A guerra dos mundos
Por Mentor Neto
Os dois homens mais poderosos do mundo estão em guerra. Não. Não se trata de Biden versus Putin. Quem dera.
Foi-se o tempo em que os líderes das duas maiores potências nucleares do planeta eram também os mais poderosos seres humanos sobre a Terra.
Hoje os dois coitados podem no máximo destruir o planeta. Grandes coisas. Qualquer morcego numa feira da China poderia fazer o mesmo. Os dois poderosos a que me refiro podem muito mais do que isso. Um deles pode destruir não apenas a Terra, mas Marte também, acabando com nossas ambições interplanetárias. Basta querer. Dinheiro e tecnologia para tanto ele tem de sobra.
O outro pode acabar de vez com nossas redes sociais mais amadas, tornando inúteis horas e horas de nossas vidas. O que faremos sem nossas linhas do tempo, já pensou? Que desastre seria perder todas as fotos de almoços, gatinhos e churrascos que já postamos, Deus nos livre e guarde.
Muito pior do que uma catástrofe nuclear, não resta a menor dúvida, seria um blackout na internet das redes, óbvio.
Mas o risco está aí, na frente de nossos narizes colados em nossas telas. Os dois homens mais poderosos do planeta estão em guerra. Elon Musk e Mark Zuckerberg pretendem se enfrentar numa batalha real, corpo a corpo.
Não é brincadeira. Musk, alias, foi mais longe. Além do desafio de um tete-à-tete no ringue, também chamou Zuckerberg para uma disputa de tamanho dos genitais. Parece absurdo e, confesso, quando li a notícia achei que fosse piada de mau gosto.
Não era. Está lá, escrito pelo senhor do Twitter. Sinal dos tempos. Quem poderia imaginar John Kennedy, em meio à crise dos 13 dias em Cuba, chamando Nikita Kruschev para resolver a questão medindo o tamanho de suas anatomias íntimas?
Cada geração tem os poderosos que merece. E o mundo é outro, sem sombra de dúvida. Evidente que esses desafios de Elon Musk à Mark Zuckerberg são fanfarronices de dois meninos ricos e mimados, brincando aos olhos do público, tão certos que estão de que podem tudo.
Nós, a maioria esmagadora de seres humanos normais, somos massa de manobra da diversão entre os dois. Diversão que só deixará ambos ainda mais podres de ricos. Para nós, o resultado dos dois duelos não tem qualquer importância. A mídia divulga e o leitor consome essas bobagens com o gosto de testemunhar a nova aventura dos Imperadores e pronto.
Em nossos celulares e computadores bate mais uma notificação. É uma foto de Mark Zuckerberg sem camisa, com seu abdômen sarado por intenso treinamento. Descobrimos que, apesar de nerd, é faixa preta em alguma arte marcial.
Outra notificação. É mais uma manchete de um grande jornal tratando de outra bobagem divulgada por Elon Musk.
Ocorre que além da anedótica guerra dos dois bilionários, é claro, existe uma camada real, muito mais importante.
Os produtos de cada um deles também estão em guerra. O Twitter de Musk, versus o concorrente que acaba de sair do forno de Zuckerberg: o Threads.
Duas ferramentas siamesas. Uma cópia da outra como não poderia deixar de ser, pois afinal não existe nenhuma diferença no que acreditam os dois poderosos. Disfarçados de defensores de democracia, o dois ceifaram o sonho das redes sociais, que se esvaiu ao longo das linhas do tempo.
De social as redes têm cada vez menos. O que era para ser – e foi no início – um inédito elo de ligação humana sem a mediação das grandes corporações, perdeu o idílico. Hoje são apenas mais um canal de divulgação de publicidade. A propaganda venceu.
Seja achatando a discussão a uma guerra de mentira entre Musk e Zuckerberg, seja transformando seus produtos num fio infinito de anúncios disfarçados de conteúdo. Perdemos todos e agora resta aguardar o resultado nos ringues, que terminará com os dois se abraçando como velhos amigos que são.