A Semana

A ultradireita escreverá a nova Constituição do Chile

Crédito: JAVIER TORRES

PERIGO Conservadores contumazes e a derrota da esquerda: Gabriel Boric é mera ilusão (Crédito: JAVIER TORRES)

Não sem motivação histórica, no final da semana passada a apatia marcou a eleição dos 50 conselheiros que redigirão a nova Constituição do Chile — das urnas saiu a vitória da extrema direita, capitaneada por José Antônio Kast. Trata-se, portanto, de estrondosa derrota do presidente esquerdista Gabriel Boric. Prevaleceu a vontade de gerações mais velhas e conservadoras. A Constituição que ainda vigora é a de 1980, imposta em meio ao sangue que escorria dos corpos de democratas mortos porque se opunham à ditadura do general Augusto Pinochet. O desânimo dos chilenos é compreensível e não significa que a maioria deles quer o retorno dos militares. Simplesmente, os cidadãos cansaram. Embora a Carta, em essência, seja a mesma da dos anos de chumbo, ela já passou por 60 emendas. Para se ter idéia do fracasso de tentativas anteriores de alterá-la na raiz, em 2021 foi eleita uma comissão de 155 representantes. Um deles votou enquanto tomava banho e seus colegas tiveram de lhe pedir a finesse de desligar a câmara que o exibia nu. O desalento chegou à juventude. O andar para frente que se esperava com Boric é ilusão.

O MENTOR Kast: ensinando a prática da antidemocracia (Crédito:JAVIER TORRES)

LITERATURA

O Brasil ganha uma excelente cronista 

Está nas livrarias e nos canais digitais a obra de estreia na literatura da advogada Clarisse Escorel. Chama Depois da Chuva. O livro tem excelente texto e fina sensibilidade. É o caso daquilo que certo dia se decide colocar no papel ou na tela do computador, mas que há tempo se traz escrito na alma – e muito bem escrito. Em um País que teve cronistas de primeira linha como Machado de Assis, Barão de Itararé, João do Rio, Rubem Braga, Paulo Mendes Campos e Antonio Maria, entre outros, é nesse gênero que Clarisse escreve com maturidade e perfeito domínio de estilo — a tessitura da emoção com o tom confessional faz-se impecável: as crônicas de Clarisse têm som. Sobre Depois da Chuva (Editora Ouro sobre Azul) escreveu Ana Maria Machado: “Com o leitor fica sempre a impressão de que ele está sendo bem tratado por Clarisse Escorel”. À ISTOÉ, Clarisse disse: “A crônica não é um gênero menor. Ela parte de coisas pequenas, mas para se aprofundar em temas complexos. É assim que olho a vida”.

ESTREIA Clarisse Escorel: palavras dispostas como notas musicais em partitura (Crédito:Divulgação)

INFLAÇÃO
A panaceia da nota de 2 mil pesos

Após o vaivém de acirrados debates que remontam ao início do ano, o governo da Argentina finalmente cedeu às pressões de diversos setores da economia do país e decidiu-se por emitir dinheiro com a nova cédula de 2 mil pesos – atualmente a de maior valor é a de 1 mil. Tenta assim mitigar os efeitos da inflação que superou os 100% nos últimos 12 meses, a segunda maior da América Latina (em primeiro lugar está o caos venezuelano). Procura-se um resultado mais moral que prático, uma vez que, por exemplo, custando como custa 940 pesos um capuccino pequeno, 2 mil dá para duas xícaras e nada mais. No mês passado a cesta básica estava na casa dos 190 mil pesos, tal o galope inflacionário. As novas cédulas, que entrarão em circulação em data ainda a ser definida, trazem a estampa de
dois pioneiros da ciência na Argentina: os médicos Ramón Carrillo e Cecilia Grierson.

CRISE Banco Central da Argentina: tentativa de mitigar os efeitos de uma inflação que ultrapassou 100% em 12 meses (Crédito:RICARDO CEPPI)

INVESTIGAÇÃO
MP quer imagens de agressão em loja da rede Carrefour

Na quarta-feira 10, o Ministério Público da Bahia deu prazo de cinco dias úteis para que o grupo Carrefour mostre imagens das câmeras de segurança do supermercado Big Bompreço, localizado no bairro de São Cristovão, em Salvador. Nesse estabelecimento um casal de negros, identificados por Jeremias e Jamile, foi agredido de forma física e verbal por supostamente ter furtado leite em pó. A Promotoria de Justiça de Direitos Humanos investiga se houve crime de racismo. O Carrefour, em nota, declarou que coopera com as autoridades e que entregou as imagens à Polícia Civil.

HOSTILIDADE Jamile foi atingida no rosto: apuração de crime de racismo (Crédito:Divulgação)