Comportamento

Ovos de 80 milhões de anos

Ex-piloto de garimpo encontra em obra de uma rodovia mineira um ninho fóssil de dinossauros, provavelmente crocodilos pré-históricos

Crédito: André Borges Lopes

Representação gráfica de um arcossauro, possível espécie dos ovos fossilizados descobertos no Triângulo Mineiro (Crédito: André Borges Lopes)

Por Alan Rodrigues

Uma descoberta incrível de fósseis de ovos de crocodilos terrestres, grupo de arcossauros que viveu há cerca de 80 milhões de anos, agitou a comunidade científica na última semana. A ninhada, com dois ovos inteiros e vários outros fragmentos, foi localizada no entroncamento das rodovias BR-365 e BR-153, em Monte Alegre de Minas, Triangulo Mineiro, região do chamado Vale do Rio do Peixe pelos estudiosos da paleontologia. Cravada a dois metros de profundidade, os fósseis foram descobertos pelo paleontólogo Paulo Macedo, 71 anos, da Geopac Consultoria Ambiental, empresa contratada para ajudar na conservação e duplicação da rodovia entre Uberlândia (MG) e Jataí (GO), trecho de 437 quilômetros.

Paula Oliveira

Ex-piloto de aeronaves em regiões de garimpos, Macedo começou a se interessar pela paleontologia aos 59 anos. Com olhar clínico para identificar restos ou vestígios de animais preservados em rochas, ele já descobriu outras dezenas deles, mas essa descoberta foi a melhor. Anunciada na última segunda-feira (22), ela aconteceu em 6 de outubro do ano passado. “Era pouco mais do meio-dia, tinha acabado de almoçar no canteiro da obra, e me deu um trem na cabeça. Saí andando, caminhei uns 300 metros e achei a ninhada. Foi uma emoção que me tira o sono até hoje”, conta ele.

GRANDE SURPRESA Paulo Macedo e colegas na obra da rodovia se deparam com o ninho: tesouro achado entre 133 carretas de terra remexidas a cada dia (Crédito:Divulgação)

Uma ajuda divina

“Para mim, que sou católico, foi a mão de Deus. Como pode, deixar a sombra depois do almoço e ir andar num sol escaldante?” Ele se lembra que assim que visualizou os fósseis tremeu de emoção. O colega de trabalho, engenheiro civil, Adriano Parreira, 46, ainda surpreso, acompanhou tudo. “É uma coisa fora do normal. Nessa obra temos uma movimentação de terra diária de 4 mil m2, o que equivale a 133 carretas, numa área equivalente a dois estádios de futebol. Encontrar esses fósseis nessa área é como acertar várias vezes na megasena”, diverte-se.

Os dinossauros, entre eles os crocodilomorfos, habitavam a Terra no período Cretáceo Superior, entre 100 milhões e 66 milhões de anos. “Os fósseis são alongados, a casca tem menos de um milímetro de espessura e foram encontrados em boas condições, protegidos por rochas de arenito”, avalia Pedro Victor Buck, professor e coordenador do Laboratório de Paleontologia da UEMG Ituiutaba, para onde os fósseis foram doados, Pedro avalia que agora os fósseis serão analisados para determinar a espécie exata dos crocodilomorfos.