Comportamento

A onda dos jovens nostálgicos e a volta do estilo ‘emo’

Estádios lotados e turnês de despedida de bandas emo confirmam a força do movimento. Volta da cultura dos anos 2000 tem relação com nostalgia e expressão das emoções

Crédito: Rogério Cassimiro

Suzy Poquiviqui, psicóloga: preto, caveiras, gargantilha e maquiagem forte integram o dresscode (Crédito: Rogério Cassimiro)

Por Ana Mosquera

A febre do emo que permeou a realidade dos que viveram a adolescência da primeira década de 2000 toma a mídia novamente. O NX Zero teve os ingressos para o último show da turnê “Cedo ou Tarde”, no Allianz Parque, que tem capacidade para 55 mil pessoas, esgotados em apenas duas horas cinco meses antes do concerto, tendo que abrir sessão extra. A busca virtual pelas entradas da primeira data do reencontro/turnê de despedida do Restart bateu a casa dos 62 mil interessados. Uma festa virtual criada na pandemia já contou com 20 edições presenciais desde o fim do isolamento social, recebendo até 400 pessoas por evento. Entre os motivos para o retorno dessa cultura estão:
• o apreço pela nostalgia,
• a necessidade de pertencimento,
• a liberdade de expressão,
• e a aceitação das emoções.

“Temos o retorno de um comportamento social que por definição é ‘emotional’. Isso declara o quanto nossa expressão emocional foi sendo suprimida nas últimas décadas”, fala Ediane Ribeiro, psicóloga e palestrante, especialista em saúde mental e traumas.

“O emo encontra uma sociedade muito melhor resolvida”, diz Guilherme Tintel, DJ, produtor e criador da festa que migrou da plataforma digital Zoom para os espaços físicos, a Emo Parade.

A evolução quanto às questões de saúde mental da última década contribuiu para a abertura com relação às emoções.

“Passamos a identificar e valorizar os sentimentos, e normalizar o medo, a tristeza, a frustração. Está tudo bem chorar ouvindo uma música ou a história do outro. Sem julgamentos”, compartilha Suzy Poquiviqui, psicóloga, produtora, promoter e divulgadora de bandas.

Reunião: após uma década, Restart volta aos palcos em turnê de oito meses, com até 40 shows (Crédito:Divulgação)
(Divulgação)

A palavra “emo” é derivada do emocore, gênero musical que mistura o hardcore punk a letras emotivas, e que surgiu nos Estados Unidos por volta da década de 1980. Além da música, moda e estilo de vida formam o combo da tribo urbana.

Roupas pretas, caveiras, franjas compridas, gargantilhas, correntes e o uso do couro, que eram argumento para o preconceito, hoje circulam com mais liberdade entre os integrantes do movimento.

“Antigamente, o emo não podia se mostrar emo. Hoje acho que conseguimos incluir elementos na moda e no meio social sem sermos criticados ou banalizados”, comemora Suzy.

“É um estilo que é expressivo na forma, na roupa, na maquiagem. Que chama a atenção, que quer colocar para fora o que está dentro e que em algum momento perdeu espaço”, fala Ediane.

Ainda assim, o estereótipo de 2000 está mais fluido.

“O movimento está usando coisas mais confortáveis e tem uma cobrança menor sobre um estilo específico, tornando-se mais acolhedor para todos os tipos de corpos e identidades.”
Guilherme Tintel, DJ, produtor e criador da Emo Parade

“A nostalgia é uma tendência comportamental”, como lembra Maíra Zimmermann, historiadora de moda e professora da FAAP, e, portanto, acompanha o espírito do tempo. “As bandas e o público amadureceram, e isso é refletido nos discursos e letras, agora mais políticas, mais educadas sobre saúde mental e relacionamentos,” pontua o DJ. Mas sem completo desapego. “Um adolescente ainda consegue sofrer por amor ou se sentir incompreendido ao som de uma música composta pela Fresno há quinze, vinte anos.”

Sobreviventes: após festas virtuais, edições presenciais da Emo Parade reúnem 400 pessoas (Crédito:Emo parade)

Curto prazo

O achatamento do período entre o surgimento de uma tendência e sua retomada está cada vez mais curto. Enquanto a geração de 1990 tinha os olhos voltados para a cena hippie de 1960 e 1970, o movimento emo, que perdurou até por volta de 2010, no Brasil, volta à cena apenas 13 anos depois.

“As tendências estão mais curtas por conta dos avanços tecnológicos. Hoje a informação circula muito mais rápido, com a difusão digital e, principalmente, das redes sociais.”
Maíra Zimmermann, historiadora de moda e professora da FAAp

Em sua opinião, o emo pode ser a última das subculturas organizadas em tempos de “pulverização da internet”, como chamou. “Quase tudo que vem depois não são grupos orgânicos. Porque a fórmula é música, moda e estilo de vida, e a partir daí você cria fãs, sociabilidade, um senso de grupo que vai ficar horas na fila para curtir um show.”

No próximo ano, o Simple Plan, ícone do movimento, vem ao Brasil, em festival em que também se apresentarão NX Zero e Fresno. Suzy já marcou na agenda.