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Em livro, as últimas palavras de Rita Lee

Outra Biografia é um relato emocionante e bem-humorado sobre os derradeiros dois anos de vida da artista e seu tratamento contra o câncer

Crédito: Guilherme Samora

Rita Lee: obra traz reflexões e declarações de amor à família (Crédito: Guilherme Samora)

Por Felipe Machado

As últimas palavras de Rita Lee não foram no formato de letras de grandes sucessos musicais, mas nas páginas de um livro. Outra Autobiografia é uma obra curiosa: apesar de tratar em grande parte de um tema sombrio, o tratamento contra o câncer e a proximidade da morte, o tom que permeia a narrativa é o do bom humor. A cantora começa o relato narrando a descoberta da doença, que ocorreu totalmente ao acaso. Após receber a primeira dose da vacina contra Covid-19, em 19 de março de 2021, ela sentiu-se mal, mas acreditou que era apenas o efeito colateral do imunizante.

“Sempre achei que biografia fosse coisa de gente morta”
Rita Lee, na abertura de Outra Biografia

Acordou no dia seguinte como se tivesse “um elefante deitado sobre o lado esquerdo do seu corpo”. Depois da segunda dose, em 9 de abril, a sensação foi ainda pior, o que a levou a uma inevitável consulta. A médica ficou impressionada com sua magreza, 37 quilos, e solicitou um raio-x do tórax.

Ao ver o resultado, encaminhou-a para um oncologista. Começava ali o tratamento contra o câncer de pulmão que duraria dois anos e nos levaria uma das mais criativas artistas brasileiras do século 20, em 8 de maio, aos 75 anos.

Reflexões e declarações de amor

Assim como Rita Lee foi uma personagem única, a maneira como ela abordou a própria morte também foi original. Imaginou como seria sua despedida e o que encontraria depois, se seria “um jardim maravilhoso, rodeado por bichos”, ou se iria se “desmanchar em um átomo, para se tornar parte do Todo”.

O livro traz reflexões existenciais serenas e profundas, permeadas por declarações de amor ao parceiro por mais de quase cinco décadas, Roberto de Carvalho, e aos filhos.

Não são poucos os episódios em que resgata a paixão pelos animais de estimação e a natureza a sua volta, enriquecida pela vivência em meio à vegetação de sua casa na região de Cotia, interior de São Paulo.

Não faltam, porém, descrições pragmáticas sobre o longo e doloroso cotidiano do tratamento, das idas e vindas a hospitais e clínicas. Durante o período, sofreu com a perda de Elza Soares e Gal Costa, batizou o tumor de “Jair”, referência a Bolsonaro, visitou, sem público, uma exposição montada em sua homenagem.

Fez amizade com uma enfermeira baixinha, que apelidou de fada “Sininho”, refletiu sobre o sentido da vida, defendeu a eutanásia, embora não fosse o seu caso. Foi, enfim, Rita Lee — até a última página.

Para Ler

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Criado a partir de 40 horas de entrevistas com o compositor australiano  Nick Cave, Fé, Esperança e Carnificina é uma reflexäo sobre o processo criativo do artista e suas lembranças — episódios que vão da espiritualidade às tragédias pessoais.

Para Ver

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O último episódio de Succession (HBO Max) coloca ponto final na série mais premiada dos últimos tempos. Com atuações primorosas e roteiro excepcional, narra a saga da família Roy e a escolha do sucessor do patriarca Logan.

Para ouvir

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Com mais de quatro milhões de seguidores, Laura Schadeck já era um fenômeno das redes sociais antes mesmo de seu primeiro disco. Após três EPs, a jovem cantora, de 19 anos lança seu álbum de estreia, Anti-Apático.

Cinema
Uma nova versão de Ariel

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Estrelado por Halle Bailey (foto), chega aos cinemas a versão com atores da animação, de A Pequena Sereia, clássico da Disney dirigido por Rob Marshall, de O Retorno de Mary Poppins. O enredo conta a história de Ariel, uma sereia que deseja se aventurar fora do mar e acaba se apaixonando pelo príncipe Eric (Jonah Hauer-King). Apesar de ter sido alvo de ataques racistas pela escolha de uma atriz negra como protagonista, o trailer da produção bateu recordes e foi o mais assistido desde O Rei Leão: 108 milhões de visualizações em apenas um dia.

Teatro
Odorico Paraguaçu está de volta

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Adaptada pelo diretor Ricardo Grasson, a versão musicada do espetáculo O Bem Amado, de Dias Gomes, retorna ao palco do Teatro FAAP, em São Paulo, como parte das homenagens ao centenário de nascimento do autor. Com letras de Zeca Baleiro e Newton Moreno, a peça traz o ator Cassio Scapin no papel de Odorico Paraguaçu. Corrupto e demagogo, o lendário personagem era interpretado por Paulo Gracindo na novela exibida pela Globo, em 1973. O prefeito da ficcional Sucupira era uma sátira da ditadura militar.

Exposição
O mestre do modernismo

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Um dos maiores nomes do modernismo brasileiro ganha mostra no Centro Cultural Liceu Artes e Ofícios, em São Paulo. Victor Brecheret: O Mestre das Formas reúne 14 obras produzidas entre 1910 a 1950, entre elas, a escultura em madeira Pietà (acima). O evento comemora os 150 anos do Liceu, local onde o artista estudou. A curadoria é de Fernanda Carvalho e Ana Paula Brecheret, sua neta. A entrada é gratuita e a exposição fica em cartaz até 12 de agosto.

Literatura
Haruki Murakami no espelho

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Relatos sobre desilusões amorosas, críticas de jazz e um bizarro macaco massagista estão entre os temas presentes em Primeira Pessoa do Singular, novo livro do autor japonês Haruki Murakami. Mestre no domínio da literatura e um dos mais populares escritores da atualidade, ele narra as histórias sob um ponto de vista que poderia ser o seu, borrando os limites entre ficção e memória. Os oito contos reunidos na obra alternam momentos filosóficos e visões do cotidiano.