Brasil

Luxo e ostentação de Lula no espaço

Custando cerca de R$ 450 milhões, novo avião presidencial virou alvo de críticas da oposição, por causa de itens de sofisticação supostamente exigidos pela primeira-dama: suíte com chuveiro e cama de casal

Crédito: Ricardo Stuckert/PR

O atual avião da presidência precisa fazer mais escalas nas viagens internacionais de Lula e Janja (Crédito: Ricardo Stuckert/PR)

Por Samuel Nunes

O comando aéreo do Palácio do Planalto recebeu o plano de voo para a aquisição do novo avião da frota presidencial. Na última semana, a Força Aérea Brasileira (FAB) encaminhou ao governo as indicações para a compra de uma nova aeronave a ser utilizada para o transporte internacional do presidente da República, o chamado Aerolula. A escolha do avião, no entanto, foi mal-recebida, sobretudo pelo preço da aeronave, que deve ultrapassar os R$ 450 milhões.

O novo avião deve ser um Airbus A-330-200. O modelo, em sua forma civil, é usado por diversas companhias aéreas pelo mundo, inclusive brasileiras, como a Azul, que o utilizam, principalmente, para voos intercontinentais.

A compra da aeronave sugerida pela FAB irá substituir a opção anterior de reconfigurar um dos dois aviões de modelo semelhante, que já compõem a frota da Aeronáutica e foram adaptados para operar em missões militares, como o reabastecimento de outros aviões em pleno voo, além do transporte de cargas e em situações de emergência.

Por exigência da primeira-dama, o novo Aerolula terá que ser adaptado com uma suíte com chuveiro e cama de casal, sala de reuniões e despachos do presidente e, sobretudo, ter maior autonomia de voo. O modelo A-330 pode voar até 16h sem escalas, ou 13.330 km.

Mais conforto

A aeronave substituirá o atual Airbus A-319 CJ, comprado também por Lula, na primeira vez em que ocupou a Presidência da República, em 2005. Como o aparelho já tem 18 anos de uso, ele estaria próximo de esgotar sua vida útil. Ele possui sala de reuniões para 16 pessoas e pode transportar 39 passageiros, enquanto que o A-330 desejado tem capacidade para até 268 passageiros.

O atual avião substituiu o Boeing 707, adquirido por José Sarney, em 1986, e que era apelidado de “sucatão”, dadas as condições precárias de voo. Esse aparelho chegou a sofrer um incidente, com um motor pegando fogo em pleno voo, quando transportava o então vice-presidente Marco Maciel.

Apesar do susto, ninguém se feriu. Já o A-319, utilizado atualmente pela comitiva presidencial, não tem nenhum histórico de problemas a bordo. Nem o Ministério da Defesa e nem a presidência da República bateram martelo sobre as mudanças exigidas pelo casal presidencial.

(Divulgação)
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O novo avião pretendido por Lula, o Airbus A-330 (embaixo), possui suíte com chuveiro e cama de casal, sala de reuniões e detalhes de requinte e refinamento (Crédito:Divulgação)
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No Congresso Nacional, lideranças de oposição têm aproveitado a polêmica compra para criticar o presidente Lula e a primeira-dama. O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) aproveitou a tragédia no Rio Grande do Sul para reclamar do possível gasto. “Engraçado que para o pai dos pobres e sua ‘cumpanheirada’ são várias cifras para bancar o luxo, mas para o povo da Região Sul são R$ 800 parcelados em duas vezes”, escreveu em uma rede social.

Até em membros do governo o assunto causa desconforto. O líder do PT na Câmara, deputado Zeca Dirceu (PR), desconversou quando foi questionado por ISTOÉ sobre o assunto. “Desconheço o tema. Não sei nem se isso é verdade”, afirmou pouco depois de uma entrevista em que falava sobre um projeto de lei que pretende aumentar repasses para estados e municípios que reclamam de problemas de caixa.

A polêmica em torno do Aerolula se dá não só pelo elevado preço, considerado exorbitante pela oposição, mas também pelos itens de luxo da aeronave sugeridos à FAB.

Além do quarto privativo com cama de casal, banheiro e chuveiro, o avião teria que ter aproximadamente 100 poltronas semi-leito para acomodar assessores e ministros que vierem a acompanhar o presidente em suas viagens.

Do ponto de vista técnico, a compra do novo avião se justifica pela maior autonomia da aeronave. Em configuração civil, o A-330 pode voar até 13,3 mil quilômetros, sem precisar de reabastecimento. O número é bem maior do que os atuais 8,5 mil quilômetros do A-319.

Dessa forma, é possível viajar distâncias maiores, realizando menos paradas pelo caminho, até porque, em configurações especiais, para fins militares, como o da aeronave presidencial, essa distância pode até ser estendida, segundo especialistas ouvidos por ISTOÉ.

A escolha pela compra de um avião seminovo, em vez da adaptação das aeronaves já existentes na frota da FAB se dá pelo preço da readaptação para operação para a Presidência. Sairia mais caro converter os atuais A-330 do que comprar um novo aparelho já com as adaptações necessárias.

Diferentemente de uma aeronave para fins comerciais e mesmo jatos particulares comuns, um avião presidencial tem diversas modificações para atender a chefes de estado. As principais alterações estão nos módulos de comunicação com o solo. Há rádios criptografados, internet e outros itens que podem ser incluídos para a proteção das autoridades. Em alguns casos, aviões que servem a líderes de governos podem dispor também de sistemas de defesa aérea como armas e proteções contra radares inimigos.

Essas configurações especiais dependem das necessidades que cada governo e das circunstâncias de operação. Como o relatório da FAB segue sob sigilo, é impossível afirmar que o avião escolhido já possua algum desses itens ou mesmo que possa receber tais modificações para a operação com o presidente brasileiro.

O que se sabe é que, pela autonomia ampliada, os voos internacionais de autoridades brasileiras tendem a ser mais confortáveis. Procurado, o Palácio do Planalto afirmou que ainda não existe uma definição a respeito do novo avião.

Se a compra for efetivada, o processo será conduzido pela Aeronáutica. Já a FAB afirmou que apenas realiza estudos técnicos em relação à aeronave, a pedido do Gabinete de Segurança Institucional.