O milagre de milhões

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Rachel Sheherazade: "Até agora, o milagre financeiro que enriqueceu os Bolsonaro nem Deus explica" (Crédito: Divulgação)

Por Rachel Sheherazade

Para surpresa de “zero pessoas”, o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) identificou movimentações suspeitas na conta do ex-presidente Jair Bolsonaro.

De acordo com o órgão, ele teria recebido um total de R$ 17,2 milhões em depósitos somente nos últimos seis meses desse ano.

As transferências que mais chamaram a atenção foram feitas por empresários, agentes do agronegócio, militares, advogados e estudantes que depositaram valores entre R$ 5 mil e R$ 20 mil.

Há quem acredite em filantropia, empatia desinteressada sem o mister de qualquer retribuição… O puro suco do humanismo, o famoso “fazer o bem sem olhar a quem”.

Mas, há quem suspeite de irregularidades.

A bem da verdade, a família Bolsonaro, que se elegeu exaltando valores cristãos como a honestidade e a humildade, passa ao largo de uma vida franciscana.

Desde que passaram a viver de política, os Bolsonaro têm aumentado exponencialmente seu patrimônio.

Quanto mais pródigos tanto mais suspeitos de enriquecimento ilícito.

Pai, filhos, mulher e ex-mulheres têm colecionado uma miríade de denúncias e investigações que envolvem fraude, peculato, desvio de verbas públicas, associação criminosa e lavagem de dinheiro.

A família Bolsonaro, que se elegeu exaltando valores cristãos, passa ao largo de uma vida franciscana

Até agora, o milagre financeiro que enriqueceu os Bolsonaro nem Deus explica. Permanecem irrevelados, por exemplo, os mistérios da multiplicação de imóveis e a loja de chocolates que transformava depósitos suspeitos em lucro.

Enquanto brincou de Deus na Presidência da República, o patriarca protegeu o quanto pode os seus, usando o aparato do Estado para atrapalhar investigações, suspender processos, perseguir e calar adversários políticos.

Quem não se lembra do desmonte do Coaf e da Lava Jato, das ameaças ao ex-ministro da Justiça Sérgio Moro, da interferência na Polícia Federal e da lista proibida com nomes de jornalistas e desafetos do Capitão?

Agora, sem foro privilegiado e sem um PGR para chamar de seu, o “Inelegível” está mais vulnerável do que nunca a investigações e processos judiciais que a cada dia chegam mais perto da verdade.

Para a chuva de R$ 17 milhões que caiu na conta do Messias, a defesa já tem um álibi: a vaquinha virtual para quitar dívidas com a Justiça em São Paulo que somam mais de um milhão de reais.

Mas, e os outros R$ 16 milhões? Como justificar?

A arrecadação de dinheiro só começou em 23 de junho. E o que foi transferido para o Messias antes dessa data? Qual era a finalidade das “doações”? Quem é o santo autor de mais esse milagre?