A Semana

Eu? Não. Ele, sim!

Crédito: Istockphoto

Desvio de percepção: muito longe da democracia social (Crédito: Istockphoto)

Por Antonio Carlos Prado

O comportamento psíquico projetivo é uma das características do brasileiro – é só observar o quanto se julga a vida alheia. O “culpado” é sempre “o outro”; o “errado” é sempre “o outro”; o “mau-caratismo” é sempre “do outro”. Não é diferente quando se trata da questão discriminatória e isso acaba de ser constatado em pesquisa do Ipec, intitulada Percepções sobre o racismo no Brasil:

• 81% dos entrevistados admitem que no País existe preconceito pela cor da pele, mas apenas 11% reconhecem que são preconceituosos. Esse desvio de percepção é grave porque impede que a situação se altere.

Igualmente ruim: 77% e 67% não notam, respectivamente, que trabalham e estudam em ambientes racistas.

“Falta um entendimento de nomear atos de racismo nas relações pessoais”, diz Márcio Black, coordenador de projetos do Instituto de Referência Negra Peregum, uma das organizações que encomendaram o levantamento. Em um exemplar raciocínio, Black explica que a violência racial é percebida à distância, mas não próxima de cada pessoa. Esse lado social “dificulta avançar na redução das desigualdades”.

CULTURA

Exposição homenageia o “Bruxo”

Mostra machadiana: primeiras edições e suprema austeridade (Crédito:Divulgação)

Está aberta para visitação em Porto Alegre, na Biblioteca Pública do Rio Grande do Sul, a exposição Singular Ocorrência – pelo seu nome já se descobre de imediato a quem ela homenageia: o escritor Machado de Assis (imagem abaixo). É esse também o título de um fenomenal conto de sua autoria abordando o fado e a complexidade da alma humana (Histórias sem data, de 1884), escrito em inigualável estilo de tensão crescente e que já foi classificado pela crítica internacional como integrante do conjunto dos cinquenta melhores contos universais. Na mostra há diversas primeiras edições de obras de Machado de Assis (entre elas: Dom Casmurro, A Semana e Relíquias de Casa Velha), documentos referentes ao trabalho como funcionário público no Ministério da Viação (o salário garantido no emprego dava-lhe paz para criar, assim como ocorreu com tantos poetas consagrados e acontece até hoje com muitos escritores).

(Divulgação)

Mais: há uma revisão da crítica literária do Bruxo do Cosme Velho (estudo de Augusto Meyer, raridade da literatura nacional). A exposição ficará aberta até 26 de agosto.

MEIO AMBIENTE

A Mata Atlântica agradece Lula

Queda no desmatamento: cinco meses de respeito ao verde (Crédito: Karime Xavier)

As motosserras foram escorraçadas do Poder Executivo — o verde e o Brasil esclarecido agradecem. Os primeiros resultados já se fazem notar. De janeiro a maio desse ano, com Lula à frente do País, o desflorestamento da Mata Atlântica sofreu queda de 41,7% se comparado ao mesmo período do ano passado, quando Jair Bolsonaro ainda era presidente. Nos cinco primeiros meses de 2023 perderam-se 7.088 hectares do bioma, bem menos que os 12.166 hectares de 2022. Ainda é muita coisa, mas podemos crer que a preservação evoluirá cada vez mais. Os números são do Sistema de Alertas de Desmatamento (SAD) Mata Atlântica, em trabalho realizado com a parceria da Fundação SOS Mata Atlântica. “É importante destacar que nesse boletim não foi contabilizado o desmatamento de encraves que estão no cerrado e na caatinga”, diz Luís Fernando Guedes Pinto, diretor-executivo da SOS Mata Atlântica. “Sabemos que nessas áreas o desmatamento é alto”. A maior redução de desmate deu-se no Paraná: 54,4%.

HISTÓRIA

Localizados restos do último “navio negreiro” vindo ao Brasil

Pintura de embarcação com escravizados: tráfico proibido em 1852 (Crédito:Divulgação)

A lei Eusébio de Queiroz passou a valer no Brasil em 1850. Proibia o tráfego de escravizados. Se naquela época dava-se preto velho doente para tubarão comer, fácil imaginar que nenhum escravagista respeitaria um pedaço de papel. Assim, apesar da lei, quinhentos africanos foram desembarcados no Brasil em 1852 pelo capitão norte-americano Nathaniel Gordon. Sabendo que estava cometendo crime, afundou o brigue que trouxera os escravizados e a bordo de outro retornou aos EUA. Na semana passada, mergulhadores especializados anunciaram ter localizado restos do que foi afundado no mar, na região de Angra dos Reis. Foi a derradeira embarcação com escravizados a vir ao Brasil.