Comportamento

Quer saber como era a vida de Serge Gainsbourg? Visite sua casa

Casa em que Serge Gainsbourg viveu em Paris é transformada em museu. Local permite ao público acessar intimidade intacta, mas também frequentar novo piano-bar inspirado nos locais em que o músico se apresentou

Crédito: Jerome Prebois

Discos, livros, obras: Gainsbourg optou por paredes pretas, já que brancas o lembravam hospital (Crédito: Jerome Prebois)

Por Ana Mosquera

 

RESUMO

• Filha do poeta, compositor e notório boêmio francês comprou a parte dos irmãos e abriu a casa do pai à visitação
• Charlotte, da união de Gainsbourg com Jane Birkin, deixou discos, livros e até bituca de cigarro
• O museu em Paris tem loja de souvenirs e, em frente, há um piano bar em homenagem a Gaisbourg

Se presenciar o concerto, a leitura ou a peça de um grande ídolo já causa furor no mais recatado dos fãs, embrenhar-se pela casa (ou três, no caso do poeta chileno Pablo Neruda) em que um artista passou seus principais dias é ainda mais encantador. Pois os franceses, moradores e turistas apaixonados por Serge Gainsbourg podem comemorar. Desde o dia 20, está aberta à visitação a residência em que o músico e ator francês viveu entre 1969 e 1991, ano de sua morte.

Durante a primeira década, dividiu o lar com a esposa, a cantora, compositora, atriz e modelo inglesa Jane Birkin, morta em julho recente, e filhos: Kate, de Jane, e Charlotte, do casal.

Charlotte Gainsbourg, diretora: responsável por perpetuar alma do pai, é dona da voz que guia visitantes (Crédito:Alain Jocard)

Mais de 30 anos se passaram até que a atriz, cantora e diretora de cinema Charlotte Gainsbourg abrisse a morada às visitas. A Maison Gainsbourg, como foi oficialmente nomeada, sofreu as adaptações necessárias para receber as pessoas, sem perder as características vivas da residência.

Localizado no centro da capital francesa, o sobrado de 130m2 segue com a fachada pichada e grafitada pelos que rodeavam a morada, mas agora ganhou a famosa assinatura cursiva do poeta à porta e placas indicativas do complexo cultural na parte exterior.

Do lado oposto da rua, um imóvel alugado inclui uma loja e um café/piano-bar, o Gainsberre, que pode até ser alugado para eventos. O novo espaço foi projetado por Jean Nouvel, importante arquiteto francês que, no Brasil, foi responsável pelo plano da Cidade Matarazzo, em São Paulo.

Imortais: sobre um dos três pianos, o artista posa com Jane Birkin, também cantora e compositora (Crédito:Michael Holtz)

O projeto de Paris, no total, traz a público 450 dos 25 mil objetos catalogados por Charlotte.

Ao sul do mesmo país, na região da Provença, é possível adentrar o lar de Julia Child, a mulher que ensinou a América a cozinhar, enquanto na ilha espanhola de Lanzarote, impressa no imaginário dos leitores de José Saramago, pode-se conhecer as imediações d’A Casa, como era chamada, do vencedor do primeiro Nobel de Literatura em Língua Portuguesa.

Pois os amantes de Gainsbourg poderão agora flanar pela residência em que o multiartista se exilou com seus mais valiosos pertences. São:
• discos,
• livros,
• fotografias,
• móveis,
• obras de arte,
• documentos,
• roupas,
• três pianos,
• cantis instalados em bonecos antigos
•  e até bitucas de cigarro da marca Gitane, que nunca escapavam aos dedos do francês.

“É a casa de um solitário que não gostava da sociedade”, disse Charlotte, ao português Expresso. É de seu pai, inclusive, a canção “Baudelaire”, homenagem ao poeta de mesmo nome que instituiu o termo flâneur, que significa, entre outras coisas, observador.

A atmosfera boêmia ronda o lugar em que Gainsbourg, ao lado da mítica Jane Birkin e, após a separação, em 1980, sozinho, recebia celebridades.

Retrato: entre as fotos, destaque para Brigitte Bardot, com quem o músico e ator quase dividiu a maison (Crédito:Divulgação)

Para os mais aficionados, na loja de presentes, é possível adquirir uma réplica da jaqueta favorita do poeta, criada por Yves Saint Laurent — a grife é parceira oficial da Maison.

Hoje Charlotte é a dona da casa, comprada dos três meio-irmãos mais velhos, e o projeto, orçado em € 6 milhões, teve financiamento misto. Segundo o jornal Le Figaro, € 795 mil foram provenientes da região da Île-de-France, € 45 mil, do Centro Nacional da Música, e 86%, da iniciativa privada.

O passeio é guiado pela voz de Charlotte, que garante que novos ingressos ao museu serão disponibilizados em breve — as reservas estão esgotadas até dezembro, desde abril.

Enquanto isso, os visitantes mais resignados têm a experiência de compactuar da música no piano-bar inspirado nos cabarés em que se apresentava o ex-morador. “Eu gostaria de morrer vivo”, disse Gainsbourg, certa vez, em um talk show. Pois agora está ainda mais eternizado.