A Semana

Lula tropeça na área ambiental

Crédito: Lula/ Marcelo Camargo/ Agencia Brasil; Marina Silva/Fabio Rodrigues Pozzebom/ Agência Brasil

Lula e a ministra Marina Silva: mais um caso de fogo amigo, já que o Ibama vetou a pesquisa sobre a exploração de petróleo na margem equatorial do Rio Amazonas (Crédito: Lula/ Marcelo Camargo/ Agencia Brasil; Marina Silva/Fabio Rodrigues Pozzebom/ Agência Brasil)

A área ambiental pode levar Lula à liderança no cenário internacional, ou jogar o petista para o fundão do jogo geopolítico. Até o momento, o presidente tem agido com sabedoria ao apertar o cerco aos garimpeiros e madeireiros ilegais e pedir ao mundo desenvolvido que contribua efetivamente para conter o desmatamento. O Fundo Amazônia foi reativado e choveu dinheiro de vários países, inclusive dos EUA. Mas o bate-cabeça dentro do governo em relação à exploração da foz do rio Amazonas pode rifar a imagem ambientalmente positiva de Lula, seu maior ativo no exterior no momento, já que o maldisfarçado apoio a Vladimir Putin na invasão da Ucrânia colocou o País no campo pró-Rússia e pró-China, contra os países ocidentais.

Tudo começou como mais um caso de fogo amigo. O Ibama, que está sob o guarda-chuva de Marina Silva, vetou a pesquisa sobre a exploração de petróleo na margem equatorial, que tem um potencial extraordinário, comparável ao pré-sal. Isso fez o senador Randolfe Rodrigues romper com Marina e deixar a Rede, partido da ministra do Meio Ambiente. Questionado em plena reunião do G7 sobre o tema, Lula indicou que pode ficar do lado da Petrobras e contra a maior estrela ambiental de seu governo. Marina é uma espécie de autoridade mundial no assunto.

A querela repete uma das maiores crises do segundo mandato de Lula, quando Dilma Rousseff levou adiante o projeto das hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio, em Rondônia. Isso levou à demissão de Marina e o rompimento dela com o petismo. Na ocasião, Lula ironizou a paralisação das obras comparando a proteção da fauna com a defesa “dos bagres” do rio. Dilma dobrou a aposta construindo na sua gestão a hidrelétrica de Belo Monte, que virou não apenas uma usina de corrupção, mas também uma obra de engenharia problemática e com péssimo custo-benefício. A comunidade internacional se voltou contra o projeto, que até atraiu o cineasta James Cameron ao Pará, comparando o monstrengo aos vilões do filme “Avatar”.

O problema para Lula é que hoje Marina tem tanto prestígio no exterior quanto ele. E a pauta ambiental é a única que une o planeta e na qual o Brasil pode assumir um papel de liderança global. Se o presidente romper novamente com Marina, ele pode enfraquecer o governo e fazer minguar de vez suas pretensões de voltar a um papel de liderança global.

A nova crise também coloca em xeque o discurso oficial na economia, setor em que o governo parece mais desatualizado e em descompasso com o planeta. O Brasil deveria mostrar ao mundo como o meio ambiente pode andar de mãos dadas com as novas tecnologias e a energia verde, com eficiência e inovação. Mas isso exige pesquisa, além de uma visão empreendedora e modernizante. Lula, ao contrário, parece saudoso do anacrônico discurso desenvolvimentista e nacionalista que embalou as gestões petistas e levou Dilma à bancarrota. No momento, a pauta ambiental na foz do Amazonas é um problema para Lula. Se ele for hábil, ela pode ser uma solução.