Economia

Passagens aéreas: a chegada das “low cost” pode mudar o mercado. Entenda

A aviação comercial se prepara para a chegada das companhias com baixas tarifas, que desembarcam no Brasil após a entrada em vigor da lei do Voo Simples. Esse é um desafio a mais para as empresas brasileiras, que perdem participação de mercado para as estrangeiras hámais de dez anos

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Companhias brasileiras são minoria nos destinos internacionais (Crédito: istockphoto)

Por Mirela Luiz

A aviação brasileira tem enfrentado um cenário desafiador nos últimos anos, com a recessão de 2016, a pandemia e a concorrência das empresas brasileiras com as estrangeiras. A retomada trouxe um alento com a volta dos voos, mas isso não mudou um cenário que parece desfavorecer os players nacionais. Segundo dados da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), as companhias aéreas brasileiras veem seu market shared diminuir há mais de dez anos. Perderam cerca de 10% de participação de mercado desde 2009.

Alexandre Faro Kaperaviczus, coordenador do curso de aviação civil da universidade Anhembi Morumbi, aponta como principal fator que encarece, hoje, o setor da aviação no Brasil o preço do combustível. Dados da ANAC mostram que cerca de 43% dos custos das empresas aéreas nacionais estão relacionados ao querosene de aviação.

“Temos aí uma saia bastante justa para se operar aqui no Brasil em especial. Há ainda uma carga de ICMS na parte de combustível que é altíssimo. Varia dependendo do local em que é abastecido. Somado a todos os itens que compõem o preço da passagem, as empresas nacionais conseguem ter um lucro, em média, de apenas 2%”, explica.

As companhias ainda não conseguiram se recuperar totalmente do choque com a Covid. O número de voos semanais saindo do Brasil atualmente é de aproximadamente 500, uma queda significativa em relação aos cerca de 700 voos semanais antes da pandemia.

Em nota, a Gol explica que hoje o mercado trabalha com um cenário de demandas por viagens, de custos e de câmbio alto, que é muito diferente daquele vivido no pré-pandemia.

Como o Brasil tem dimensões continentais, o custo de operar uma malha aérea é menos atraente para os voos ao exterior. Hoje no País são aproximadamente 70 companhias oferecendo serviços partindo do Brasil, grande parte desses voos realizada por empresas internacionais.

“Apesar das nossas dificuldades, isso é algo normal mundo afora, porque estimula a competitividade”, explica Dany Oliveira, diretor geral da International Air Transport Association no Brasil (IATA).

Além disso, Oliveira alerta que o Brasil é recordista mundial em judicialização, o que gera insegurança jurídica e falta de previsibilidade nos negócios.

“A interferência política direta no setor da aviação e casos como as questões envolvendo os aeroportos de Santos Dumont e Galeão também contribuem para uma percepção negativa do nosso mercado.”
Dany Oliveira, diretor geral da IATA

No entanto, é imprescindível destacar que as empresas brasileiras não estão cruzando os braços diante desse cenário desafiador. Elas têm buscado alternativas e implementado estratégias para retomar parte dos voos perdidos e garantir sua presença no mercado internacional.

A LATAM, empresa que detém 13,4% do mercado, alcançou em setembro 90 destinos a partir do Brasil, e a Azul segue no plano de ampliação gradativa da sua malha internacional. “Para que o mercado de aviação brasileiro possa crescer de forma acelerada, é necessário resolver essas questões estruturais, reduzir o custo Brasil e acabar com todas essas âncoras”, diz Dany.

JetSmart já opera com sete rotas internacionais no Brasil (Crédito:Divulgação)

Se há essa dificuldade, o potencial de expansão é promissor. De acordo com a IATA, a demanda por voos que chegam e saem do Brasil deve dobrar nos próximos 20 anos.

Mas, para que isso aconteça, falta uma política regulatória de apoio ao setor e um ambiente operacional que facilite as viagens. Além disso, há um fator novo que vai mexer com o mercado: a concorrência de um novo segmento de empresas, as companhias aéreas de baixo custo (low cost).

Elas veem o Brasil como um mercado atraente após a entrada em vigor da lei do Voo Simples, que ocorreu no ano passado.
* A Sky Airline (chilena) já atuava no Brasil em 2018.
*Depois dela vieram a Flyboundi (argentina) e a JetSmart (chilena).
* A Arajet (dominicana) deve começar a atuar este mês.
* Já a Virgin Atlantic (britânica) chegará em maio do próximo ano.

Outras estão avaliando a operação em território brasileiro.

Mais competição

Essas empresas têm se mostrado como uma alternativa viável para os consumidores mundo afora, oferecendo preços mais acessíveis e concorrendo diretamente com as empresas já estabelecidas.

O surgimento dessas novas opções é um desafio para as aéreas já estabelecidas, mas representa um benefício em potencial para os consumidores. Pode impulsionar a competitividade do mercado nacional e incentivar a inovação nas companhias.

“As ‘low cost’ vão chegar arrasando no Brasil com passagens aéreas mais baratas ainda”, afirmou o ministro dos Portos e Aeroportos, Márcio França, durante entrevista no noticiário A Voz do Brasil, quando o ministro dava detalhes sobre o programa Voa Brasil, que emitirá passagens a R$ 200 o trecho.

O plano de bilhetes acessíveis aos aposentados até agora não saiu do papel, enquanto próprio ministro teve sua cadeira ameaçada na reforma ministerial. Já as estrangeiras que vendem bilhetes mais baratos estão virando uma realidade nos aeroportos.