Economia

Integração Brasil-Itália: a força do empreendedorismo

Durante dois dias, empresários brasileiros e italianos se reuniram em Milão,na Itália, para discutir oportunidade de negócios entre os dois países, e concluíram que eles têm grande oportunidade de cooperação

Crédito: Felipe Ferugon/LIDE

Doria fala a empresários do Brasil e da Itália: o Lide promove negócios bilaterais (Crédito: Felipe Ferugon/LIDE)

Por Germano Oliveira, de Milão (ITA)

A economia criativa e o empreendedorismo foram os principais temas do Lide Brazil Conference, realizado em Milão, na Itália, nos últimos dias 7 e 8, com a presença de aproximadamente 200 empresários brasileiros e italianos. A principal conclusão dos debates é que a maior integração dos dois países pode se dar por meio da expansão do turismo, que ainda é pouco explorado. O ex-embaixador do Brasil em Roma, Andrea Matarazzo, foi um dos primeiros a apontar o grande filão do mercado turístico bilateral. Segundo ele, apenas para se ter noção da dimensão do negócio que pode ser estabelecido entre Brasil e Itália, é que moram em território nacional, especialmente em São Paulo, mais de 25 milhões de descendentes de italianos, que poderiam ser estimulados a explorar o turismo na Itália, mas não o fazem de forma mais intensa. Nessa mesma linha, Rafaele Cattaneo, secretário da Câmara de Negócios Internacionais da Lombardia, lembrou que a Itália tem 60 milhões de habitantes, que também poderiam ser atraídos pelas belezas turísticas brasileiras.

Para o ex-ministro do Turismo, Vinicius Lummertz, o setor turístico brasileiro não tem o peso que deveria ter por falta de projetos de governo. Ele lembrou que o turismo não é uma prioridade, uma vez que obras para o setor nem estão contempladas no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). “Não temos aeroportos que levem turistas direto da Amazônia para os EUA ou Europa, e vice-versa”, disse.

O empresário, que também já foi secretário de Turismo de São Paulo, mostra que o Brasil tem gargalos de falta de infraestrutura em locais estratégicos, como Jalapão ou Lençóis Maranhenses. “Se tivéssemos um aeroporto em Caxias do Sul, por exemplo, certamente teríamos mais turismo na Serra Gaúcha”. Ele não acredita que a insegurança pública seja o principal fator que afasta os turistas do País. “Se fosse assim, Turquia e Israel não atrairiam tantos turistas”, explicou.

O designer Pedro Franco fala aos empresários sobre a criatividade de suas cadeiras (Crédito:Divulgação)

Sérgio Sá Leitão, ex-ministro da Cultura e ex-secretário da Cultura do Estado de São Paulo, destaca que a economia criativa pode ser uma das alternativas para o desenvolvimento do País, com a expansão de emprego e renda. Segundo explicou, o setor representa hoje 3,11% do PIB brasileiro, com a geração de 7,3 milhões de empregos e é responsável por 2,4% das exportações brasileiras.

Ele dá um exemplo da importância do segmento. “Temos estudos que mostram que para cada um real investido em espetáculos musicais, R$ 16,17 retornam para a economia de São Paulo”, disse Sá Leitão, lembrando que o Projeto Guri, que já formou mais de 80 mil jovens músicos em São Paulo, gerou R$ 6 para cada real aplicado pelo governo no programa.

O ex-ministro mostrou que um dos segmentos da economia criativa que está fazendo grande sucesso atualmente é a produção de games, destinados aos milhares de jovens que desejam mais diversão.

Na verdade, recreação é para quem consome, mas é uma mina de dinheiro para quem produz os jogos eletrônicos. Sá Leitão exibiu a iniciativa dos irmãos Artur e Victor Lasarte, de São Paulo, que criaram a empresa Wildlife Stúdios, cujo empreendimento já está faturando um volume espantoso de US$ 90 bilhões (R$ 450 bilhões) no mercado internacional.

“Os irmãos Lasarte produzem games para celulares, numa média de 60 jogos por ano, o que dá a dimensão do que os negócios da economia criativa podem fazer pelo dinamismo da economia brasileira”.

Mas, há desafios também, de acordo com Sá Leitão. “O nosso grande desafio é que precisamos ser mais justos e sustentáveis, para a inclusão cada vez maior dos jovens que ainda estão distantes dessa democratização do consumo”, explicou o produtor cultural.

João Doria Neto, presidente do Lide (Crédito:Divulgação)

“O projeto do Lide é fortalecer laços multilaterais de negócios entre o Brasil e outras nações, sempre com o objetivo de trazer mais competitividade ao País.”
João Doria Neto, presidente do Lide

Designer brasileiro

No painel montado pelos organizadores do evento para debater a economia criativa dentro do aspecto da qualificação profissional e a geração de negócios, o brasileiro Pedro Franco, designer e presidente da Lot Of Brazil, deu um show de criatividade, ao apresentar sua linha de cadeiras, produzidas no Brasil para serem exportadas para o mundo inteiro, inclusive Itália, onde está expondo seus produtos no Salão de Móbile, em Milão.

Visitado por mais de 400 mil pessoas, esse salão é a principal referência do design mundial e está abrindo espaço para artistas brasileiros. No Salão do Móbile deste ano, 27 brasileiros estão expondo seus trabalhos. Franco já expôs nessa mostra a cadeira esqueleto, uma de suas principais criações. Seus produtos são feitos com material 100% brasileiros, incluindo produtos derivados da Amazônia e de plantas genuinamente nacionais, como ramas de acerola. O sucesso é tamanho que Franco comercializa mais de 8 mil cadeiras ao ano no Brasil e no exterior.

O Lide no mundo

Com 1.700 empresários filiados em 15 países de praticamente todos os continentes, o Lide, dirigido por João Doria, vem se transformando na entidade empresarial de maior sucesso do País.

Após o encerramento da conferência da organização realizada em Milão, nos últimos dias 7 e 8, para debater a relação bilateral do Brasil e Itália, o ex-governador paulista destacou a importância do evento ter reunido as maiores empresas italianas, como a TIM, Pirelli e Enel.

Essas empresas, com filiais instaladas em São Paulo, anunciaram a aplicação de elevados investimentos. A Pirelli, por exemplo, aplicou 400 milhões de euros (R$ 2,1 bilhões) nos últimos seis anos no Brasil.

Mas imediatamente após o término da Conferência de Milão, Doria informou à ISTOÉ que o Lide prepara-se para abrir duas novas filiais: uma no próximo dia 19 de novembro na Arábia Saudita, e outra no dia 19 de janeiro na Suíça. Atualmente a entidade já está presente nestes países:
* Argentina,
* Paraguai,
* Chile,
* República Dominicana,
* França,
* Portugal,
* Itália,
* Alemanha,
* Reino Unido,
* Espanha,
* Emirados Árabes,
* China,
* África do Sul,
* Austrália,
* Israel.