Quer ter paz? Pergunte-me como

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Por Luiz Cesar Pimentel: "O número de dados que você absorve a cada 24 horas multiplicou por cinco" (Crédito: Divulgação)

Por Luiz Cesar Pimentel

Alegue ignorância. Atribua razão.

Simples assim. Mas não tão fácil quanto parece, já que o progresso tecnológico insiste em atrapalhar a missão de pacifistas como você e eu.

Explico.

Lá pela década de 1980, a quantidade de impactos de informações diários que recebíamos ficava por volta de 2.000, principalmente por rádio, TV, jornais, revistas e interações. Pense agora como cidadão brasileiro safra 2023 que passa regularmente 9 horas e meia por dia conectado à Internet, com agravante da proliferação de redes sociais. O número de dados que você absorve a cada 24 horas multiplicou por cinco. Não adianta apelar para o racional de que não fomos preparados para tanto, pois além de termos que crescer o reservatório de absorção, somos forçados pelos tribunais sociais a ter opinião ou posicionamento mínimo sobre tudo e qualquer desses 10.000 impactos.

Desnecessário dizer que ou você filtra o que vale a pena ou morrerá louco. Como? Também me fiz essa pergunta e cheguei a resposta em três etapas.

A primeira é que você tem que se expor inteligentemente, principalmente no que diz respeito aos seus gostos. Um truque que adoto é selecionar as preferências, pinçar as que entraram para meu código moral particular e ocultá-las. Por exemplo, sou vegetariano, torço para o São Paulo e ouço rock. São três gostos que não pretendo mudar, assim prefiro mantê-los discretos, já que um dos preceitos dos tribunais virtuais é tentar sempre convencê-lo do contrário.

A segunda é a abertura deste texto, alegar ignorância, atribuir razão e escolher as brigas que quer comprar. Todo santo dia, se você quiser participar da vida digital social, será instado a opinar sobre algo ou concordar com um “especialista” no assunto formado no máximo na véspera. Se é a favor do marco temporal (sou contra), se a Argentina merece como líderes o Milei (não) e o Messi (sim), se o Nobel concedido ao pioneirismo do RNA mensageiro é um tapa nos negacionistas (é), se o Kássio Nunes e o André Mendonça são bolsoafetivos (são) ou se o mundo precisa de bilionários como o Elon Musk (não). Caso alguma dessas questões polarizantes não mexa com seus valores, finja alienação e concorde.

Por falar em valores, chegamos ao terceiro passo. Se você tem em seu círculo social ou em alguma bolha de que participa pessoas com princípios que lhe ferem o caráter, afaste-se. Sobrevivi assim à eleição de 2022, quando qualquer insinuação golpista, fascista, racista, preconceituosa, homofóbica, aporofóbica ameaçava eclodir, eu saía de perto. E levo isso para a vida desde então.

Como resume o Banksy, “não existe nada mais perigoso do que alguém que quer que o mundo seja um lugar melhor”. Portanto, seja pacifista, seja perigoso.