Comportamento

Um hotel a 400m abaixo do chão

O Deep Sleep foi construído no fundo de uma mina de ardósia abandonada no País de Gales e oferece um pernoite confortável e muita aventura em escaladas e passeios por várias trilhas subterrâneas

Crédito:  Divulgação/ Go Below

Escaladas na rocha e travessia de câmaras em tirolesas são parte do “cardápio de aventuras" (Crédito: Divulgação/ Go Below)

Por Thales de Menezes

Construído dentro de uma mina de ardósia abandonada em Cwmorthin, no Parque Nacional Snowdonia, no País de Gales, o Deep Sleep não é um hotel comum. Está localizado a 420 metros abaixo de uma majestosa montanha, ou, para ser mais exato, 419 metros, como gosta de detalhar a campanha de marketing do estabelecimento. Há pouco mais de dois meses funcionando, propõe uma aventura inigualável. Os hóspedes dormem em cabines de madeira erguidas entre as rochas, numa base que se expande por inúmeras trilhas de cavernas e rios subterrâneos, proporcionando cenários para escaladas e passeios de tirolesa.

Gerenciado pela empresa de atividades ao ar livre Go Below, o hotel subterrâneo está disponível apenas uma noite por semana, aos sábados. Os interessados podem fazer suas reservas online e partir para uma emocionante jornada na noite a partir de uma plataforma próxima à cidade de Blaenau Ffestiniog.

Lá, guias treinados aguardam os aventureiros para conduzi-los à estadia subterrânea. A jornada começa com uma caminhada de aproximadamente 45 minutos pelas montanhas, proporcionando vistas deslumbrantes.

No entanto, chegar ao hotel requer enfrentar uma rota íngreme e desafiadora, incluindo:
* antigos poços da mina,
* escadarias antigas,
* pontes que parecem abandonadas.

A chegada ao Deep Sleep é uma verdadeira conquista que pode levar cerca de uma hora.

Ao chegarem ao hotel subterrâneo, os hóspedes são recebidos com uma bebida quente e uma refeição para prepará-los para uma noite de descanso profundo.

As quatro cabines privadas oferecem camas de solteiro, enquanto um quarto com paredes encravadas na gruta apresenta uma cama de casal.

Apesar da temperatura dentro das cavernas ficar em cerca de 10ºC durante todo o ano, as cabines são espessamente isoladas para proporcionar um ambiente aconchegante e confortável.

Surpreendentemente, os hóspedes têm acesso a comodidades modernas, como água corrente, eletricidade e até mesmo wi-fi, graças a um cabo ethernet de um quilômetro conectado a uma antena 4G na superfície.

Hóspedes percorrem rios subterrâneos em botes (Crédito:Divulgação)

Os aventureiros não precisam se preocupar com falta de ajuda na mina, pois um instrutor e um membro da equipe técnica também passam a noite em suas próprias cabines na câmara do Deep Sleep, prezando por segurança e conforto dos hóspedes durante a estadia.

No dia seguinte, todos acordam às 8h para uma bebida quente e lanches simples. Os passeios subterrâneos são feitos pela manhã, com o retorno à superfície no início da tarde.

Cada hóspede paga 350 libras por esse pernoite, cerca de R$ 2.150. A hospedagem não é permitida a menores de 14 anos. Quem tem menos de 18 anos pode visitar o hotel, mas em companhia dos pais.

Os hóspedes precisam usar o tempo todo equipamentos específicos, como capacetes, lanternas, cintos de segurança e botas especiais que o próprio hotel pode fornecer.

Há chance de escalar paredes rochosas de até 15 metros de altura dentro de câmaras possíveis de serem acessadas no labirinto de trilhas.

Algumas têm tirolesas dispostas de lado a lado, para uma brincadeira radical. Outra aventura à disposição é embarcar em um pequeno bote e percorrer parte dos rios subterrâneos.

No jantar, no sábado, os guias do hotel fazem longas entrevistas com os novos hóspedes para decidir que tipo de atividade é mais recomendável para cada um na manhã seguinte.

“Nunca esquecerei o dia em que o proprietário me perguntou se eu poderia construir cabanas no subsolo”, diz Peredur Hughes, ex-pedreiro e construtor naval. “Mas quando ele falou que ficariam a mais de 400 metros abaixo da superfície, meu queixo caiu.”

Ele desenhou as peças das cabines e cada uma foi embalada e transportada individualmente para o fundo da mina.

Mike Morris, gerente de operações do hotel e um dos guias nas profundezas da rocha, rebate críticas de que a estadia seja muito curta ou que o número de hóspedes seja pequeno.

“Precisamos de um protocolo de segurança muito rígido. Uma mina, seja ativa ou não, é sempre um lugar perigoso. Preferimos trabalhar com visitas curtas, mas com a segurança totalmente controlada.”

Três hóspedes e um dos guias do hotel jantam no sábado, antes do pernoite (Crédito:Divulgação)