Blazer eterno, mas renovado
De símbolo de poder à vestimenta irreverente. Casaco inglês que se popularizou entre as mulheres com Chanel segue atemporal, mas conectado ao espírito do tempo, ganhando cores e combinações criativas por onde passa
Nas ruas, escritórios, festas ou passarelas. Com calça correspondente ou desparceirado. Feito de tecidos convencionais ou menos esperados. Coloridos, estampados ou mais sóbrios. Seja qual for sua variação, o blazer vem se adequando às mudanças do tempo por sua versatilidade e seus significados. Nas últimas semanas de moda e nas grandiosas celebrações da arte e do cinema, a peça compôs desde trajes minimalistas até os mais conectados à chamada moda viral – algo pouco provável de se imaginar quando surgiu na Inglaterra do século XIX para atender a população trabalhadora e majoritariamente masculina.
Foi nas peças de John Redfern, britânico criador do tailleur, que a agitadora Coco Chanel se inspirou para criar seus primeiros modelos e disseminá-los entre as mulheres na década de 1930. “A Chanel foi responsável pela introdução de itens utilitários no vestuário feminino”, diz o estilista e professor da FAAP Lorenzo Merlino. Com a francesa, o casaco ganhou outros cortes e estampas, enquanto a mulher também foi ocupando novo lugar na sociedade. “Vamos nos transformando e a moda vai evoluindo frente aos sinais do tempo. Na década de 1960, o blazer estava inserido no dia a dia da mulher, mas não de forma massificada. É uma peça que ainda tinha alguma resistência, porque nem todas estavam nesse lugar de total liberdade”, comenta Andreia Meneguete, professora do Hub de Moda e Luxo da ESPM.
É a partir de 1990, com base no conceito de “supermercado de estilos”, que o indivíduo se vê mais livre para ditar as próprias regras e o blazer também adquire outras conotações. “Tanto a mulher quanto o homem passam a usá-lo como querem. Steve Jobs não precisa mais estar com a peça para mostrar poder, que não está só sendo significado na vestimenta ou na imagem. As pessoas começam a ser estilistas de si mesmas e as grifes, a não ter só uma identidade”, fala Andreia.
Nova linguagem
“Mesmo quando incorpora a permissão que temos no contemporâneo, interpreta-se a uniformidade de cor e material para as duas peças como o que há de mais elegante”, esclarece Lorenzo. Os tapetes da fama não deixam mentir. O rapper Bad Bunny usou um conjunto bordado e branco no Met Gala, Bruna Marquezine desfilou de veludo azul em Hollywood, na estreia de seu próximo filme, e a atriz Kristen Stewart abusou do blazer com short na cerimônia do Oscar. Ainda assim, o broken suit, que é quando as partes de baixo e de cima são diferentes, é bastante comum. Até grandes amantes do casaco, como George Clooney, são adeptos de associá-lo ao jeans, por exemplo. “A liberdade de combinações veio para ficar: é uma macrotendência. Daqui a dez, vinte anos, ela estará ainda mais intensa do que hoje, mas é lógico que existem momentos sazonais”, comenta Lorenzo. As versões oversized, mais largas, o rosa pink de Valentino e as ombreiras, por exemplo, não são eternos em uma moda cíclica. “O blazer é uma peça que não vai sair do guarda-roupa, mas que sempre vai estar contando novas histórias. O signo muda conforme interage com o tempo”, fala Andreia. Ela lembra que a peça ainda é símbolo de poder, inclusive da mulher nos espaços ditos masculinos: “O blazer sempre vai flutuar dentro desse significado, mas ele se movimenta dentro de um contexto social, por isso a peça está sendo sempre desconstruída”.
Não é só na modelagem que as roupas se conectam com os tempos atuais. Uma das linhas da marca brasileira UMA usa a fibra sustentável Naia™, feita com polpa de madeira e insumos de resíduos reciclados, no lugar do tradicional acetato. “Trazer uma matéria-prima de alta qualidade e sustentável faz com que o produto tenha uma proposta responsável, que é o que o consumidor atual procura. Em termos de modelagem, não há grandes alterações, pois o comportamento dos tecidos é igual”, explica a fundadora e estilista, Raquel Davidowicz. A busca atual pelo minimalismo também contribui para o novo momento da peça. “O blazer está sendo uma resposta mais segura e confortável para se viver algo que não precisa transitar tanto entre modas e fashionismos”, acrescenta Andreia.