Economia

Carros: Brasil pisa fundo e é um dos mercados que mais cresceram em 2024

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Linhas de montagem em fábricas do País: indústria acompanha aquecimento das vendas (Crédito: Divulgação)

Por Melina Guterres

RESUMO

● Após um período de dificuldades, produção interna de veículos cresce 9,7% em 2024
● Foram 2,55 milhões de unidades
● País recupera posição entre os primeiros no ranking global de países fabricantes

A indústria automobilística brasileira voltou a pisar no acelerador. Após um período de dificuldades, teve desempenho expressivo em 2024, consolidando-se como um dos mercados que mais cresceram no mundo. De acordo com levantamento da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (ANFAVEA), a produção nacional alcançou 2,55 milhões de veículos, um aumento de 9,7% em relação a 2023. Com isso, o Brasil retomou da Espanha a oitava posição no ranking global.

Os emplacamentos também refletiram o crescimento, totalizando 2,635 milhões de unidades, um aumento de 14,1% em comparação com o ano anterior. O avanço superou significativamente a média global da atividade, que foi de apenas 2%.

Nenhum grande mercado mundial registrou um crescimento tão expressivo quanto o brasileiro, alcançando o maior aumento no ritmo de vendas internas desde 2007. O volume total de vendas, somando novos e usados, chegou a 14,4 milhões de veículos leves, o maior da história do País.

“Há claramente uma demanda reprimida por transporte individual, que vem sendo atendida de forma crescente graças às melhores condições de crédito”, destaca o presidente da ANFAVEA, Márcio de Lima Leite. “Se essas condições melhorarem e houver uma política de renovação de frota, mais pessoas poderão optar por veículos zero quilômetro”, destacou o presidente da ANFAVEA, Márcio de Lima Leite. Em 2024 as concessões de crédito para financiamento de veículos novos e usados cresceram 36%, representando 45% do total de vendas do setor. Esse fator foi determinante para impulsionar o crescimento do mercado.

A produção nacional alcançou 2,55 milhões de veículos, um aumento de 9,7% em relação a 2023. Com isso, o Brasil retomou da Espanha a oitava posição no ranking global* (Crédito:Divulgação)

● As exportações, apesar do fraco desempenho no primeiro semestre, recuperaram-se na segunda metade do ano, fechando praticamente no mesmo patamar de 2023, com 398,5 mil veículos enviados ao exterior. Argentina e Uruguai se destacaram, compensando as quedas registradas nos demais países da América Latina.
●As importações também tiveram o melhor desempenho da década, totalizando 466,5 mil unidades, alta de 33%, impulsionada pela entrada de veículos eletrificados, principalmente da China.

“Neste ano precisaremos voltar a equilibrar os volumes de exportações e importações para evitar novo déficit na balança comercial, como ocorreu em 2024”, alertou Leite.

No Rio Grande do Sul, o setor automobilístico enfrentou desafios adicionais. “O mercado passou por um período muito difícil por causa da enchente devastadora, que praticamente paralisou as vendas de veículos novos por 60 a 90 dias. A esperança estava em uma boa safra, mas agora enfrentamos também uma estiagem severa”, afirmou Carlos Costabeber, empresário e diretor da Ford Superauto de Santa Maria, na região central do estado. Apesar das adversidades, algumas marcas, como a Ford, conseguiram manter bons resultados, especialmente com a picape Ranger, altamente competitiva no mercado local por causa do agronegócio na região.

Resiliência

Murilo Cesar Perin Briganti, sócio-diretor de operações da consultoria Bright, destacou a importância do crescimento de 9,7% para a economia brasileira. “Ele reflete resiliência e capacidade de adaptação da indústria, ajudando a mitigar impactos econômicos adversos e gerando empregos”, afirmou.

Para que o Brasil se aproxime da escala de produção de países como China e EUA, Briganti aponta alguns desafios estruturais, tais como:
redução do Custo Brasil, incluindo logística e carga tributária;
● maior acesso ao crédito, mesmo em cenários de juros altos;
● investimento em inovação e sustentabilidade;
● maior previsibilidade regulatória para atrair investidores,
● e a expansão das exportações e inserção do Brasil em cadeias produtivas globais.

O futuro da indústria automobilística brasileira passa também pela transição energética e por novos modelos de mobilidade, como o crescimento do mercado de assinaturas de veículos e fintechs especializadas em financiamento. Com políticas públicas adequadas e investimentos em tecnologia, o setor pode continuar sua trajetória de crescimento e consolidar o Brasil como um dos principais produtores mundiais de veículos.