Comportamento

Pode faltar areia no mar; entenda

Retirada de material dos oceanos atinge nível preocupante e ONU acende sinal amarelo para que países protejam seus litorais antes que seja tarde demais

Crédito: istockphoto

A quantidade de areia retirada do mar todos os dias é equivalente a 1 milhão de caminhões (Crédito: istockphoto)

Por Carlos Eduardo Fraga 

Na recente Copa do Mundo no Catar, as famílias dos jogadores brasileiros foram confortavelmente instaladas em uma ilha artificial, construída na capital Doha, batizada The Pearl (Ilha das Pérolas), pelo projeto arquitetônico que a bolou para parecer um colar do nobre material extraído de ostras. Mal sabiam que o pedaço de chão de hospedagem era fruto de extração que preocupa a ONU e é responsável por alerta mundial pedindo regulamentação preventiva – a retirada de areia do mar, que atinge nível alarmante.

Para que se tenha ideia da dimensão do problema, a cada segundo são retirados dos oceanos o equivalente a 12 caminhões basculantes de partículas. No total, 6,5 bilhões de toneladas anuais.

O objetivo da retirada de tanto material está mais vinculado à produção de concreto e vidro do que ao aterramento, como da ilha no Catar, construção de praias artificiais ou reabastecimento de meios que sofreram erosão.

O concreto é a segunda substância mais utilizada no planeta depois da água, e a areia é um dos principais componentes do material de construção. O vidro e os chips semicondutores também são feitos de areia de sílica. Há também muita utilização para pavimentação de regiões úmidas com intuito de expansão territorial de cidades.

“Isso não é sustentável. A quantidade de areia que estamos retirando do meio ambiente é considerável e tem grandes impactos.”
Pascal Peduzzi, diretor de análise do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma).

Ele comparou a situação ao desmatamento excessivo, quando se usa recurso em volume superior à reposição natural. “A escala dos impactos ambientais das atividades de mineração e dragagem em mar raso é alarmante, incluindo a biodiversidade, a turbidez da água e os impactos do ruído sobre os mamíferos marinhos”, completa.

Os números são parte de levantamento feito pela Marine Sand Watch, plataforma desenvolvida pelo Pnuma que usa inteligência artificial e sinais automáticos de navios para monitorar extração de areia, argila, sedimentos e cascalho pelo mundo.

Segundo Peduzzi, o número se aproxima perigosamente da taxa de reposição natural de 10 a 16 bilhões de toneladas por ano, que sustentam os ecossistemas costeiros e marinhos.

Navios extratores são como aspiradores que, ao realizarem a dragagem, danificam o fundo do mar e o esterilizam, causando o desaparecimento dos microrganismos que são fundamentais para a diversidade da vida no oceano.

Estagiário sob supervisão de Luiz Pimentel