Coluna

Mulheridade, Simone e Erika Hilton

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Rachel Sheherazade: "A maternidade, a devoção à casa e aos filhos ditam o que é ser mulher?" (Crédito: Divulgação)

Por Rachel Sheherazade

O que faz de um ser humano uma mulher?

Seriam as características físicas? Uma vagina, dois seios, reservas a mais de gordura e uma porcentagem menor de massa magra? Seria a genética? Ou talvez as condições biológicas, como menstruar, engravidar e parir? Seriam os papéis na sociedade os definidores da mulheridade? A maternidade, a devoção à casa e aos filhos ditam o que é ser mulher?

Para a filósofa francesa Simone de Beauvoir (1908 – 1986), o ser mulher transcende o sexo biológico. No livro O Segundo Sexo, ela escreveu: “Ninguém nasce mulher, torna-se mulher”.

Para a escritora, os personagens femininos e masculinos são definidos social e culturalmente, papéis ensinados, aprendidos e replicados ao longo dos séculos.

A mulher submissa, casta, doméstica, mãe e esposa seria a imposição do patriarcado para consolidar o domínio do masculino sobre o feminino. Daí a construção do mito da fragilidade da mulher, da dependência e inferioridade em relação ao masculino, do sexo adjuvante – o segundo sexo.

Numa sessão na Câmara dos Deputados, os embates entre conservadoras e liberais chamaram a atenção para o que significa ser mulher.

Para a bolsonarista Cel. Fernanda (PL-MT), “mulher é mulher” e, por mulher, a parlamentar concebe apenas a parte biológica.

O entendimento é corroborado por Cristiane Lopes (União-RO), para quem a “mulher de verdade”, ou seja, aquela “que sente dores do parto e cólicas” estaria perdendo espaços para transsexuais e travestis.

No livro O Segundo Sexo, Simone de Beauvoir escreveu: “Ninguém nasce mulher, torna-se mulher”

Os argumentos foram rebatidos por Erika Hilton (PSOL- SP) que defende: a mulheridade não pode excluir transsexuais e travestis.

“Nenhuma de nós é igual, nenhuma de nós tem a mesma composição social, fisiológica, anatômica, pois o espectro de mulheres é amplo e tem que contemplar a diversidade.”

O discurso foi corroborado por Duda Salabert (PDT-MG) que criticou a rivalidade entre as mulheres, que deveriam ser mutuamente contra uma estrutura maior de patriarcado que exclui a todas.

Desde Beauvoir, muita coisa mudou nas sociedades ocidentais. A mulher conquistou o mercado de trabalho, o direito de votar e ser votada, o controle da natalidade, a liberdade sexual.

Mas, apesar dos avanços, o sistema patriarcal, caracterizado pela opressão masculina, ainda resiste — nas relações de poder, na sub-representação política, na misoginia, no machismo, na transfobia.

Existe e persiste entre homens e mulheres também. Persiste e milita inclusive no parlamento, reforçando a superioridade do masculino sobre todas as formas de mulheridade.