Economia

Mercado de luxo em alta

Cifras bilionárias movimentam o mercado de luxo em escala global, um setor que destoa das crises. No Brasil, o segmento vai de vento em popa, devendo crescer 21% este ano, em comparação com 2022

Crédito: Marco Ankosqui

Cliente no Shopping JK Iguatemi em frente à loja da grife francesa Chanel, uma das preferidas dos endinheirados (Crédito: Marco Ankosqui)

Por Mirela Luiz

O consumo do mercado de luxo no Brasil tem se mantido em ascensão mesmo diante da crise. Na pandemia, o setor foi sofrendo algumas alterações devido ao confinamento: em um primeiro momento, as pessoas procuravam por soluções relacionadas a novas e luxuosas residências. Os indicativos da Associação Brasileira das Empresas de Luxo (Abrael) apontam que, diante da impossibilidade de viajar para o exterior, os brasileiros com maior poder aquisitivo passaram, então, a consumir cada vez mais produtos que melhor equipavam suas casas. Em 2021, as vendas de artigos de alto padrão cresceram 51,74% em relação ao ano anterior. Já após as flexibilizações, os consumidores passaram a investir mais em bens materiais para usufruir da vida fora de seus lares, como roupas, automóveis, lanchas e jatinhos.

Dados da Abrael demonstram que o mercado nacional de luxo faturou US$ 5,226 bilhões (R$ 27,22 bilhões) em 2020, resultado de um desempenho positivo, diferentemente do vivenciado por empresas de outros segmentos ao longo da pandemia. Parte desse bom desempenho é atribuída à adoção acelerada das plataformas de e-commerce.

Além da experiência memorável das lojas físicas, marcas de luxo passaram a ganhar espaço também no comércio digital. A Hermès, uma das maiores empresas do mercado de luxo global, é uma das poucas do setor que não vende peças em plataformas de terceiros e escolheu o Brasil para lançar, neste ano, seu e-commerce voltado para o consumidor brasileiro de alta renda e, a partir de agora, passa a oferecer conteúdos e estoques personalizados, com entrega para todo o País.

51,74% foi o crescimento das vendas de artigos de alto padrão em 2021

Sandália da marca Aquazzura é vendida no Shopping Cidade Jardim por R$ 7.000 (Crédito:Marco Ankosqui)

“O mercado de luxo sabe que para se rejuvenescer e conversar de forma atual com diferentes gerações ao mesmo tempo precisa investir em conhecimento, pesquisa e interação com as pessoas”, avalia o especialista em mercado de luxo, Adriano Tadeu Barbosa.

A experiência presencial

Ainda que o mundo possa parecer mais digital, o contato físico e a atenção humana nunca estiveram tão presentes nas reais necessidades dos consumidores depois do confinamento, sobretudo dos mais endinheirados.

A JHSF, que tem como principal área de atuação e investimento o segmento de alta renda, é um exemplo. A companhia é dona de seis dos principais shoppings voltados ao público de alto padrão do Brasil e, de acordo com o CEO da JHSF Malls, divisão responsável pelos shoppings, Robert Harley, as vendas consolidadas dos lojistas desses empreendimentos apresentaram um crescimento de 14,7%, comparado ao mesmo período de 2022.

A melhoria nas vendas foi impulsionada, principalmente, pelos ativos voltados ao público de alto poder aquisitivo.

Em relação ao primeiro trimestre de 2022, as vendas dos ativos voltados para o público de alta renda nos Shoppings Cidade Jardim e Catarina Fashion Outlet, de São Paulo, cresceram 15,4% e 19,2%, respectivamente.

“Esse segmento está em franco crescimento. A gente continua com sucesso, e recentemente, o shopping Cidade Jardim abriu a nova Cartier — marca francesa que produz relógios e jóias de luxo. Acho que o cliente aprendeu que comprando aqui estará comprando exatamente os mesmos produtos da coleção lá de fora e não precisa viajar para isso”, explica Robert Harley.

R$ 27,22 bilhões foi o faturamento do setor de luxo em 2020

Vestido longo marca Stella McCartney, vendido por R$ 17.000, na loja C J MARES, no shopping Cidade Jardim (Crédito:Marco Ankosqui)

Segundo o “Consumer Market Outlook” (perspectivas do mercado consumidor), desenvolvido pelo Statista, plataforma online especializada em dados de mercado e consumidores, o maior segmento desse setor no mundo é o da moda, com uma fatia de mercado de US$ 97,2 bilhões (R$ 482,1 bilhões).

Para o especialista em mercado de luxo, Adriano Tadeu Barbosa, as marcas que fazem parte desse atraente mercado, muitas delas com empresas centenárias, sabem como encantar o consumidor, entregam qualidade e estão disponíveis onde o consumidor delas está.

“Por isso, é dentro desta base que a ascensão do mercado de luxo acontece, pois ele se permite ousar, mostrando-se atento aos desejos do momento, sem deixar de ser atemporal.”

Os dados evidenciam a força do mercado de luxo global, que tem por trás um público ‘high ticket’, que anseia cada vez mais por personalização, em itens que geralmente são recorrentes e possuem uma longa vida útil, aliados ao poder de marcas com poder gigantesco, que geram um senso de pertencimento. “O cliente quer uma experiência diferenciada tanto no atendimento como na qualidade dos produtos”, conclui o CEO da JHSF Malls.