Comportamento

Carnaby Street, nº 9: o endereço que está dando nova vida à “Swinging London”

Mais de seis décadas após o seu surgimento, os Rolling Stones, a banda mais famosa do planeta, continua a influenciar a atitude dos jovens. Para confirmar esse fato, basta caminhar pelo bairro do SoHo

Crédito: Hulton Archive

Assim como o famoso relógio, os cinco Rolling Stones viraram símbolo londrino (Crédito: Hulton Archive)

Por Felipe Machado, de Londres

Nos anos 1960, Londres era o epicentro de uma revolução cultural que mudaria o mundo. Conhecida então como “Swinging London”, a capital britânica viveu um momento de efervescência criativa e transformação social, impulsionada por uma nova geração que rejeitava as convenções do passado e abraçava a inovação e a liberdade. E no centro dessa revolução estava uma banda que se tornaria lendária: The Rolling Stones. Os mesmos protagonistas da época estão de volta em versão londrina um tanto menos rebelde e mais corporativa. Essas duas faces da mesma moeda mostram que a cidade caminha para ser novamente a metrópole onde nascem as tendências.

A década de 1960 testemunhou uma transformação radical na sociedade e Londres estava na vanguarda desse movimento, onde a mudança se manifestava de maneira única por meio da música – o epicentro dessa revolução era o bairro do SoHo, no centro da cidade.

Mais especificamente, a Carnaby Street, com seus pubs, pequenas casas de show e lojas de roupas coloridas e ousadas. Enquanto isso, Mick Jagger e Keith Richards, dois ex-colegas de escola, se reencontraram e descobriram uma paixão em comum: o blues de Muddy Waters e o rock de Chuck Berry.

Os jovens passaram a frequentar a Carnaby Street, onde conheceram o guitarrista Brian Jones, o baixista Bill Wyman e o baterista Charlie Watts. Nascia ali, no coração do SoHo, os Rolling Stones.

Para se contrapor aos Beatles, que eram os “bons garotos”, os Stones adotaram um visual mais rebelde, com cabelos desgrenhados e roupas espalhafatosas.

A influência dos Rolling Stones e dos anos 1960 continua a ser sentida hoje em Londres, mas de maneira mais organizada e corporativa.

Caminhando pelo bairro de SoHo, os figurinos hippies deram lugar a operações de grandes marcas, como Dr. Martens e RayBan. A tradicional Lord John, atualmente uma cadeia internacional de artigos masculinos, inaugurou sua loja na Carnaby Street em 1964 — e ainda resiste ali. A primeira loja de departamentos da cidade, a Liberty, também se mantém no endereço.

O conceito de vida nos parques foi incorporado à música e contagiou o restante do mundo (Crédito:Peter Kemp)

Há, no entanto, novos lugares que buscam resgatar um pouco a atmosfera roqueira dos anos 1960. Funciona lá, por exemplo, a Pretty Green, loja criada por Liam Gallagher, ex-vocalista do Oasis.

É no número 9 da Carnaby Street, no entanto, o local mais procurado pelos fãs de rock and roll. Desde 2020 é o endereço da loja oficial dos Rolling Stones. O local foi minuciosamente escolhido: na mesma esquina, no final dos anos 1950, o jovem Mick Jagger tocava gaita na calçada em troca de algumas libras.

O local, hoje, uma espécie de quartel general dos Stones, tem uma relação curiosa com o Brasil: é gerenciado pelos irmãos Eduardo e Mateus Cavina, paulistas de São José do Rio Preto.

O comércio vende camisetas, discos raros de vinil, móveis e até pinturas do guitarrista Ron Wood, músico que ingressou na banda nos anos 1970.


Se a tendência de moda tem um endereço, é este, no SoHo (Crédito:Nicky J Sims )

Independentemente do dia e da hora, há sempre inúmeros turistas e fanáticos pelos Stones. No dia em que a reportagem de ISTOÉ esteve no local, dois brasileiros abasteciam sacolas com produtos estampados com a famosa língua dos Stones, símbolo criado pelo artista plástico Andy Warhol.

O mineiro Alexandre Gracci, de Pará de Minas, comprava lembranças para toda a família. “Sou o mais novo de quatro irmãos, todos fãs dos Stones. Mas eu que fui o sortudo de poder estar aqui”, comemorou.

Já o paranense Gerson Rocha, de Curitiba, aproveitou para adquirir objetos para decorar seu aniversário. “Comecei a ouvir Mick Jagger quando era criança, então nada melhor do que ter minha banda favorita como tema da minha festa de cinquenta anos”, afirmou.

Londres pode não ser mais a Swinging London, mas a atitude rebelde ainda se mantém viva na cidade. Mesmo depois de seis décadas após a fundação dos Rolling Stones, parece que as pedras continuarão a rolar por um bom tempo.

Dois brasileiros gerenciam o principal ponto de venda de produtos dos Stones na capital britânica (Crédito:Bob Dear)
(Tolga Akmen)