Queijo artesanal de Minas ganha título de patrimônio mundial da Unesco
A qualidade e o valor do produto brasileiro são reconhecidos no mundo com medalhas, premiações em concursos importantes, boas colocações em rankings e o título de patrimônio imaterial da humanidade conferido pela Unesco aos artesanais mineiros
Por Viviane Monteiro
O ano de 2024 teve sabor de consagração para o queijo brasileiro. Após várias premiações em concursos pelo mundo, incluindo medalhas nas “copas do mundo” realizadas na França, o queijo artesanal mineiro recebeu o inédito título de patrimônio mundial da Unesco, braço para educação, ciência e cultura da Organização das Nações Unidas (ONU). É a primeira vez que um alimento brasileiro entra na seleta lista de patrimônio cultural imaterial da humanidade. Mas o sucesso não se restringe ao produto mineiro. A inovação dos produtores do País também está em alta. Antes de ser colocado para comercialização, um queijo produzido no laboratório do Parque Tecnológico do Oeste do Paraná (Biopark) apareceu em nono lugar entre os melhores de um ranking global na categoria super ouro.
Bem no ranking
Batizado de Passionata, o queijo, que os pesquisadores chamam de “bebezinho do laboratório”, recebeu o título de melhor da América Latina no concurso World Cheese Awards, em Portugal, em novembro passado. Outros queijos do grupo conquistaram títulos internamente. Com leve toque de maracujá, o queijo Passionata precisa de 40 dias de maturação. Para o pesquisador do laboratório do Biopark, Kennidy Bortoli, o Passionata possui “contornos de obra de arte”, pelo visual, sabor e textura. “O sabor foi desenvolvido para provocar confusão na sua mente. Quando você o consome sente o gosto do queijo e, ao engolir, um cheiro maravilhoso de maracujá”, destaca.
O Passionata deverá começar a ser produzido em escala comercial em maio pela Queijaria Flor da Terra, do Biopark Educação, e será distribuído nacionalmente, garante a gerente de Marketing e Comercial do grupo, Luiza Donaduzzi. Segundo Bortoli, a produção iniciará com 500 litros de leite para 40 a 45 quilos de queijo por dia. O preço ainda não está definido.
O mercado de Queijo Minas Artesanal (QMA), que movimenta mais de R$ 2 bilhões ao ano e reúne nove mil pequenos produtores familiares, aposta no crescimento da produção a partir do título internacional da Unesco. Hoje, juntos, produzem em torno de 40 mil toneladas de queijo de leite cru integral todo ano e geram 50 mil empregos. Incluindo o mercado informal, a atividade reúne 30 mil famílias.
Existem em Minas dez microrregiões produtoras do QMA.
● Três possuem indicação geográfica reconhecida e protegida pelo Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI): Serro, Serra da Canastra e Cerrado Mineiro.
● O selo confere boas práticas de produção, requisitos sanitários adequados e rastreabilidade, fatores consideráveis em relação a queijos sem rótulos e procedência, conforme ressalta o fundador da consultoria Só Queijo Cura, Eduardo Girão.
● O queijo com selo chega a R$ 180 a peça de um quilo, enquanto os sem rótulo ficam entre R$ 40 e R$ 50. “São valorizados porque investiram na qualidade, conquistaram medalhas na França na categoria super ouro e passam por controle de qualidade.”
● Segundo ele, muitas produções de QM Asão equivalentes a finos exemplares, como gorgonzola e parmesão, excelentes para harmonizações com cerveja e vinho.
Na avaliação de Igor Freitas, gerente executivo da Associação dos Produtores de Queijo Canastra (Aprocan), a premiação da Unesco colabora na preservação do modo de produção. “Famílias deixam de produzir por inviabilidade financeira. A nomeação reforça que o bem não desapareça.”
Para o presidente da Associação Mineira do Queijo Artesanal (Amiqueijo), José Ricardo Ozólio, a conquista vai aumentar o poder de barganha dos produtores. “Seremos mais ouvidos e atendidos”. Ainda há mercado a desbravar. O brasileiro consome 5,6 quilos de queijo ao ano em média. O francês, 14 quilos.
Ewerton Almeida, presidente da Associação de Produtores de Queijo de Diamantina (Aprodia), vê espaço para exportar. “O reconhecimento mundial fará com que o modo de fazer fique conhecido e isso aumentará a procura”, diz ele, que representou os produtores e a Amiqueijo na cerimônia da Unesco. O queijo brasileiro está quente — mas é uma delícia de qualquer jeito.