Comportamento

Tradição em movimento

Da antiga produção de selas e montarias ao primeiro lenço de seda e às bolsas que homenageiam Grace Kelly e Jane Birkin, a trajetória da Hermès é exibida e contada em mostra inédita no Brasil. Um segredo do sucesso veio à luz: mobilidade e sofisticação sempre acompanharam a maison

Crédito: Rogerio Cassimiro

Por Ana Mosquera

Na mitologia grega, Hermes é o deus do comércio, da diplomacia, das estradas, da magia, da riqueza. Na França, a maison Hermès esteve ligada a tudo isso, à mobilidade e às necessidades da sociedade desde a sua concepção. A herança da famosa grife atravessa seis gerações de artesãos e, agora, a exposição que conta a trajetória de constante movimento chega ao Brasil. Quem visita a mostra In motion, alocada em plena Faria Lima, o principal corredor financeiro de São Paulo, e que integra o ciclo da série itinerante Hermès Heritage, pode acompanhar a história da marca e a evolução dos itens de montaria para os de outros ofícios e áreas, como a moda. Pode também desbravar as inspirações que a levaram à fama global. Mobilidade e elegância acompanham esse roteiro, das bolsas para piqueniques e a escrivaninha móvel Pippa, cujo projeto original é de 1986, aos patins e o skate lançados já nos anos 2000 — o último com estampa do artista visual Gianpaolo Pagni.

Fundado por Thierry Hermès em 1837, o primeiro ateliê da marca francesa que ganharia o mundo estava focado na produção de selas e arreios que já combinavam resistência e refinamento. Em 1880, seu filho Charles-Émile Hermès abriu a loja da Faubourg Saint-Honoré, que rapidamente ganhou repercussão no continente pela confecção das peças sob medida. Uma virada acontece em 1922, quando o neto do idealizador, Émile Hermès, assume a direção e insere os artigos em couro, traz do Canadá a inovação tecnológica do fecho éclair, o zíper, e se torna inspiração eterna no caminhar da casa. Colecionador nato, é dele parte dos 72 itens que preenchem o espaço da exposição na capital paulista, junto a arquivos do Conservatório de Criações da Hermès e peças contemporâneas da maison.


Para todos: a gerente comercial Juliana Fayad se impressionou com a evolução da Hermès. In motion traz história da grife a São Paulo (acima) (Crédito:Divulgação)

Com Émile Hermès, a empresa familiar abriu o leque de produtos e conquistou o universo da moda. Logo após a produção do primeiro blusão de golfe, em 1925, vieram joias, relógios e sandálias para acompanhar o vestuário esportivo. No centenário, apareceria o lenço de seda pura, artigo que inaugura uma tradição e a mostra: o Jeu des omnibus et dames blanches foi baseado em um jogo popular de mesmo nome, de 1830, e traz imagens do primeiro transporte público de Paris, da década de 1820. Uma versão recente da bolsa Bolide para piquenique e uma Birkin gigante, utilizada para o transporte de botas e outros acessórios dos cavaleiros, também podem ser apreciadas pelos visitantes. “Estar imersa em um universo novo, mas atemporal, me motivou a vir à exposição”, conta a gerente comercial Juliana Fayad. Na linha do tempo da maison, as peças coexistem. “Não existe amnésia em design. A memória de nossas conquistas não é um peso para nós; ela nos conforta, educa e inspira”, são as palavras de Pierre-Alexis Dumas, diretor artístico da Hermès, em material oficial. Sexto na sucessão, ele é neto de Robert Dumas, genro de Émile Hermès que assumiu as rédeas da empresa em 1951. Foi Robert que criou a bolsa Kelly, que homenagearia a princesa de Mônaco, e seu pai, Jean-Louis Dumas, que desenhou a peça icônica para Jane Birkin.

Inspirações: Émile Hermès inseriu artigos de couro no catálogo, em 1922. Neto do fundador, ele colecionava objetos que compõem a série itinerante (Crédito:Divulgação)

São Paulo é a 16ª parada da exposição Hermès Heritage – In motion, que já esteve em diversos países, como China, Singapura, Vietnã e Catar. Itinerante, tem direção de Bruno Gaudichon, curador do Museu de Arte e Indústria La Piscine, de Roubaix, na França, e da cenógrafa Laurence Fontaine. A mostra é aberta ao público e pode ser visitada até 1º de outubro, das 12h às 19h, na Avenida Brigadeiro Faria Lima, 3477.

Cavalo de balanço: versão da bolsa Kelly de 2004. Feita em couro e latão, integra o Conservatório de Criações Hermès (Crédito:Filipe Berndt)

 


Novos rumos: bolsa Bolide Picnic mescla vime e couro. A peça original, do final do século XIX, estreou uso do zíper pela marca (Crédito:Divulgação)