Mais diálogo no STF

Crédito: STF

Barroso entende que na democracia só não tem lugar para a intolerância (Crédito: STF)

Por Germano Oliveira

Colaboraram Marcos Strecker e Samuel Nunes

O futuro presidente do STF, Luís Roberto Barroso, pretende colocar em prática tudo o que aprendeu em mais de 40 anos de vida pública dedicada à carreira no Judiciário, de Procurador-Geral do Estado do Rio de Janeiro, em 1985, a ministro do Supremo, posto que ocupa há dez anos, tendo como lastro a sua capacidade de dialogar com os que pensam diferente. “A democracia tem lugar para liberais, progressistas e conservadores, só não tem lugar para a intolerância e para aqueles que não gostam de conviver com o outro, com o contrário e com a diversidade”, disse ele na sexta-feira, 11, no Rio, onde mora e dá aulas (Uerj). Barroso assumirá o cargo no próximo dia 28 de setembro, em substituição a Rosa Weber, que se aposenta quatro dias depois e que é low profile.

Tribunais

A 45 dias da posse, que contará com a presença de Lula, Barroso já vem conversando com os presidentes dos tribunais, como aconteceu esta semana com Ricardo Anape (TJ-SP). O novo presidente quer mapear os problemas do Judiciário para propor soluções, sobretudo em processos de execução fiscal e Precatórios, crises que se arrastam há anos.

Polêmicas

O ministro quer atacar também questões polêmicas, como as drogas e o aborto. Afinal, ele já mostrou não ter medo de cara feia. Desde que chegou ao tribunal, julgou o mensalão e relatou projetos de relevância no STF e no TSE, como a redução do foro privilegiado, a validade das cotas raciais, a proteção aos povos indígenas e a instalação da CPI da Covid.

Delações premiadas à vista

(Divulgação)

Está aberta a temporada de delações premiadas na PF que podem mudar o rumo de investigações importantes. O primeiro a delatar pode ser Walter Delgatti Neto, o hacker contratado pela deputada Carla Zambelli para explicar a Bolsonaro se era possível fraudar as urnas de 2022. Mas a delação mais esperada é a de Mauro Cid, o faz-tudo de Bolsonaro. Se ele abrir o bico, pode mandar o ex-presidente para a cadeia.

Retrato falado

“(Os técnicos do TCU) vão mesmo (pedir os relógios de volta). Por isso era muito melhor a gente se antecipar” (Crédito:Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Na investigação da PF sobre o roubo das joias que pertencem ao governo, mas que o ex-presidente e sua turma de aloprados desviaram para serem vendidas nos EUA, o ex-chefe da Secom, Fábio Wajngarten, deixou suas digitais. Ele aparece em conversa com o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid, aconselhando que o Rolex comercializado pela quadrilha em Miami fosse devolvido antes de o TCU obrigá-los a repatriar o relógio, vendido por R$ 300 mil.

Desgaste militar

Pelo menos 18 militares estão envolvidos na “Operação Lucas 12:2”, que a PF deflagrou para desmantelar a quadrilha que desviou R$ 1 milhão em joias do Planalto e as revendeu em lojas nos EUA, como Miami, onde Bolsonaro operava com desenvoltura. O termo bíblico adotado pelos policiais tem a ver com a suposta religiosidade de Jair e Michelle. “Não há nada escondido que não venha a ser descoberto, ou oculto que não venha a ser conhecido”, diz Lucas no capítulo 12, versículo 2. Os dois enredaram os fardados nessa lambança de comércio ilegal de presentes que o casal 20 do desvio revendia no exterior, embolsando o dinheiro vivo, trazido em aviões da FAB.

Dinheiro vivo

A PF diz que o chefe do esquema, Bolsonaro, tinha como auxiliar o coronel Mauro Cid, com cobertura do general Lourena Cid, pai do ex-AJO do capitão. O general ganhou cargo na Apex, em Miami, para vender as joias por lá e colocou o dinheiro “lavado” no bolso de JB. Constrangimento para as Forças Armadas.

Enrolação geral

(Sergio Lima)

Quem está enrolando quem? É Lula que não fecha de vez o acordo com o Centrão, e não lhe dá logo os ministérios e estatais que Arthur Lira está pedindo, para não lhe conferir poder ainda maior, ou é o presidente da Câmara que está elevando, a cada dia, as chantagens que faz ao presidente para fragilizar o governo e aumentar o preço da barganha?

Paralisia total

O fato é que seja lá quem for que estiver embarreirando o acordo final entre o governo e o Centrão, a ausência da definição dos ministérios que o PP e o Republicanos terão na gestão do PT está travando o andamentos das reformas. Lira congelou o Arcabouço na Câmara e a Tributária não anda no Senado. Sem contar o Orçamento de 2024, que não se move.

Os incomodados que se mudem

(Martin Vassilev)

Tarcísio de Freitas já avisou que se o Republicanos, seu partido, confirmar a adesão ao governo Lula, aceitando um ministério, como deverá acontecer em breve com o deputado Silvio Costa Filho, que deverá assumir uma pasta ainda não definida pelo presidente, ele deixará a legenda e se filiará ao PL de Bolsonaro. O governador de SP só não quer vestir a carapuça de extremista.

Toma lá dá cá

Entrevista com Marco Aurélio de Carvalho, coordenador do Prerrogativas e do Conselhão de Lula

Marco Aurélio de Carvalho (Crédito:Divulgação)

O que acha do escândalo do roubo das joias?
Pelo que se pode depreender das investigações, Bolsonaro liderava uma quadrilha que se apoderou de nossas instituições para proveito próprio. Defendo severas punições.

Lula pode indicar para o STF alguém de sua confiança, como fez com Zanin? Flávio Dino tem chances?
Dino seria um grande nome, mas parece que não se colocou entre as opções. Messias, Bruno Dantas, Dora, Flávia, Vera Araújo, Simone, Regina Helena, enfim, são grandes opções.

Como vê Lula sendo instado a indicar uma mulher?
O debate é saudável, mas não se deve impor ao presidente qualquer tipo de recorte para a indicação, seja de raça ou gênero.
Seu compromisso é com uma Justiça mais inclusiva.

Rápidas

* No Palácio do Planalto, deputados ligados ao PT dizem que o nome que Lula pensa em indicar para o lugar de Rosa Weber é o do Advogado-Geral da União, Jorge Messias, o Bessias, como Dilma o chamava. Janja quer uma mulher, mas ainda não surgiu um nome forte.

* Um vídeo bem-humorado de Geraldo Alckmin comemorando o dia do Hip Hop, na sexta-feira, 11, viralizou no Twitter. O vice-presidente aparece “tirando o boné” para o gênero musical, que completou 50 anos de criação.

* Requião está irritado com Lula. O motivo é a venda da Copel, a estatal de energia do governo do PR. Segundo ele, o BNDES, como o segundo maior acionista da empresa, poderia ter impedido a venda, fechada por R$ 4,5 bilhões.

* Michelle Bolsonaro virou vendedora de cosméticos: acaba de participar de uma sessão de fotos para lançar um perfume que se chamará Lady M. A marca faz parte da linha de produtos do maquiador Agustín Fernandez.