Receita do caos

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Luiz Fernando Amaral: "Os menos familiarizados com as redes socias pregam regulação forte das plataformas e defendem limites à liberdade de expressão" (Crédito: Divulgação)

Por Luiz Fernando Amaral

O ataque ao ministro Alexandre de Moraes reafirma o debate sobre os atos de agressão a figuras públicas brasileiras e a construção de narrativas que circulam nas redes sociais. Nessa luta por entreter e engajar, a verdade parece pouco importar.

A responsabilização dos envolvidos ficará a cargo da Polícia Federal e do Poder Judiciário, mas o padrão de conduta demanda análise crítica de todos.

A escalada da polarização – especialmente por meio dos embates petistas x antipetistas, petistas x lavajatistas e lulopetistas x bolsonaristas -, a judicialização da política e a consequente politização da justiça surgem como ingredientes indispensáveis nesse caldeirão passional.

O caos piora com o poder avassalador das redes sociais. Por meio delas, pessoas que provavelmente não se engajariam nesse tipo de embate acabam surfando essa onda, muitas vezes demonstrando personalidade bastante diversa daquela que assumem em suas relações pessoais fora do mundo virtual. Quanto a esse último aspecto, a psicanálise oferece algumas hipóteses diagnósticas.

A responsabilização dos envolvidos ficará a cargo da PF e do Poder Judiciário, mas o padrão de conduta demanda análise crítica de todos

Diante dessas questões, o mundo político se organiza para oferecer respostas. Todavia, respostas políticas também funcionam como agendas ideológicas, aprofundando o acirramento de ânimos.

As alas mais ligadas ao uso político das redes sociais posicionam-se contrariamente a qualquer tentativa de regulação, sugerem que a liberdade de expressão confere ilimitada imunidade, inclusive para a prática de crimes contra a honra e contra o Estado Democrático de Direito, além de fomentarem ataques ao Supremo Tribunal Federal, por elas alçado à condição de inimigo público.

Os menos familiarizados com as redes socias pregam regulação forte das plataformas e defendem limites à liberdade de expressão, não apenas para punir quem dela abusa, mas também para definir o que pode e o que não pode ser considerado liberdade de expressão, atitude inegavelmente preocupante.

Observar essa conjuntura nos auxilia a constatar o círculo vicioso no qual se encontra imersa a vida pública nacional. A polarização e o extremismo inundaram o debate público, reduzindo-o a dois espectros ideológicos que vivem da espetacularização, empobrecem temas relevantes e perpetram juízos enviesados. Enquanto a ação política seguir esse mecanismo tacanho e irracional de manada, permeando os Poderes da República, seduzindo parcela significativa de seus integrantes e da sociedade civil, a democracia no Brasil não estará segura.