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Viver e (quase) morrer em Los Angeles

Incêndios devastam a Califórnia desde o dia 7 e chamas se alastraram por Los Angeles. Na primeira semana, 16 mil hectares foram queimados. Ventos de até 110km/h pioram a situação

Crédito: ETIENNE LAURENT

Mudanças do clima, como ausência de chuva, acentuam tragédia (Crédito: ETIENNE LAURENT)

Por David Charles Rodrigues*

‘Vivo em Los Angeles há 15 anos, amo a cidade. É a cidade de tudo e de todos. Mas também é a cidade dos desastres. Eu passei por inúmeros terremotos, incêndios, covid, La La Land quase roubando o Oscar e várias outras tragédias. No entanto, nada se compara ao que todos nós passamos nesta semana. Felizmente, estou numa área mais segura, mas dezenas de amigos perderam tudo o que tinham em algumas horas. A tristeza é descomunal. Não tem sensação mais estranha do que você ter que fazer coisas do dia a dia, enquanto logo ali, do outro lado da estrada, estão bairros completamente destruídos pelo fogo e milhares de pessoas e animais desabrigados.

Não vou entrar em detalhes do que se passou. Isso os jornais e as mídias sociais estão fazendo. Eles são tão sensacionalistas e alarmistas que até o meu pai, em Belo Horizonte, me liga apavorado toda vez que assiste à CNN. Nesses momentos, overdose de mídia faz mais mal do que bem.

Então, ao invés de uma transmissão de fatos, prefiro transmitir o que vem me passando pela minha cabeça. Porque momentos assim são de intensa reflexão. Sem ela, não aprendemos nada com o desastre e aí tudo é em vão mesmo.

Das cinzas e das nuvens de fumaça rondando a cidade surgiu algo impressionante. Uma cidade inteira que se uniu para ajudar as pessoas diretamente afetadas com as queimadas.

Esse senso de comunidade é a única coisa que vai nos salvar nesses momentos de clima extremo que o mundo inteiro vive. Será que o mundo acabando é o que vai finalmente nos unir? Seria bem irônico, mas talvez seja onde estamos indo parar. Será que esse momento pode nos ensinar como viver em comunidade, nos mostrar o que somos capazes de fazer juntos, de mudar, de instigar uma cidade inteira a ajudar outras pessoas, a sermos mais humanos?

Será que podemos começar a formar mutirões de prevenção a desastres? Forças locais para eleger quem irá implementar medidas extremas de conservação? Porque os acordos, como o de Paris, só servem para o político posar na foto.

O governador da Califórnia, Gavin Newsom, é acusado de incompetência por Trump

As mudanças têm que começar pelos meios locais e servem para todas as cidades. Como muita gente pede mudança e ninguém sugere o que fazer, pensei em cinco sugestões para prevenir que a sua cidade sofra o inferno na terra que estamos vivendo em Los Angeles. Elas vêm de conversas com engenheiros especialistas em construções anti-queimada, urbanistas que lutam por cidades mais equilibradas ecologicamente e do filme Bring Your Own Brigade, da documentarista Lucy Walker, que propõe muitas soluções pragmáticas para ajudar. Veja-as no box.”

*David Charles Rodrigues é diretor e roteirista premiado. Dirigiu Neymar: O Caos Perfeito, Gay Chorus Deep South e S/He Is Still Her/e – O Documentário Oficial de Genesis P-Orridge.

Como proteger cidades do caos climático

1.
Selo Anti-Queimada
Vamos convidar especialistas para criar uma lista detalhada que as construtoras têm que seguir para ganhar o selo “anti-queimada”.

2.
Eleger candidatos via Go Fund Me
Vamos criar nosso próprio lobby comunitário para eleger candidatos que vão ajudar a tornar essa pauta oficial.

3.
Prevenção e educação se tornar cultura popular
O governo da Califórnia realizar um acordo com todos os streamers e os maiores showrunners de Hollywood para eles criarem programação focado em prevenção e educação.

4.
Criar um fundo para prevenção de desastres climáticos
Temos que ter um fundo federal, estadual e local focado na prevenção, baseados na possível perda que uma cidade possa ter.

5.
Estabelecer grupo autônomo de cientistas e especialistas para supervisionar os projetos

É importante criar um órgão autônomo que foque apenas em mudanças climáticas e prevenção de desastres causadas por climas extremos. E temos que tratar essas pessoas como se fossem a seleção brasileira de 70.