Comportamento

Holanda quer fechar fazendas

País está empenhado em reduzir atividades nas fazendas de gado com o objetivo de reduzir emissões de gases de efeito estufa. Agricultores e governo divergem

Crédito: ANP SEM VAN DER WAL

Empreendedores rurais relutantes apesar do incentivo financeiro do governo: manifestantes exibem cartaz com os dizeres “sem fazendeiros, sem comida” (Crédito: ANP SEM VAN DER WAL)

Por Elba Kriss

Uma onda de insatisfação contra o aquecimento global persiste na Holanda. Diante da emergência climática e em nome da preservação do meio ambiente, o governo anunciou um plano para reduzir a emissão de metano e nitrogênio para assim melhorar a qualidade do ar. O país possui quatro milhões de cabeças de gado, responsáveis pela origem de tais gases. Para atingir a meta, seria necessário diminuir o número de animais e uma das medidas seria fechar as fazendas. A dois meses de completar um ano, o programa segue em discussão e com novos capítulos. Em março, o partido Movimento Cidadão Agricultor conseguiu cadeiras suficientes no Senado holandês para defender a categoria.

O projeto causa controvérsia desde sua concepção: enquanto parte da comunidade rural enxerga chance de transição para práticas sustentáveis – como a agricultura orgânica –, líderes do agronegócio protestam. Também pudera, ministros afirmaram que a mudança de paradigma para a nação que já foi segunda maior exportadora de produtos agrícolas seria “inevitável”. Foi dito ainda que em benefício da qualidade do ar, terra e água, nem todos os agricultores poderiam “continuar com seus negócios”. Por causa disso, há dois meses, manifestantes bloquearam estradas da cidade de Haia com tratores e cartazes com as frases: “sem fazendeiros, sem comida”. A sensação, para eles, é de que seus meios de subsistência serão afetados por uma política que pode resultar no fechamento de empreendimentos.

Holanda possui 4 milhões de cabeças de gado: potência agrícola (Crédito:istockphoto)

Para dar suporte à classe, o poder público pretende promover educação ambiental e fornecer apoio na mudança para métodos ecológicos. Além disso, a União Européia aprovou um fundo bilionário a fim de apoiar agricultores na fase de transição verde. “A intensidade de eventos extremos climáticos, que têm causado perdas humanas e ambientais irreversíveis, têm levado os governos, empresas e cidadãos a repensar o modelo econômico, de produção e de consumo, baseado no desperdício, que emite e gera muita poluição”, analisa Edson Grandisoli, mestre em Ecologia. “Existe capacidade técnica e humana para a criação de uma nova pecuária, um novo formato de agronegócio menos impactante, mais inclusivo, mas que depende de incentivos fiscais, regularização, legislação bem estruturada e fiscalização eficiente”, aponta ele, que também é coordenador pedagógico da plataforma educacional Movimento Circular. Para Marcos Fava Neves, professor de Estratégias em Agronegócios e sócio-fundador da Harven Agribusiness School, europeus começam a experimentar algo que os brasileiros já vivenciam: o endurecimento das regras ambientais. “Haverá, sim, um forte impacto na agricultura europeia e, por outro lado, isso abre oportunidade para o Brasil exportar seus produtos”, considera. O setor carece de diálogo para afinar os ideais de cada lado, pois o impasse está apenas no começo. “Ao endurecer as regras, a Europa enrijece também para seus próprios produtores”, finaliza Neves.