Economia

Crédito de carbono: como empresas brasileiras lucram com a sustentabilidade

Ao impulsionar projetos de reflorestamento, empresas brasileiras contribuem para a preservação ambiental e obtêm ganhos com os créditos de carbono negociáveis internacionalmente

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Plantação de eucalipto na reserva de 148 milhões de m² da Melhoramentos, em Camanducaia – Sul de Minas Gerais (Crédito: Divulgação)

Por Mirela Luiz

No cenário atual, em que a preservação do meio ambiente é uma prioridade global, as empresas brasileiras estão se mostrando pioneiras ao investir no reflorestamento e aproveitar as oportunidades do mercado de crédito de carbono, uma modalidade de negócios com grande valor internacional. Estudo recente da consultoria McKinsey revelou que esse mercado tem o potencial de movimentar impressionantes US$ 50 bilhões até 2030 em todo o mundo e o Brasil pode concentrar cerca de 15% desse montante.

Em busca de ocupar esse novo mercado, organizações empresariais brasileiras como o Grupo Melhoramentos, Reservas Votorantim e a re.green, empresa de restauração florestal, estão investindo pesado na recuperação de áreas degradadas e no plantio de árvores, não somente para aumentar a cobertura florestal, mas também para obter créditos de carbono.

“Se antes o reflorestamento era considerado apenas como uma ação sustentável e responsável no planeta, hoje além de contribuir para a regeneração de florestas, impactando positivamente o clima, abre-se novas possibilidades de rentabilidade”, explica Karin Neves, Diretora Jurídica, de Sustentabilidade e Pessoas da Melhoramentos.

A re.green, por exemplo, anunciou que vai restaurar 20 mil hectares em terras degradadas, com investimentos de R$ 600 milhões.

Esse mercado tornou-se uma realidade como parte das negociações do Acordo de Paris, no qual o Brasil se comprometeu a restaurar 12 milhões de hectares de florestas com pastagens e sistemas agrícolas sustentáveis, trazendo benefícios ambientais importantes.

E para cumprir essa meta, o País precisa construir uma cadeia completa de reflorestamento, que inclui:

* investimentos em pesquisa,
* inovação e profissionalização para contemplar desde a identificação de matrizes produtoras de sementes nas florestas,
* desenvolvimento de viveiros,
* formalização das modernas práticas trabalhistas no campo.

“O reflorestamento é uma estratégia importantíssima para atingirmos a redução de 1,5ºC nas temperaturas para neutralizar as emissões anuais de gases do efeito estufa, porque vamos precisar remover carbono da atmosfera e isso aquece essa agenda”, explica Guarany Osório, coordenador do Programa Política e Economia Ambiental do Centro de Estudos em Sustentabilidade da FGV EAESP.

Centros de Biodiversidades Legado Verdes do Cerrado da Reservas Votorantim, Niquelândia-Goiás (Crédito:Divulgação)

O reflorestamento não apenas contribui para a preservação do meio ambiente, mas também se tornou uma excelente oportunidade de negócios no País.

No mercado voluntário de carbono, em que créditos são adquiridos por empresas que desejam compensar ou reduzir suas emissões de gases do efeito estufa, cumprindo, assim, suas metas de sustentabilidade, os créditos associados à proteção de florestas e restauração florestal já representam 40% desse segmento.

Os mercados regulados de carbono, por sua vez, apresentam uma grande oportunidade para proteção de florestas, mas ainda carecem de uma maior padronização de regras e mecanismos para a certificação de créditos advindos de florestas.

Política pública

Com o objetivo de promover ainda mais essa iniciativa, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, anunciou que o governo pretende encaminhar ao Congresso, em agosto, a sua proposta de regulamentação desse promissor mercado.

Segundo ela, tal regulamentação busca incentivar e fortalecer as atividades relacionadas ao reflorestamento, além de promover a transparência e a confiabilidade do mercado de crédito de carbono.

“Ao instituir um custo e um limite para essas emissões, o mercado regulado é, sem dúvida, um passo importante para que o Brasil efetivamente avance no atingimento de suas metas de redução de gases de efeito estufa.”
Mariana Barbosa, Diretora Jurídica e de Relações Institucionais da re.green.

Essa regulamentação, segundo especialistas, busca incentivar e fortalecer as atividades relacionadas ao reflorestamento, além de promover a transparência e a confiabilidade do mercado de crédito de carbono.

“É importante que qualquer que seja o sistema de registro a ser estabelecido haja o reconhecimento de padrões internacionais já existentes, gerando mais integridade, mas sem adicionar camadas burocráticas excessivas”, completa Barbosa.

Grande potencial

De acordo com a Verra, entidade que registra a maior parte dos créditos de carbono transacionados no mercado voluntário no mundo, o Brasil certifica e vende 20 milhões de créditos de carbono de conservação (desmatamento florestal evitado) ao ano, com potencial de aumentar em 75 vezes esse montante.

Considerando o preço atual de um crédito de carbono no valor US$ 10 dólares, o alcance é de US$ 15 bilhões ao ano, de acordo com as projeções da consultoria McKinsey. Isso significa 1% de crescimento anual extra para o PIB brasileiro.

O mercado de crédito de carbono vem se expandindo rapidamente nos últimos anos, impulsionado pela necessidade de reduzir as emissões globais de gases do efeito estufa.

No caso do Brasil, o País possui uma vasta área florestal e é responsável por abrigar a maior floresta tropical do mundo, a Amazônia. Além disso, nos últimos três anos a restauração tem avançado e gerado novos negócios, impulsionados em grande parte pelas agendas ambientais nacionais e pelo avanço dos acordos globais, incorporados por empresas brasileiras em seus objetivos e metas.

De acordo com a Reservas Votorantim, houve um aumento significativo de empresas procurando por projetos de restauração, tanto para iniciativas voluntárias, não exigidas por lei, quanto para a adequação à legislação.

Ao transformar o reflorestamento em um empreendimento de sucesso, as empresas brasileiras estão simultaneamente contribuindo para a economia e protegendo o meio ambiente para as futuras gerações.