Comportamento

Navio-prisão divide opiniões

Na Inglaterra, o cerco aos migrantes ilegais causa polêmica com barca gigantesca para confinar solicitantes de asilo

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Bibby Stockholm atracado em Portland: acomodação como opção diante da crise migratória (Crédito: Divulgação)

Por Elba Kriss 

Numa decisão controversa, o Reino Unido vai isolar migrantes ilegais em um navio. A habitação flutuante bartizada de Bibby Stockholm acaba de ancorar em Portland, uma ilha localizada no sudoeste britânico. O gigante ganhou fama de prisão por ter sido projetado para receber 500 homens que entraram ilegalmente em território alheio.

Com três andares e 222 quartos, a embarcação à espera dos primeiros moradores virou alvo de críticas de organizações não governamentais. No campo político, opositores atacam Rishi Sunak, primeiro-ministro, com alegações de que justamente ele é neto de indianos.

“A barcaça estará em operação assim que passar por todas as verificações, o mais rápido possível. Este é um exemplo de como estou fazendo algo diferente que nunca foi tentado antes para ajudar a resolver um problema sério”, anunciou Sunak à imprensa europeia.

O infortúnio: o fluxo de migrantes ilegais que cruzam o Canal da Mancha. Em 2022, 45.755 pessoas fizeram a travessia em pequenos barcos.

De acordo com os números do Home Office Select Committee, o governo gasta aproximadamente R$ 34 milhões por dia em acomodações para requerentes de asilo. Por isso, uma moradia provisória foi a alternativa.

Segundo Sunak, não é um cárcere, pois todos poderão ir e vir pela cidade. Os estrangeiros – apenas homens solteiros – terão:

* sala de ginásio,
* lavanderia,
* sala de orações,
* refeitório,
* serviços que vão da assistência médica ao Wi-Fi por um período de no máximo seis meses.

“Essas pessoas não ficarão nessa plataforma extracontinental eternamente. Ficarão enquanto o processo de asilo delas é julgado. Obviamente, gerarão um custo ao Estado, que terá interesse em definir a situação de cada um o mais cedo possível. Isso é bom”, explica Daniel Toledo, advogado especializado em Direito Internacional.

Contra o racismo, manifestantes criticam solução do governo: “pessoas flutuantes” e “conservadores afundando” (Crédito: Dan Kitwood/Getty Images))

O cerco, no entanto, é motivo de repulsa com entidades humanitárias descrevendo a criação da balsa como regressão civilizatória. Nessa rota, quando aportou em Portland, o transporte marítimo foi recebido com protestos de locais.

“Como poderão sair da embarcação apenas durante o dia, pois há a obrigatoriedade de retorno no período da noite, não será possível que a cidade acolha esse contingente”, cita a socióloga Angélica Larcher, reforçando o que dita a Agência da ONU para Refugiados.

“Segregar esses homens, provavelmente, gerará um estigma difícil de ser desfeito, impedindo-os de integrarem-se na comunidade local e tirando a oportunidade de inserirem-se novamente em uma sociedade segura e pacífica”, prossegue a também coordenadora do Colégio EMECE. “Aprisionar refugiados em pleno século XXI está muito além de ser um retrocesso. É uma violência impensável.”