversas linguagens que adotam a criação e a reinvenção como motores de uma narrativa que, ao mesmo tempo informa sobre o mundo, concebe-o de maneira leve visando a emancipação coletiva.

Sem sombra de dúvidas, é de festivais como esse que testemunharemos as lufadas de oxigênio em uma atividade social tão importante nesses tempos em que a regressão e a fake news resolveram sentar praça em escala planetária. Viva o Festival Fala! Viva o jornalismo!