Comportamento

Uma conversa inclusiva na palma da mão

Estudantes de 15 anos de São Paulo desenvolvem aplicativo para tradução de Libras. Projeto que foca na inclusão de pessoas com deficiência auditiva foi premiado e atrai investidores

Crédito: Gabriel Reis

PRODÍGIOS Luísa e Sarah criaram app que captura movimentos da Língua Brasileira de Sinais: inclusão e empatia (Crédito: Gabriel Reis)

U m aplicativo capaz de traduzir Libras para português e português para Libras. Esse é o conceito inclusivo do Me Traduza, software desenvolvido por Luísa Ribeiro Teixeira e Sarah Teixeira Willig, ambas de 15 anos, alunas do Ensino Médio Técnico em Administração do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), na unidade Francisco Matarazzo, em São Paulo. As estudantes tiveram a ideia em sala de aula após motivação da instituição para criar um plano empreendedor. A convivência com um docente de Libras e a sensibilidade de cada uma foram os catalisadores da concepção. “Temos um professor que é uma pessoa com deficiência auditiva. Nós conseguimos conversar com ele no corredor porque entendemos um pouco de Libras. Mas percebemos que outros queriam se comunicar com ele e não tinham sucesso”, explica Sarah. Assim, nasceu o Me Traduza, um serviço em que a tradução é feita através da captura de movimentos e textos escritos, o que facilita a conversação com ouvintes. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil tem 10 milhões de pessoas com alguma deficiência auditiva. “Se a pessoa já nasce surda, a alfabetização, às vezes, não ocorre da forma correta. Ela não entende o som das letras e das palavras, não consegue ordenar isso”, observa Sarah. “Essa questão da tradução do texto é para que essas possam ter acesso a conteúdos acadêmicos e ao mercado de trabalho”, acrescenta Luísa.

De acordo com a tradutora intérprete de Libras Simone de Castro, essa realidade na sociedade acontece porque a Lei de Libras de 2002 ainda é considerada recente. Ela reconheceu a Língua Brasileira de Sinais como meio legal de comunicação e expressão da comunidade surda, o que mudou a situação nas escolas. “Com esse regulamento, eles puderam dizer: ‘nós temos direito a intérprete’. E isso lhes foi negado por muito tempo”, elucida.

Com a tecnologia inclusiva, Luísa e Sarah conquistaram o 2º lugar na 15ª Edição do Empreenda Senac, competição de Empreendedorismo e Inovação. Agora, as duas estão na mira de desenvolvedores e investidores. “Organizamos todo um plano de negócios com cada passo do que é necessário para isso acontecer”, frisam. “Calculamos R$ 424 mil reais para viabilizar o aplicativo. Precisamos apenas que as empresas tenham confiança em nós.”